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VAZA VÍDEO

EXCLUSIVO - Corregedor pressiona servidora do MPSP em videoconferência; ela já pensou em suicídio

Servidora demonstra constrangimento ao ser interrogada de surpresa sobre assédio sexual que sofreu no ambiente de trabalho

Servidora demonstra constrangimento ao ser interrogada de surpresa sobre assédio sexual que sofreu no ambiente de trabalho - Imagem: arquivo pessoal
Servidora demonstra constrangimento ao ser interrogada de surpresa sobre assédio sexual que sofreu no ambiente de trabalho - Imagem: arquivo pessoal

Jair Viana Publicado em 30/06/2023, às 17h59


O vídeo de uma vídeoconferência entre o corregedor geral do Ministério Público de São Paulo, seu chefe de gabinete e duas promotoras de justiça, também da Corregedoria, ilustra história de servidores assediados moral e sexualmente no MPSP, onde três servidores tiraram a própria vida.

Através de uma fonte da Corregedoria, o Diário de S.Paulo teve acesso ao vídeo onde o Corregedor interroga a auxiliar de promotoria, Thaíssa, e pressiona para que a servidora dê os nomes de duas promotoras que ao saberem do caso de abuso sexual sofrido por ela no ambiente de trabalho, teriam dito a ela para ,"deixar prá lá". Thaíssia Vieira não foi avisada com antecedência sobre a reunião com o corregedor.

Em nenhum momento, Motauri pergunta à servidora sobre o agressor, o servidor que a assediou. O corregedor foca apenas nas promotoras que não deram importância à reclamação de Thaíssa.

Durante a vídeoconferência, a servidora deixa claro que diante de tudo que já sofreu, não confia nem na Corregedoria Geral do órgão. Ela fala olhando para o corregedor Motauri Ciocchetti Souza: "Eu não confio".

Visivelmente constrangida, Thaíssa deixa claro para o corregedor que ainda teme falar sobre o que viveu. Motauri Ciocchetti insiste para que ela revele nomes, mas a servidora mantêm segredo sobre os envolvidos. Em entrevista ao portal Metrópoles, Thaíssa revelou que pensou até em suicídio, após sofrer o assédio sexual e não conseguir apoio.

Motauri argumenta que a Corregedoria dará segurança e proteção caso ele "entregue" os nomes. Mais uma vez a servidora afirma categoricamente: "Eu não confio".

Numa última tentativa de saber os nomes para poder apurar e adotar medidas, o corregedor propõe deixar a servidora apenas com as duas promotoras que estão na reunião virtual para que ela se sinta mais segura e com liberdade. Ele recusa a proposta.

Histórico

Thaíssa trabalha no Ministério Público de São Paulo há sete anos. Ela é oficial de promotoria. Ela sofreu assédio sexual, os detalhes não são ditos na reunião virtual, e alega não ter tido apoio de duas promotoras a quem recorreu à época. Procurada pela reportagem, Thaíssa se recusou a dar declarações sobre o que sofreu. Com a insistência para que falasse, a servidora resistiu e desligou o telefone.

Segundo o próprio corregedor, uma das abordagens feitas à servidora questionada, foi o agressor dizer que ela tinha "beleza de periferia". O tratamento dado à ela foi, além do assédio sexual, misoginia.

Socorro

O medo, o pavor e a depressão, são ingredientes de uma "bomba" instalada no Ministério Público de São Paulo, que em um ano já explodiu levando três funcionários da instituição ao suicídio, dada a pressão de promotores, promotoras, procuradores e procuradoras e até servidores que ocupam cargos de chefia.

O clima é de velório e apreensão nos corredores do órgão governamental, que tem entre suas atribuições, defender o cidadão, dando proteção contra abusos de toda natureza.

Em contato com a reportagem, servidores e servidoras falam sob o compromisso do anonimato, pois temem represálias.

Desde o último dia 12, o Diário traz uma série de reportagens mostrando a indignação dos servidores com o assédio que dizem ser frequente. Há casos de servidores que foram exonerados depois de sofrerem todo tipo de perseguição.

Nota do corregedor geral do Ministério Público de São Paulo

"Todos os casos envolvendo denúncias de assédio por parte de membros do MP são devidamente analisados e apurados por esta Corregedoria, no exercício de suas funções. Obviamente, no entanto, são apuradas denúncias de fatos determinados. Insinuações genéricas, sem a oferta responsável de dados específicos ou nomes não comportam investigação, por razões óbvias. Em razão de meu cargo, não me permito emitir juízos subjetivos (o que acho, o que penso), lastimo. Cabe ao Procurador-Geral de Justiça falar externamente em nome da Instituição. Apenas reitero que nenhuma denúncia responsável trazida ao conhecimento deste Órgão deixou, deixa ou deixará de ser investigada, observando, ainda, que são diversos os canais de comunicação com esta Corregedoria-Geral, diversos deles permitindo o resguardo do sigilo do reclamante. Quanto a dados estatísticos, peço-lhe que encaminhe email para a Corregedoria-Geral (e não a mim, pessoalmente), com a solicitação. Teremos prazer em informar de modo formal."

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