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Meio Ambiente

Estudo revela risco à saúde em água de rios do interior de São Paulo

Os dados foram divulgados pela Universidade de Campinas (Unicamp)

A Bacia PCJ abrange os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. - Imagem: reprodução/Facebook
A Bacia PCJ abrange os rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí. - Imagem: reprodução/Facebook

Mateus Omena Publicado em 22/03/2023, às 11h17


Para o Dia Mundial da Água, celebrado nesta quarta-feira (22/3), a Unicamp divulgou um estudo que alerta para a presença de 38 contaminantes emergentes nos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí.

Os rios compõem a Bacia PCJ, em grande parte localizada na região de Campinas, no interior de São Paulo. Os dados apontam que os compostos, a longo prazo, representam sérios riscos à saúde humana.

Desenvolvido pelo pesquisador Raphael D´Anna Acayaba, o estudo, apresentado à Faculdade de Tecnologia (FT), afirma que os níveis de alguns desses compostos encontrados são superiores aos limites máximos que garantiriam a proteção do ecossistema aquático.

Os dados revelam vários elementos como per-substâncias e polifluoroalquilados, os PFAS, presentes em mais de 4 mil compostos, como pesticidas, espuma de extintores de incêndio, colchões, estofados, carpetes, embalagens de fast-food e produtos revestidos com anti-aderentes.

Que problemas os contaminantes trazem à saúde?

De acordo Acayaba, a contaminação por esse tipo de material pode, a longo prazo, provocar “severos danos” à saúde humana, inclusive câncer.

“No Brasil, não temos muitos estudos sobre isso. Mas nos EUA, por exemplo, os dados apontam que cerca de 95% dos adolescentes e adultos apresentam algum nível de contaminação por PFAS”, explicou o pesquisador ao Jornal da Unicamp.

As águas superficiais, que representam as principais fontes de abastecimento, são poluídas por PFAS por meio da produção, uso e descarte de produtos contaminados, seja no meio industrial ou doméstico. O especialista diz que as tecnologias tradicionais, usadas pelas estações de tratamento de esgoto e pelos aterros sanitários, não bastam para sua completa remoção.

A Bacia PCJ se estende por uma área de drenagem de pouco mais de 14 mil km², onde vivem aproximadamente 5,5 milhões de pessoas, em mais de 70 municípios. Neste local, há atividades econômicas que vão desde agropecuária e sucroalcooleira até indústrias, como a petroquímica e têxtil, além de polos de alta tecnologia.

Situação preocupante

Cientistas consideram que a bacia do PCJ encontra-se em situação vulnerável e não atende pré-requisitos importantes da Organização das Nações Unidas (ONU) para garantia da qualidade das águas e de um ambiente seguro para a vida aquática.

O quadro mais grave está no rio Jundiaí. Dos oito PFAS estudados, seis foram quantificados em concentrações que variaram de dois nanogramas por litro (2 ng L-1) a 14 ng L-1. O limite preconizado pela legislação de índices considerados toleráveis por agências ambientais australianas varia de 1,7 a 5 ng L-1.

Quando analisaram as águas do rio Pirapitingui, foi identificado um dos ácidos, o perfluoropentanóico, que atingiu o nível de 50 ng L-1, no entanto foi o único encontrado naquele curso d’água.

Já na Bacia PCJ, em seis das 14 amostras analisadas, foram identificados valores de PFAS acima da concentração limite. A avaliação para a vida aquática apresentou quocientes de risco (QR) entre 8,7 e 20,9, sendo o rio Piracicaba o ponto mais preocupante.

Também existem altas concentrações de pesticidas, assim como de fármacos, nas águas dos rios da região. Entre os pesticidas, os mais frequentes foram atrazina, diuron, ametrina e imidacloprido. Todos apresentam coeficientes com grande risco para a vida aquática.

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