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Um ano após invasão do Congresso, por que mais de 30 milhões ainda dizem que Trump venceu eleição

Em seu perfil no Twitter, o homem branco de meia idade do Texas se descreve como um "pecuarista conservador e abençoado". Entre seus posts, ele afirma, um ano

Um ano após invasão do Congresso, por que mais de 30 milhões ainda dizem que Trump venceu eleição
Um ano após invasão do Congresso, por que mais de 30 milhões ainda dizem que Trump venceu eleição

Redação Publicado em 06/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h44


Em seu perfil no Twitter, o homem branco de meia idade do Texas se descreve como um “pecuarista conservador e abençoado”. Entre seus posts, ele afirma, um ano depois da invasão do Congresso dos Estados Unidos por apoiadores do ex-presidente Donald Trump, em 6 de janeiro de 2021, que o republicano ganhou a eleição presidencial de 2020.

“Eu até gostaria de dar entrevista e dizer que isso tudo foi uma grande conspiração da esquerda e da máquina burocrática, mas não me sinto confortável”, afirmou o eleitor republicano ao ser procurado pela BBC News Brasil para comentar o primeiro aniversário do ataque ao Capitólio.

Já a dona de casa da Pensilvânia, mãe de 15 filhos, entre os quais dois soldados das Forças Armadas americanas, posta, entre manifestações religiosas, um meme em que uma mulher, identificada como “a mídia”, força um líquido (“a narrativa sobre 6 de janeiro”) goela abaixo de outra mulher (“o povo americano”). “Não engulam essa porcaria”, recomenda.

Um ano, 725 indiciados, 31 encarcerados, US$ 1,5 mi em prejuízo

Desde que centenas de apoiadores de Trump irromperam pelas portas e janelas do Congresso Nacional, que naquela tarde de 6 de janeiro de 2021 certificava a vitória presidencial do democrata Joe Biden, mais de 725 pessoas foram presas e indiciadas por crimes como invasão e destruição de propriedade pública e lesão corporal a policiais. Cerca de 70 já foram julgadas e 31 delas – entre as quais Jacob Chansley, que ficou conhecido mundialmente pelos adornos de chifre que usava enquanto desfilava pelas salas congressuais – cumprem pena em cadeias pelo país.

As câmeras de segurança, de jornalistas e manifestantes registraram o passo a passo dos atos: a depredação na sala da presidente da Câmara, enquanto seus auxiliares se escondiam; o avanço dos manifestantes que gritavam “enforquem Mike Pence”, enquanto o então vice-presidente e sua família eram levados para um esconderijo seguro no prédio; o desespero de parlamentares que se lançaram ao chão de um dos plenários, cercado por manifestantes; os atos heroicos dos agentes de segurança que chegaram a, sozinhos, conter e dispersar dezenas de invasores.

Manifestantes pró-Trump adentram o Capitólio em protesto — Foto: Saul Loeb/AFP
Manifestantes pró-Trump adentram o Capitólio em protesto — Foto: Saul Loeb/AFP

A invasão ao prédio do Congresso – que gerou destruição estimada em US$1,5 milhão (ou mais de R$8,5 milhões) – foi o ato final de uma manifestação de apoio ao então presidente Trump, que havia perdido a tentativa de reeleição em novembro do ano anterior e se recusou a conceder.

Milhares de pessoas se reuniram na capital americana, Washington D.C., naquela manhã de inverno para ouvir do próprio Trump que as eleições tinham sido fraudadas e que ele, sim, era o vitorioso do pleito.

“Todos nós aqui hoje não queremos ver nossa vitória eleitoral roubada por democratas da esquerda radical, que é o que eles estão fazendo. Nós nunca desistiremos, nunca iremos conceder a vitória. Você não admite derrota quando há roubo envolvido”, afirmou Trump no discurso ao público, antes que parte dos manifestantes marchasse para o Capitólio. “E nós lutamos. Nós lutamos pra caramba. E se você não lutar muito, você não terá mais um país”, disse Trump, que já havia tido recusadas dezenas de contestações na Justiça sobre a contagem de votos.

Apenas duas semanas após a invasão do Capitólio, no mesmo prédio, Biden foi empossado como o 46º mandatário da história do país, em um governo que agora está prestes a completar um ano.

Apesar disso tudo, o pecuarista do Texas e a dona de casa da Pensilvânia seguem acreditando que o atual presidente americano, Joe Biden, fraudou as eleições para chegar à Casa Branca e que as cenas vistas no Capitólio foram orquestradas por grupos de militantes esquerdistas – especialmente antifascistas, conhecidos como “Antifa” – ou por patriotas desesperados por salvar a democracia do país. E ambos não estão sozinhos nessa crença: dezenas de milhões de americanos partilham dessas mesmas convicções.

“Nossa pesquisa mostra que 71% dos eleitores que se identificam como republicanos dizem que Biden não foi eleito legitimamente. E outros 6% dizem não ter certeza. Então potencialmente três quartos dos republicanos acreditam até hoje que Trump ganhou”, afirma o cientista político da Universidade de Massachussets, Amherst, Alexander Theodoridis. Theodoridis é um dos diretores de uma pesquisa sobre o assunto divulgada há uma semana e feita em parceria com o Instituto YouGov.

Outros levantamentos apontam na mesma direção. Em novembro, o Public Religion Research Institute aferiu que 68% dos republicanos acreditavam que a eleição havia sido “roubada” de Donald Trump. Como cerca de 50 milhões de pessoas são registradas como eleitores republicanos nos EUA, as sondagens indicam que ao menos 35 milhões de americanos seguem convencidos de ter havido fraude eleitoral.

“Comparado ao eleitorado em geral, aqueles que acreditam que Trump ganhou a eleição de 2020 são desproporcionalmente republicanos e brancos. Na média são mais velhos, vivem nos Estados do Sul e têm menor escolaridade. E são mais conservadores e religiosos – com frequência se descrevem como cristãos protestantes”, diz Theodoridis.

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G1

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