Redação Publicado em 11/07/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h24
O presidente francês, Emmanuel Macron, é acusado por um consórcio de jornalistas de ter facilitado a instalação da empresa californiana Uber na França, no período em que foi ministro da Economia, de 2014 a 2016.
Reportagens publicadas nesta segunda-feira (11) pelo jornal Le Monde e pelo grupo de emissoras públicas Radio France mostram que Macron agiu como uma espécie de relações públicas do grupo americano, a fim de convencer o então primeiro-ministro Bernard Cazeneuve a abrir o mercado de táxis ao serviço de motoristas privados. Na época, os taxistas franceses faziam enormes protestos contra a liberalização do setor. Opositores consideram as revelações um “escândalo de Estado”.
A investigação é chamada pela imprensa francesa de “Uber Files”. Os documentos foram originalmente obtidos pelo jornal britânico The Guardian e transferidos para análise do consórcio de jornalistas franceses.
Foto ilustrativa mostra logo da empresa Uber em para-brisa de carro — Foto: Nam Y. Huh/AP
Uma planilha Excel do escritório de lobistas contratado pela Uber, publicada pelo Le Monde, mostra que 233 personalidades, incluindo ministros, assessores do governo, parlamentares, mas também jornalistas, associações de consumidores e pessoas influentes foram escolhidas para ajudar no processo de implantação da plataforma na França.
Os lobistas da consultoria Fipra prometeram trabalhar para criar um ecossistema favorável à empresa, e atuar para convencer os ministérios e a administração francesa sobre a pertinência do serviço.
Milhares de documentos internos do Uber datados de 2013 a 2017 revelam que a empresa, diante da hostilidade das autoridades públicas e de problemas legais, pôde se beneficiar da benevolência e do apoio de Emmanuel Macron quando ele estava no Ministério da Economia.
Palácio do Eliseu, em Paris, na França — Foto: Regis Duvignau/Pool Photo via AP
A emissora de rádio France Info publica mensagens trocadas por e-mail e SMS entre Macron, um dos fundadores do Uber, Travis Kalanick, e lobistas sobre o andamento das negociações.
Algumas revelações são constrangedoras, pois mostram que Macron era totalmente favorável ao negócio e teria convencido o primeiro-ministro a “calar” os taxistas que protestavam em todo o país. A investigação também revela que Macron fez reuniões no Ministério da Economiacom o fundador do Uber e lobistas contratados pela empresa, entre eles o vice-presidente do grupo, David Plouffe, um ex-conselheiro de Barack Obama.
Na ata de uma reunião em janeiro de 2015, um dos lobistas escreve que os representantes do Uber e Macron definiram as mudanças que deveriam ser feitas na legislação e a estratégia a ser adotada para abrir o mercado de taxistas ao serviço de motoristas do Uber.
Presidente da França, Emmanuel Macron, em Paris, no dia 5 de julho de 2022 — Foto: Johanna Geron/REUTERS
Procurado pelo consórcio de jornalistas ICIJ, Macron não respondeu à solicitação. Em comunicado, a assessoria de imprensa do Palácio do Eliseu declara que em funções anteriores, “Emmanuel Macron foi levado a se relacionar com muitas empresas envolvidas na profunda transformação de serviços ocorrida durante os anos mencionados, que teve que ser facilitada pela desvinculação de certos bloqueios administrativos ou regulamentares”.
Opositores de esquerda denunciam um “escândalo de Estado” e defendem a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia.
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