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COLUNA

Um parceiro sistêmico

União Européia e China. - Imagem: Reprodução | Pixabay
União Européia e China. - Imagem: Reprodução | Pixabay
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 06/12/2023, às 08h29


A União Europeia, há algum tempo, definiu a China como parceiro, concorrente e rival sistêmico. Tal iniciativa decorre, de fato, da dependência europeia dos Estados Unidos e da reduzida soberania diante da impossibilidade de exercer a completa defesa territorial. A Europa, que perde paulatinamente a relevância global, também deixou de ter a posição de principal parceira da China. A Guerra da Ucrânia – e agora a de Gaza – tem sido responsável por uma situação econômica complexaque vem empobrecendo o Velho Continente e reduzindo, cada vez mais, sua importância. Os melhores dias da Europa já estão há muito no passado.

A situação norte-americana – embora melhor que europeia – tampouco inspira grandes expectativas. O pleito eleitoral que se aproxima, com uma disputa acirrada e polarizadora, não melhorará a situação. Desde os dias de Bill Clinton, o país tem estado dividido e a governança tem-se tornado cada vez mais complicada. E, como reconheceu Abraão Lincoln, uma casa dividida não prospera.

No caso brasileiro, a China, no entanto, é um parceiro fundamental, imprescindível e sistêmico. As sinergias existentes entre os dois países – se exploradas com sabedoria, pragmatismo e inteligência – atingem os mais variados setores. Da agricultura à alta tecnologia, a cooperação estrita entre os dois países pode alavancar as áreas que mais precisam de progresso e evolução rápida e, além disso, reafirmar a importância desta parceria no necessário redesenho da governança global.

Brasil e China são duas potências globais: possuem mercados substanciais, atuam multilateralmente, têm plena capacidade de auto-defesa, e valorizam o papel fundamental das Nações Unidas no centro do sistema internacional. Ademais, são países que buscam uma renovação e fortalecimento do processo de globalização – e não o retrocesso apregoado por políticas como o “decoupling” (desacoplamento) das economias ou “derisking”, a tentativa de reduzir a dependência econômica da China.

Inexistem conflitos substanciais entre os dois países ou contradições geopolíticas. E, quando existirem, a cooperação e o consenso constituem elementos essenciais para sobrepujar as diferenças. Ademais, é essencial impedir que interesses exógenos venham a criar problemas e complicar uma relação que tem promovido ganhos exponenciais de ambos os lados e cujos resultados podem ser ainda maiores e mais positivos. Políticos desavisados podem complicar um relacionamento que tem sido fundamental para garantir o crescimento econômico do País. Isolar a influência de agentes externos – como os Estados Unidos e a União Europeia – constitui instrumento essencial para que estes não impeçam o avanço no relacionamento bilateral. A construção de narrativas contrárias à China ou à cooperação bilateral tampouco deve obstruir um diálogo franco e cooperação ampla e produtiva.

Apesar de a pandemia da Covid-19 ter criado dificuldades globais, com uma deterioração temporária na situação econômica chinesa, inclusive com um aumento no desemprego e crescimento reduzido, a China tem envidado enormes esforços para retomar o crescimento o mais rápido possível. A retomada do crescimento chinês é fundamental para o aprofundamento do comércio e do crescimento global.

Em 2009, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil. A possibilidade de cooperação em novas áreas permitirá ainda maiores voos com inovação científica e tecnológica. O Brasil deve buscar inovações disruptivas e utilizar, quando necessário, destas para criar novas oportunidades de negócio e desenvolvimento social.

O Brasil também é um parque de diversões para a China em matéria de projetos de infraestrutura. O país asiático logrou construir, nas últimas cinco décadas, uma infraestrutura para produção e exportação que não tem correspondente no Ocidente. Baseado no princípio de que “tempo é dinheiro”, os chineses investiram pesadamente na fluidez da movimentação dos produtos em seu território, particularmente fomentando uma integração cada vez maior dos modais de transporte. Brasil, Chile e China poderiam construir, por meio de uma joint venture, por fim, um corredor unificando Pacífico e Atlântico, o que daria aos dois países acesso aos dois oceanos, ampliando as possibilidades econômicas substancialmente.

A China – nossa parceira no BRICS – tem assumido um papel cada vez mais importante para o Brasil. Com 1.4 bilhões de habitantes e um poder aquisitivo crescente, a China já provou o seu enorme interesse no Brasil, como seu maior parceiro comercial desde 2009, ou como um de seus maiores investidores. Trata-se de um país competitivo que tem sabido aproveitar dos benefícios da globalização. Tentar opor-se a ela não constitui uma estratégia acertada.

É hora, portanto, de os países se livrarem das armadilhas ideológicas, que fomentam a divisão e o confronto. E iniciarem a escrever uma nova página para gerar possibilidades ainda maiores de desenvolvimento e progresso humano.

Como bem afirmou Mahatma Gandhi há décadas: “Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer.Brasil e China, embora oceanos a parte, podem contribuir muito para o diálogo global. E vencer.

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