O eleitor desinformado é muito pior do que uma arma de destruição em massa
por Marcus Vinícius de Freitas
Publicado em 11/09/2024, às 08h55
Winston Churchill, que foi a maior liderança política do século XX, tinha opiniões controversas sobre a democracia. Por um lado, afirmou que “a democracia é a pior forma de governo, exceto por todas as outras que foram tentadas”, enfatizando que, apesar dos desafios enfrentados por suas imperfeições, a democracia constituía a melhor forma de governança quando comparada com os outros sistemas problemáticos ocorridos ao longo da história. A democracia, segundo Churchill, serviria como uma forma eficiente para garantir justiça e liberdade. E com isto, atuar como um instrumento importante na manutenção do bem-estar social.
Mas deste mesmo Churchill saiu a frase: "O melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com o eleitor médio." Neste caso, Churchill refletiu um enorme ceticismo quanto à capacidade de tomada de decisões informadas da pessoa média. Ele reconhece as enormes limitações que o sistema democrático apresenta, particularmente por dar a um cidadão desqualificado e desinformado uma arma tão violenta como o voto. Se não houver um mecanismo de colocar gente capacitada a governar à frente do eleitor, a decisão que ele tomará será necessariamente equivocada.
O maior desafio da democracia é que meritocracia e capacidade de realização efetiva na governança não são levadas em consideração quando o eleitor vota em determinado indivíduo. É raro o eleitor conhecer as ideias e propostas que o candidato tem para pautar sua atuação após a respectiva eleição. Escolhem-se indivíduos baseado no carisma, que somente tem levado gente desqualificada ao poder. E o carisma, por si só, já é um elemento que forja uma divisão social cada vez maior.
A polarização existente atualmente não é algo novo, mas sim resulta da própria forma como democracias operam. A escolha por um candidato sempre leva a uma polarização na sociedade. O eleito jamais representa a totalidade de uma sociedade. No caso do executivo, ainda que contando somente com a metade do apoio popular, os eleitos recebem a totalidade do poder, que, em repúblicas presidencialistas, é mais absoluto que em monarquias constitucionais. Para combater essa exacerbação do poder, criaram-se estruturas ineficientes de controle como o Poder Judiciário e o Legislativo, o que gera crises constantes de governabilidade dada à falta de harmonia entre os poderes e a busca de consolidação de espaço político.
Os guardiães da democracia deveriam ser os partidos políticos. A eles caberia fazer o filtro necessário na seleção dos candidatos e chapas para executarem um determinado plano de atuação e garantir que somente indivíduos mais capacitados fossem indicados a disputar eleições. Governar não é simplesmente representar um determinado grupo ou pauta social. Governar é tomar decisões difíceis, que levem a sociedade a um novo patamar de bem-estar. Os partidos políticos deveriam ainda atuar como grandes institutos de pesquisa, com pesquisadores, acadêmicos e gente experiente em administração pública para pensarem, efetivamente, em propostas para a sociedade.
Se os partidos tivessem o cuidado de apresentar candidatos qualificados com planos efetivos, o debate político seria melhor e resultados melhores seriam alcançados na promoção do bem-estar coletivo. E o eleitor mediano – incapaz de tomar uma decisão complexa – poderia exercer o seu sagrado dever do voto, com a certeza de que sua decisão não levaria a desastres ou instabilidades políticas que somente prejudicam a sociedade, como acontece atualmente nas democracias ocidentais.
Equivoca-se quem afirma que a educação por si só resolveria esse desafio. Eleitores desinformados existem nas várias camadas sociais, de “a a z” na sociedade. E até mesmo os mais educados são muitas vezes tomados de paixões na defesa de determinados candidatos, sem a prevalência do elemento racional na decisão.
Para piorar a situação, o lixo ideológico invadiu a agenda política atual, tanto na esquerda como direita. Partidos de esquerda, atualmente, defendem pautas ditas “progressistas”, deixando o trabalhador – a quem supostamente representa – em segundo ou terceiro plano. E, na direita, a pauta das virtudes pretende jogar para debaixo do tapete assuntos e comportamentos que existem na sociedade, além de trazerem a religião – que segrega as pessoas – a uma participação ativa no debate político. Em nenhum dos dois lados do espectro político se observa, efetivamente, um plano ou propostas para resolver os enormes problemas que afligem as sociedades. Ademais, ambos os lados utilizam o argumento da liberdade em sua atuação, desde que esta seja vigiada e controlada por sua agenda e controle político.
Num país como o Brasil, em que o patriotismo deixou de existir há muito tempo, os partidos políticos deveriam encabeçar o processo de retorno do cultivo à nacionalidade e ao País. O Brasil perdeu o orgulho nacional. O Brasil virou um país inseguro e de perdedores, o que é péssimo. Os cidadãos precisam ter orgulho dos feitos de seu país – na ciência, na política, no esporte e em outras áreas – para desenvolver um sentido coletivo positivo de identidade. Um país sem patriotismo, sem segurança coletiva, onde a maior parte da sua juventude ambiciona sair dele está fadado a tornar-se uma terra sem lei, sem compromissos e sem perspectivas. O patriotismo é essencial, particularmente para assegurar transições políticas pacíficas, o império da lei e um debate construtivo quanto ao futuro da sociedade.
A democracia precisa de melhores quadros para liderar o País. Será que, ao olharmos os políticos eleitos ou candidatos a posições, nos perguntarmos: este indivíduo melhorará, de fato, o País? Se ficar em dúvida, não vote. E pressione os partidos políticos a qualificarem melhor seus candidatos.
A democracia é, de fato, dos males o menor. E o eleitor desinformado é muito pior do que uma arma de destruição em massa. Se não buscarmos resolver este desafio, as perspectivas não são alvissareiras.
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