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COLUNA

Novos erros em 2023

Imagem: Pixbay
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Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 14/12/2022, às 07h55


À medida que o Natal se aproxima no mundo cristão, reflexões sobre o período e os ensinamentos oriundos do advento do nascimento de Jesus Cristo serão repetidos inúmeras vezes em sermões e discursos nos púlpitos de igrejas cristãs. A mensagem tratará a respeito do nascimento humilde daquele indivíduo – Jesus Cristo – que, por fé, se tornou o grande divisor da história. Contam-se os anos a partir daquele nascimento, claro que com dúvidas históricas sobre o posicionamento preciso da data e ano.

O nascimento, repleto de aspectos que visam identificar naquele bebê aspectos de divindade, ensina lições como a humildade, resignação, reconhecimento, e características de fé excepcionais dos indivíduos envolvidos. Para o mundo cristão em particular, cada um possui atributos que os tornam superiores aos seres humanos normais, atribuindo-se à maior parte deles o elemento da santidade.

Dentre as histórias que se contam a respeito do nascimento, sempre me fascinou a história dos Sábios do Oriente (os Reis Magos), que – advindos de várias partes do mundo – foram ao encontro do Menino Jesus para reconhecer-lhe a majestade. A tradição atribuiu-lhe nomes: Baltazar, Belchior e Gaspar. E também cores – amarela, preta e branca – para dar o significado da representatividade da raça humana, como conhecida até então. Estes Magos do Orientechegaram à empobrecida Palestina e conversaram com o títere romano, Herodes, a respeito do nascimento daquele que, segundo acreditado pelos cristãos posteriormente, seria o Rei de Israel. Conta o relato bíblico que, ao saber disso, Herodes lhes solicitou que, antes de retornarem aos seus locais de origem, lhe fizessem uma nova visita para relatar-lhes onde nascera o futuro rei de Israel para que ele, também, tivesse o privilégio de conhecê-lo. O objetivo, claro, era eliminar o possível concorrente a Herodes e seus sucessores.

Novamente, na magia que caracteriza os relatos bíblicos desse evento, os Magos são avisados – em sonho – de que não deveriam retornar a Herodes mas seguir por outro trajeto para, assim, protegerem o Infante de Belém. Enganado, Herodes decretou a fatídica morte de milhares de crianças para que o seu direito ao trono – e também de seus sucessores – continuasse assegurado.

O objetivo deste artigo não é reavivar as lições da catequese que muitos fizeram ou revisitar algum sermão religioso que podemos ouvir nesta época. Mas o aspecto fundamental da mensagem desta visita dos Magos do Oriente não é somente o reconhecimento da divindade do bebê, mas sim o ensinamento fundamental de que, quando algo muito grande acontece em nossas vidas, é preciso mudar o rumo e não voltar atrás. Ou seja, ao encontrarem aquele que, em princípio, seria o grande redentor da humanidade, já não faria mais sentido retornar pelo mesmo caminho. O encontro do humano com o divino deve gerar uma mudança irreversível de rumos. Se houver erros na nova caminhada, que sejam novos. E não mais os mesmos.

Infelizmente, existe uma persistência no ser humano de querer repetir os mesmos erros, parecendo esquecer que os erros do passado, se repetidos, levarão necessariamente às mesmas consequências. Atribui-se a Einstein uma famosa frase em que ele afirma que a utilização dos mesmos ingredientes jamais fará surgir resultados diferentes. Da mesma forma, os pais ensinam aos filhos, desde pequenos, que sabedoria é observar os erros alheios e não os repetir. No entanto, uma das características da humanidade é ter uma relativa falta de memória quanto aos erros praticados e uma tendência a reproduzi-los com maior frequência do que seria saudável. Afinal, se a humanidade evitasse repetir os mesmos erros, voltar pelos mesmos caminhos, talvez o desenvolvimento humano tivesse muito mais avançado do que aquele que temos acumulado ao longo destes séculos.

No entanto, ao se notar esta tendência de repetição de erros, a pergunta que sempre prevalece é porque erros são repetidos. Memória curta, ignorância, ou a necessidade de cada geração aprender com os próprios erros? A resposta a esta pergunta, sem dúvida, constitui, junto com aquelas três famosas –  “de onde vim”, “por que estou aqui” e “para onde vou” –s uma das dúvidas existenciais da humanidade.

Há que se reconhecer que a falta de memória histórica é um dos graves problemas que enfrentamos. Isto se deve ao fato de que, muitas vezes, os mais experientes sejam negligenciados em ser ouvidos ou porque os mais jovens – em sua arrogância – talvez precisem repetir o erro para o próprio aprendizado. O fato é que repetimos os mesmos erros. E quanto mais as coisas mudam, mais elas continuam as mesmas, como afirmam os franceses. O objetivo da humanidade, portanto, deveria ser cometer novos erros. E não retornar aos mesmos caminhos.

Temos observado, atualmente, a repetição dos mesmos erros. Eleições colocaram, em determinados países, grupos dirigentes cujos resultados históricos se comprovaram insuficientes. Utiliza-se, por exemplo, de técnicas da Guerra Fria para impedir a ascensão da China. E busca-se, em políticas de alianças fadadas ao fracasso, tentar conter mudanças geopolíticas. O fato é que a humanidade perde a oportunidade de evoluir mais substancialmente ao buscar novas experiências para – através da tentativa e erro – encontrar novas soluções para problemas que insistem em não ser resolvidos.

O sábio Confúcio já afirmou no passado que o melhor momento para se plantar uma árvore seria vinte anos atrás. O segundo melhor momento seria hoje. Com base nisto, se buscarmos plantar as árvores cuja sombra e frutos pretendamos desfrutar daqui a vinte anos – talvez fizesse sentido aliarmos todos estes ensinamentos – Reis Magos, Einstein, franceses e Confúcio – num grande pacote para não repetirmos os erros do passado e seguirmos atentos para não voltar pelos mesmos caminhos. Afinal, uma vez que tivemos uma experiência transformadora com nossos erros prévios, seria fatal repeti-los.

Que cometamos novos erros em 2023!

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