Paulo Baron fala com o Diário de São Paulo
por Marcelo Emerson
Publicado em 17/11/2022, às 17h53
Franz Liszt, compositor húngaro do séc. XIX, foi celebrado como prodígio. Na infância já era patrocinado por magnatas. Aos 20 anos de idade, com fama e fortuna, não tinha qualquer pudor em atender aos gostos do seu público, compondo músicas de apelo comercial e ganhando muito dinheiro.
Diferente de Richard Wagner. Gênio, o compositor alemão pontuou sua vida por decisões turbulentas, metendo-se em revoluções políticas, propagando ideologias polêmicas com sua arte e se recusando a tornar sua música mais palatável apenas para facilitar sua comercialização.
Em entrevista com o empresário Paulo Baron, veio à tona uma questão que é corrente no meio artístico: o empresário pode se tornar o inimigo da arte? O Diretor Executivo da produtora Top Link Music respondeu de pronto: “Isso é uma ignorância. Todos os artistas importantes que se destacam têm um ótimo empresário por trás. O empresário sabe se comunicar, tem as conexões, ele é quem tem que saber falar ‘não’, tem que ser duro com o dinheiro. O artista até quer ser o empresário, mas ele não se preparou. E muitos deles têm essa divisão entre o sentimento e o trabalho. Já o empresário não...”
Lembrei que Liszt tentou convencer Wagner a “vender” sua arte para um mecenas, mas o alemão se recusou a compor para alguém que “sequer sabe para que servem os tímpanos numa orquestra”.
Voltando ao bate-papo com Baron: “Muitas vezes o fã não sabe, mas, numa banda de cinco integrantes, por exemplo, existe uma discussão por 3% de direitos para quem compôs uma música. Trata-se de uma discussão sobre dinheiro. Então, não existe apenas o lado do empresário”.
Muitas vezes, parece haver uma tensão entre a visão romântica da arte como livre expressão da alma do artista em conflito com as necessidades pragmáticas e imperiosas da indústria do entretenimento, que precisa embalar a arte para comercializá-la com valor de mercado.
O empresário mexicano esclarece: “Eu dou um curso em que ensino que todo artista deve ser seu próprio empresário. Como seres humanos, cada um de nós devemos ser nossos próprios empresários, temos que saber nos vender, temos que saber como fazer nossas contas, temos que ser organizados em nossas vidas e devemos saber pensar sobre o jeito como nos comunicamos e, ao mesmo tempo, falar com coerência sobre o que você pensa e sente e sobre os caminhos que você decide percorrer”.
Embora a vida de Richard Wagner tenha sido marcada por mais provações severas que a de Franz Liszt, ambos se tornaram ícones culturais da arte ocidental. E a discussão sobre a tensão dinheiro versus arte ainda está viva no debate público.
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