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Público X Privado e o 'jeitinho brasileiro'

Iniciativa pública e privada no Brasil. - Imagem: Reprodução - ABr / Montagem
Iniciativa pública e privada no Brasil. - Imagem: Reprodução - ABr / Montagem

Marcelo Dutra Publicado em 25/10/2022, às 08h22


As políticas públicas não existem para gerar lucro, tampouco para beneficiar esse ou aquele envolvido no processo. A Constituição Federal de 1988 garante a participação cidadã na agenda, formulação, implementação e avaliação das políticas públicas e, é dever de todos acompanhar as ações de governo em prol de uma sociedade democrática, verdadeiramente republicana, que combate desigualdades, visa o bem comum e um estado de bem-estar social amplo e vigoroso.

Infelizmente, nossa cultura ainda não nos permitiu entender as dicotomias entre público e privado. É comum em nosso país que determinados empresários solicitem “favores” a amigos detentores de cargos públicos em troca de pequenos mimos, servidor público que busca vantagenspara si em troca do favorecimento de particulares, muito comum ainda em nosso país: cortar fila, avançar semáforo vermelho, atropelar cancelas de pedágio, estacionar em vaga com determinação especial, sonegação fiscal, fazer uso particular de veículos destinados a fins profissionais e por ai vai, se continuarmos iremos observar uma infinidade de ações que apenas se prestam a deteriorar nossa democracia.

 O Brasil avançou muito em práticas administrativas, desburocratizações e nas mais diversas áreas do conhecimento, mas ter inúmeras instâncias julgadoras e recursos infinitos nos tornam terra sem lei! E por falar nisso, lembramos  do nosso mundialmente famoso “jeitinho brasileiro”, característica nacional que de fato nos ajuda a driblar os perrengues do dia a dia, apertando um pouco aqui, ajustando um tantinho ali, com algumas artes do tipo faça você mesmo, entre tantas outras tão necessárias e oportunas, mas que não podem se confundir com o querer levar vantagem em tudo.  Não adianta nada termos os melhores economistas, advogados, administradores, cientistas políticos, agentes extremamente capacitados atuando nas engrenagens da máquina pública, se boa parte da população continuar achando que tem de se dar bem em tudo, que todos devem ser Vips e saírem distribuindo carteiradas de títulos, honrarias e poder aquisitivo.

Apontar o dedo pode ser fácil, mas quais os caminhos para solução e/ou amenização de tais problemas? Parte da via a ser trilhada passa por mais empatia, que no dicionário Aurélio é descrito como sendo: “tendência para sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa”. Pois bem, antes de pensar, falar, agir faz-se necessário colocar-se no lugar do próximo, imaginar-se como parte do assunto, recebendo aquela ação, serviço ou política pública, saber como terceiros irão sentir-se tendo a vida impactada por uma movimentação que fiz. 

Outra parte do caminho, tão ou mais importante, é a educação em todas suas etapas e áreas do conhecimento. Com ações bem orquestradas, além do engajamento de todos no ensino público, privado, domiciliar e até de modelos com voluntariados em Organizações Não Governamentais e denominações religiosas, fará o Brasildar um salto expressivo em desenvolvimento econômico, tecnológico e relações sociais. Precisamos aprender a espalhar os princípios democráticos que consistem na construção de cidadãos virtuosos, capazes de cobrar e desfrutar de seus direitos, contudo sem esquecer-se da riqueza de seus deveres, pois uma verdadeira Nação se constrói com mulheres e homens empenhados na coisa pública, participativos e conscientes da importância de que cada conquista depende da atuação política, respeito ao próximo e as leis. 

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