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Os tucanos estão mais vivos do que nunca

Geraldo Alckmin. - Imagem: Divulgação
Geraldo Alckmin. - Imagem: Divulgação
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 29/04/2023, às 09h09


Uma notícia chamou a minha atenção há poucos dias: João Doria elogiou o arcabouço fiscal do governo e a atuação de Fernando Haddad. Na imagem que foi divulgada pelo portal UOL, o Ministro da Fazenda e o ex-governador de São Paulose abraçam, com Geraldo Alckmin sorrindo ao fundo. Mas, afinal, o que isso tem a ver com os tucanos ou o PSDB, já que nenhum desses está no partido?

Pois bem, vamos aos fatos. O PSDB nasceu na segunda metade da década de 1980, a partir de uma elite política paulista (talvez mais paulistana mesmo) que não conseguia ver no antigo PMDB o ambiente ideal para a terceira via, a socialdemocracia europeia ou o chamado liberalismo com preocupações sociais, com a defesa do Estado de Bem-Estar Social, preferencialmente em um país parlamentarista. Estavam no grupo Mário Covas, Franco Montoro, Fernando Henrique Cardoso, José Serra, entre outros. Para não ficar tão paulista, algumas figuras como Tasso Jereissati, do Ceará, também estavam lá no início.

A partir dali, os tucanos começaram a sua caminhada: perderam o plebiscito que decidiu pelo presidencialismo, mas conquistaram e Estado de São Paulo, chegaram à Presidência da República, e, depois, tal como aconteceu com o “caminho do meio” em todo o mundo, perderam espaço com a polarização que tomou conta do ambiente político.

Porém, depois de momentos de tensão e radicalização, a história nos mostra que em geral há a volta ao centro, quando as pessoas procuram opções seguras que possam liderar processos políticos mais tranquilos, com a característica da concertação.

E, para que isso aconteça no Brasil dos próximos anos, os dois “lados” ideológicos vão precisar ter personagens que possam se aproximar do centro e ter intimidade com ele. E não estou falando do Centrão. O presidente Lula, mesmo tendo as características ideais da liderança pela negociação, foi jogado para o lado esquerdo tanto pelo movimento social do qual surgiu quanto pelos grupos políticos que ele decidiu combater nos últimos anos. Portanto, por mais que faça um governo de ida ao centro, já tem a imagem do líder de uma esquerda que beira o radicalismo (repito que, para mim, isso é só percepção, não é realidade).

Porém, depois dele, tudo faz pensar que o equilíbrio estará de volta. E o primeiro caminho já foi dado, ao termos Geraldo Alckmin como vice, ou seja, o mais conservador dos tucanos históricos perto da cadeira da Presidência. E, se ele está lá, por que não pensar nele para ser esse agregador?

Além dele, Fernando Haddad, o mais tucano dos petistas, um liberal clássico, “mas com preocupação social”, que não sei por que motivo o bolsonarismo tentou chamar de comunista, pode dar a esse caminho ao centro mais um elemento de construção conjunta.

E o que isso tem a ver com João Dória ou o PSDB, que ainda sobrevive aos trancos e barrancos nas mãos de Eduardo Leite, o governador do Rio Grande do Sul? Tudo, mesmo que a sigla nem seja usada. Os dois personagens podem dar o tom dos empresários paulistas e dos jovens competentes ao novo projeto.

Sem nenhuma outra opção para representar o centro, é quase certeza de que vamos ver o espírito tucano, que pareceu estar morto desde a aposta no impeachment de Dilma Rousseff, ficar cada vez mais presente na vida política nacional, com um dos personagens citados neste texto na Presidência da República depois de Lula.

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