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O velho Ponzi e a nossa incapacidade de deixar de cair em golpes

Charles Ponzi. - Imagem: Reprodução | Flickr
Charles Ponzi. - Imagem: Reprodução | Flickr
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 11/02/2023, às 13h41


O vilarejo de Lugo, na Itália, não tem muita importância, mas tem um filho ilustre: Carlo Ponzi. Você pode não ter ouvido falar dele, mas com certeza algum dos seguidores já esteve por perto, tentando ativar a sua vontade de se dar bem e ganhar muito dinheiro. Vou contar rapidamente a história do “empresário”, que tem tantos seguidores no mundo (e no Brasil).

Carlo deixou a Itália, que então não tinha grandes oportunidades, no início do século passado, e foi para os Estados Unidos. Lá, chegou com pouco mais de 20 anos, mudou o nome para Charles e começou a trabalhar com o sonho das pessoas, no paraíso do capitalismo.

E capitalismo que se preza tem sempre a possibilidade de ficar rico, de inventar algo que dá dinheiro, de ganhar bons salários, de ter bons juros nos investimentos. Foi com essa ideia que Ponzi entendeu que podia se dar bem.

O que ele pensou não era novidade, mas conseguiu dar um novo formato. Já que o John (personagem fictício) não estava contente com os juros que o banco tradicional pagava para os dólares que poupava para a aposentadoria, o nosso “herói” trouxe a solução: prometeu o dobro, o triplo, sabe-se lá quanto. E pagou os juros devidos no primeiro mês. John ficou empolgado e falou para o Peter, o Paul, o James e o Henry, que também tiraram seu dinheiro dos bancos e colocaram na mão do Ponzi.

Todos estavam felizes, e cada vez mais chegava dinheiro novo na mão do Carlo. E ele, a cada mês, pagava os juros que os clientes achavam que mereciam. O segredo? Usar dinheiro novo para pagar cliente velho. Sim, num processo simples, sem precisar colocar o dinheiro em lugar nenhum, mantendo na própria conta.

O volume foi aumentando, aumentando, aumentando, até o dia em que uma crise econômica fez com que todos quisessem o seu dinheiro de volta, já que precisavam cobrir as emergências. Foi aí que se descobriu que Ponzi não tinha o dinheiro para pagar o que tinha sido “depositado”.

Ele foi preso e deu nome ao artifício que todos adoram, e que ficou sendo repetido nos Estados Unidos e no mundo. Um dos líderes foi tão competente que deveria ter substituído o italiano no nome do esquema: Bernard Madoff. Já ouviu falar sobre ele? Se ainda não, deveria.

No Brasil, de tempos em tempos, desde a minha infância, eu ouço alguém contanto essa história maravilhosa dos juros fantásticos. E isso acontece em pequenos grupos, de amigos, de irmãos nas igrejas e de colegas de trabalho, ou em grandes estruturas, como empresas que a gente vê que de repente aparecem com 20 bilhões de dólares de “buraco” na conta.

Se pensarmos que o mercado financeiro inteiro trabalha com uma coisa chamada “futuro”, dá até para imaginar que tem muita gente que prefere entender esse “futuro” como sendo dinheiro novo, sem se preocupar com investimento em produção, naquilo que se chama economia real.

Mas é assim mesmo. Enquanto tiver gente achando que tem informação privilegiada, que pode se dar bem, que vai ser o único a não cair em golpe, Charles Ponzi viverá por aí.

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