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É hora de recomeçar

Geraldo Alckmin e Luis Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução / Ricardo Stuckert
Geraldo Alckmin e Luis Inácio Lula da Silva. - Imagem: Reprodução / Ricardo Stuckert
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 05/11/2022, às 10h49


A eleição presidencial acabou. O resultado foi apertado, o titular atual do cargo demorou para aceitar a derrota, ainda tem muita gente descontente, mas tudo parece caminhar para que haja uma transição organizada, com membros das duas equipes trabalhando em conjunto.

Houve um acerto do presidente eleito ao indicar o vice Geraldo Alckmin para a coordenação dos trabalhos, porque se trata de uma aproximação com quem, ideologicamente, está mais próximo do ex-governador de São Paulo.

Com os acenos e as confirmações de conversas, fica claro o que já era observável desde o fim do ano passado: o governo Lula será, pelo menos no princípio, uma tentativa de concertação, um pacto pela democracia.

Por isso, também entre os seus amigos, com as pessoas da família, do trabalho, é hora de recomeçar, reconectar, compreender, trazer para perto. Afinal, o ressentimento e a frustração de quem se sente perdendo com a derrota do presidente não pode ser sempre entendida como pensamento totalitário.

Há os que querem mesmo ser os engenheiros do caos, como tão bem retrata o livro do Giuliano da Empoli? Claro que sim! Tem gente que há anos estuda o comportamento humano e o relaciona às possibilidades de distribuição de conteúdos nas redes e os seus algoritmos. São esses “engenheiros” que montaram, sem que as instituições tivessem informação, os exércitos que apareceram nas ruas pedindo ações sem sentido e comemorando falsas informações.

Porém, grande parte das pessoas somente quer ter uma alternativa, uma possibilidade de não ser de esquerda, de não estar próximo do PTou de Lula. E, por isso, a direita democrática precisa trabalhar, convencer, ter projetos e principalmente lideranças.

É por isso que acredito que, no ambiente democrático ideal, a briga sucessória de Lulasaia de dentro do próximo governo, com possibilidades de construção de alternativas à centro-direita e à centro-esquerda, a partir de um movimento de equilíbrio.

Ao mesmo tempo que a direita precisa se organizar tendo como norte a democracia, também cabe à esquerda entender que nem toda direita é fascista, nazista ou qualquer coisa dessas.

Afinal, uma parte do que vimos acontecer nos últimos anos nasceu da ideia de que o que não era defesa do projeto dos governos Lula e Dilma tinha que ser tratado como fascista, neoliberal e todos os outros xingamentos. Agora, que um projeto liderado por Lulainclui Alckmin, Tebet e o apoio até de forças declaradamente de direta, como Amoêdo, dá para entender que não é possível tratar tudo com o velho método de simplificação e do inimigo único.

Se tiver competência política, Lula retorna o Brasil ao centro e, assim como Getúlio Vargas conseguiu por alguns anos, faz com que tanto os projetos mais à esquerda quando os mais à direita saiam mesmo da mesma coalisão.

Quando Vargas desenvolveu esse método, no pós-Segunda Guerra, surgiram as primeiras versões do PTB, à esquerda, e do PSD, à centro-direita. É claro que o ambiente político atual é cheio de outras referências e desafios, muito diferente do de sete décadas atrás. Porém, pode ser que a saída seja realmente essa.

Mas, antes de tudo isso, podemos parar por alguns dias sem pensar no futuro e nos reconectar ao presente. Afinal, todos merecemos que os próximos tempos nos tragam paz!

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