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Zé Roberto: “Vamos sofrer muito sem Thaisa. Mas vamos encontrar novas lideranças”

Os passos são dados de forma firme, mas sem pressa. Desde a chegada das primeiras jogadoras a Saquarema, no início de abril, José Roberto Guimarães precisou

ROBERTO
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Redação Publicado em 24/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h41


Antes da estreia do Brasil na Liga das Nações, nesta terça-feira, contra o Canadá, técnico fala sobre preparação rumo a Tóquio, evolução de Sheilla e impacto da ausência de central

Os passos são dados de forma firme, mas sem pressa. Desde a chegada das primeiras jogadoras a Saquarema, no início de abril, José Roberto Guimarães precisou adaptar treinos e trabalhos a uma rotina bem diferente da ideal. Havia previsto alguns amistosos, mas a pandemia o forçou a mudar os planos mais uma vez – em meio à burocracia, nenhuma seleção estrangeira conseguiu encaixar uma vinda ao Brasil antes da Liga das Nações. Ainda que o tempo seja curto, porém, o técnico tenta não pular etapas.

Ao contrário da maioria das rivais que vai enfrentar em Rimini, na Itália, Zé Roberto decidiu levar o grupo completo para a Liga das Nações. Lá, espera dar ritmo à equipe e realizar os testes que deseja antes dos temidos cortes rumo à lista final para as Olimpíadas. Em longa conversa com o ge, o técnico falou da preparação para Tóquio, da surpresa com o pedido de dispensa de Thaisa, de Sheilla e das dificuldades em meio à pandemia de coronavírus.

O Brasil estreia na Liga das Nações feminina nesta terça-feira, contra o Canadá, às 16h (horário de Brasília). O SporTV2 transmite a partida, e o ge acompanha tudo em tempo real.

Trabalho até aqui

Nesse momento, nós estamos dando um enfoque principal à parte física. Estamos tentando uniformizar todo mundo, trabalhando forte, trabalhando força e indo para potência. Realmente um período que a gente precisa agregar valores para poder suportar e chegar bem aos Jogos Olímpicos, que são nosso principal objetivo. Essa é a tônica do planejamento. O que a gente tinha programado e que não aconteceu por conta da pandemia são os três jogos amistosos, o que me preocupou um pouco. Tínhamos programado contra a República Dominicana, também tentamos com a Argentina. Então, fizemos coletivos entre a gente.

Importância da Liga das Nações

Estamos indo para a VNL exatamente para dar rodagem ao grupo, fazer com que a gente consiga jogar contra as melhores seleções do mundo. Tudo bem, a Itália optou por não colocar suas melhores jogadoras, a Sérvia também tirou três das suas principais jogadoras do elenco. Mas a gente acha que precisa jogar. A gente precisa colocar as nossas jogadoras em ação, até para irmos moldando o time, ver quem é que vai representar a nossa seleção nas Olimpíadas de Tóquio.

Lesão de Natália

Tivemos uma baixa com a situação da Natália. Menos mal que foi na mão esquerda. A operação foi um sucesso. Ela fica fora das duas primeiras semanas, já na terceira semana ela deve poder participar. Então, foi mais tranquilo do que poderia ser. Isso atrapalha no sentido de não poder caminhar dentro do planejamento, de acabar sobrecarregando alguém nas duas primeiras semanas. Com a Natália, poderia se dividir melhor essas responsabilidades na ponta. Mas também é a oportunidade de outras jogarem na ponta, de poder se doar por ali e de acrescentar como jogo. É por pouco tempo, nada que vá ser um problema muito sério.

Natália só deve estrear na terceira semana da Liga das Nações — Foto: Divulgação/FIVB

Natália só deve estrear na terceira semana da Liga das Nações — Foto: Divulgação/FIVB

Versatilidade do grupo

Tandara, por exemplo, vai poder jogar na ponta, já jogou por ali. Assim como a Natália pode jogar na ponta, na saída. A própria Rosamaria. Isso acrescenta para as jogadoras. Quanto mais a jogadora puder se apresentar nessas situações, até para a própria jogadora entender o que consegue ou não fazer. Agora é o momento de dar oportunidades e de fazer testes. A jogadora é completa quando sabe jogar em qualquer posição. Quanto mais eclética ela for, mais versátil, melhor. Essas observações, até contra seleções que não vão para as Olimpíadas, temos de aproveitar da melhor maneira possível. Queremos aproveitar da melhor maneira possível o tempo que vão nos dar, a possibilidade de jogar contra esses times e revezar o máximo que pudermos com o grupo que vamos levar.

A versatilidade é importante exatamente porque podemos precisar que uma jogadora ataque e bloqueie nas posições extremas. A versatilidade é importante dessa forma, né? Acho que o fato de fazerem bem, tanto uma posição como a outra, que darem, darem essa possibilidade, é muito favorável para o time. Eu não penso em mim, eu penso na composição do time, nessa versatilidade que o time pode ter. Eu parto do princípio que uma jogadora tem que saber fazer bem todos esses fundamentos. Ela não pode passar uma bola de graça num momento decisivo, quando existir a possibilidade de poder atacar uma bola que seria importante no lugar certo, na jogadora certa. Eu acho que esse desenvolvimento é muito importante em qualquer time, e a gente prioriza muito isso.

Novas lideranças

Nós vamos sofrer muito com a ausência de uma Thaisa. Mas também vamos encontrar novas lideranças. A própria Fernanda Garay, campeã olímpica, em uma forma exuberante. Um grande exemplo na seleção. A própria Carol, capitã do Minas, que também é um exemplo de atleta. O que não quer dizer que ela esteja dentro. Mas ela tem coisas que são importantes para o grupo. São coisas muito boas que estão acontecendo aqui dentro. E o que eu estou vendo aqui é muita preocupação com o grupo, com o time. Elas sabem que vão jogar uma grande competição, elas sabem aquilo que vão encontrar.

A única coisa que eu posso dizer é que elas estão se dedicando muito, estão correndo. Quem está um pouquinho fora do peso, está procurando cada vez mais entrar no peso. Está tudo correndo da melhor maneira possível. A gente tem que rezar a cada dia para que os problemas sejam os menores possíveis. Mas está tudo caminhando. O que nós vamos encontrar eu não sei. Mas a gente tem que se preparar para as coisas mais difíceis. Espero que a gente encontre problemas, sim. Para gente poder sair deles, poder encontra soluções.

Pedido de dispensa de Thaisa

Eu não conversei depois com a Thaisa. Vi algumas declarações dela, assim como dei algumas. Entendo perfeitamente os motivos dela, respeito. Thaisa sabe o respeito e o carinho que eu tenho por ela. Sei o que ela passou, o que ela sofreu para voltar a jogar. Ela foi para o meu time quando ela voltou da Turquia. Fui um dos primeiros a acompanhar todo o processo de volta dela. Foi desesperador, foi terrível, foi complicado. O que essa menina chorou, o que ela sofreu durante todo esse tempo. E ver onde ela está hoje, como ela conseguiu uma sobrevida, foi muito importante. Hoje ela é a melhor central do mundo, eu acho. E acho que é uma pena, mas também entendo o lado dela. Ela sabe o quanto é difícil a vida na seleção brasileira, sabe o quanto precisa estar bem, o quanto precisa se doar. Ela tem muito medo de decepcionar, Thaisa é intensa. Eu, de maneira nenhuma, tenho algo a recriminar. Ao contrário. Eu só acho uma pena. Porque vamos sentir muita falta dela.

Thaisa pediu dispensa da seleção — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Thaisa pediu dispensa da seleção — Foto: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Retorno de Carol Gattaz

A Carol fez por merecer a convocação. Durante alguns anos, ela tem jogado bem, fez bons campeonatos. Passou um momento que ela queria parar de jogar, mas, graças a Deus, não parou. Ela está correndo muito, está tentando muito. O joelho incomoda, né? A gente precisa dosar o trabalho dela, mas está na briga pela posição. A Carol sabe jogar voleibol, tem uma bola excepcional por trás da levantadora. Melhorou muito pela frente, isso é muito positivo. E tecnicamente ela é muito boa.

Sheilla na briga por vaga

A Sheilla, eu fui muito claro com ela. A gente sabe que ela sabe jogar voleibol. Mas tivemos uma conversa muito franca. Ela sabe qual a posição dela, como ela tem que se comportar. Com eu disse sempre, ela é uma das jogadoras mais inteligentes que eu já treinei. Ela sabe que ela precisa estar muito bem fisicamente, que ela precisa atacar muito bem. Porque a gente sabe que ela tem coisas excepcionais. Ela tem que atacar mais, que ela tem que derrubar a bola. Ela está brigando pela posição. Não tem nada definido. O fato de ela ser bicampeã olímpica, eu agradeço imensamente, vou ser grato eternamente. Mas ela tem que construir uma nova história para Tóquio.

Fernanda Garay, Ana Cristina e Sheilla durante treinos — Foto: Reprodução

Fernanda Garay, Ana Cristina e Sheilla durante treinos — Foto: Reprodução

Olimpíadas em meio à pandemia

É muito complicado. Mudar os hábitos, características de vida, de forma, de protocolos, todos os cuidados. Você tem que ter uma atenção muito grande, não tem como não ser dessa maneira. Os cuidados de um com o outro, muito maiores. É o que temos, não podemos fugir disso. Atrapalha? Muito. Mas atrapalha também os adversários. Então, não temos outra coisa a fazer.

Confiança no grupo

Mas assim, eu acho que esses Estados Unidos, China, Sérvia e Itália são grandes candidatos às primeiras colocações, né? Mas eu confio muito no time do Brasil, eu sempre acreditei muito. Principalmente quando eu vejo um time com uma energia, dedicação e com atitude, eu acredito. Então, o que vai acontecer, se vai ganhar, se vai perder, tudo depende do momento. Mas eu fico muito feliz quando eu vejo um grupo com esse tipo de resolução. “Estamos aqui, estamos treinando, estamos nos dedicando e fechadas para o que der e vier”. Eu acho que isso é o que a gente precisa. Vamos para tudo e vamos tentar fazer o nosso melhor.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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