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Zé Ricardo celebra estreia vitoriosa no Catar e projeto pessoal no exterior

Um ano e meio depois de seu último trabalho num clube brasileiro, Zé Ricardo vive uma nova realidade na carreira e na vida pessoal. Desde que deixou o

Zé Ricardo celebra estreia vitoriosa no Catar e projeto pessoal no exterior
Zé Ricardo celebra estreia vitoriosa no Catar e projeto pessoal no exterior

Redação Publicado em 10/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h07


Ex-treinador de Flamengo, Fortaleza e Internacional mostra firmeza de propósito, do tempo na Itália antes da pandemia à seleção de emprego para terra da próxima Copa do Mundo

Um ano e meio depois de seu último trabalho num clube brasileiro, Zé Ricardo vive uma nova realidade na carreira e na vida pessoal. Desde que deixou o Internacional, ao fim de 2019, o ex-treinador também de Flamengo, Vasco, Botafogo e Fortaleza acumulou experiências no exterior e iniciou há cerca de três meses seu primeiro trabalho num clube fora do Brasil, o Qatar SC, do país que sediará a próxima Copa.

– Na minha saída do Internacional no final de 2019, eu comecei a me preparar para trabalhar no “mundo árabe” ou em outro mercado externo. Junto do lado profissional, eu procurava dar uma oportunidade para a minha família de viver fora. Meu filho e minha esposa. A gente sempre alimentou esse desejo de viver fora do país como experiência de vida para a nossa família – conta.

Zé Ricardo no comando do Qatar SC — Foto: Divulgação

Zé Ricardo no comando do Qatar SC — Foto: Divulgação

No domingo passado, Zé Ricardo fez sua estreia pelo Qatar SC: vitória sobre o Al Khor por 2 a 1 na abertura da Ooredoo Cup, competição que acontece durante a Data Fifa. O treinador contou ao ge as primeiras impressões do futebol no Catar, destacando as altas temperaturas, que costumam ficar acima dos 40°C nesta época do ano.

– É tudo novo. Uma realidade diferente do Brasil. Nosso jogo foi 20h20 (horário local), mas nem por isso estava menos quente. Tivemos a saída de alguns jogadores importantes da equipe que foram servir às suas seleções. Abriu espaço para muitos jovens. Fizemos uma partida contra uma equipe que praticamente não perdeu seus atletas. Contra jogadores mais experientes, conseguimos ser muito equilibrados, organizados e uma vitória importante para dar confiança para eles.

Zé Ricardo, técnico do Qatar SC — Foto: DIVULGAÇÃO

Zé Ricardo, técnico do Qatar SC — Foto: DIVULGAÇÃO

Experiência na Itália até a explosão da pandemia

Ao fim do ano de 2019, Zé Ricardo e seu auxiliar, com o apoio das famílias, decidiram ter uma experiência no exterior. O treinador fez cursos e viagens a fim de aprender idiomas e conhecer novos centros do futebol. Por ter dupla cidadania e amigos com entrada na Lazio, ele foi para a Itália, onde ficou baseado em Roma, no CT do clube azul-celeste da cidade.

– Tive oportunidade de ir na Fiorentina, no Milan, no Benevento, que fazia boa campanha na Série B. Fiquei baseado em Roma e no CT da Lazio. Um amigo que eu tenho lá nos colocou bem à vontade para conhecer o trabalho. Era uma equipe que eu queria ver jogar, assim como a Atalanta. Era um desejo, um sonho ver um jogo da Champions League. Consegui assistir a Atalanta x Valencia no San Siro.

Zé Ricardo no centro de treinamento do Milan — Foto: Arquivo pessoal

Zé Ricardo no centro de treinamento do Milan — Foto: Arquivo pessoal

O que Zé Ricardo não imaginava era que o jogo em questão seria lembrado como uma “bomba biológica”. Isso porque o jogo no San Siro, que ocorreu em 19 de fevereiro de 2020, foi na mesma semana em que o primeiro caso de coronavírus foi registrado na região. Nas semanas seguintes, Bérgamo se tornou uma das cidades mais afetadas da Itália.

– Foi o jogo dito que explodiu a pandemia em Milão. Essa foi a história engraçada, porque a gente assistiu ao jogo na quarta-feira, e na sexta eu tinha viagem marcada de volta para o Brasil. Até então, a gente não tinha noção do que viria a partir disso. Depois, no Brasil já, que a gente via reportagens sobre aquele jogo, que pode ter disseminado o vírus – lembra o treinador, acrescentando:

– Realmente, foi uma festa linda. O time da Atalanta venceu por 4 a 1. Foi um time muito dinâmico e ofensivo. Mas infelizmente o jogo ficou em segundo plano. Foi uma coincidência que ficou marcada para mim. Além de ter sido uma primeira experiência num jogo de Champions League.

Partida entre Atalanta e Valencia no San Siro, em fevereiro de 2020 foi o primeiro jogo de Champions de Zé Ricardo. Mas ficou marcado pela disseminação do coronavírus em Milão — Foto: Daniele Mascolo/Reuters

Partida entre Atalanta e Valencia no San Siro, em fevereiro de 2020 foi o primeiro jogo de Champions de Zé Ricardo. Mas ficou marcado pela disseminação do coronavírus em Milão — Foto: Daniele Mascolo/Reuters

Veja outros temas da entrevista

Diferenças do Catar para o Brasil

– O atleta catari tem uma condição física menor do que a do brasileiro de uma forma geral, em sua média. São jogadores que, alguns deles ainda trabalham durante o dia e treinam na parte da tarde e noite. Alguns deles são liberados do trabalho para treinar. Mas já há uma grande movimentação no país e a cada ano a liga vai ficando mais forte. A gente se adaptou à questão do treinamento, treinamos muito à noite, pelo calor. Temos também os momentos de reza dos atletas, são respeitadas cinco rezas durante o dia.

Zé Ricardo comanda treinamento do Qatar SC — Foto: Divulgação

Zé Ricardo comanda treinamento do Qatar SC — Foto: Divulgação

Contato com Javi Martínez, ex-Bayern e seleção espanhola, contratado pelo Qatar SC

– Ele chegou um pouco depois de mim. Quando a gente recebeu o convite, o presidente me sinalizou que tinha ainda uma vaga para estrangeiro, no total são cinco. Eu já tinha começado a sondar nomes que me interessassem no futebol brasileiro. Até que o presidente me sinalizou que havia uma tratativa com o Javi Martínez. Logicamente, pela qualidade e experiência do Javi, a gente ficou feliz e torcendo para que desse certo, e deu.

Javi Martínez atuou no Bayern por nove temporadas — Foto: Getty Images

Javi Martínez atuou no Bayern por nove temporadas — Foto: Getty Images

– Nesse momento, eu pedi ajuda ao Rafinha, hoje lateral do Grêmio, que jogou com ele. Entrei em contato com o Rafinha, que me passou o contato do Javi. A partir daí, trocamos algumas ideias. Quando ele chegou em Doha, nós sentamos e conversamos. Mostrei como eu estava pensando em utilizá-lo. Ele se colocou à disposição para atender. Ele trabalha bastante. Infelizmente, no meio da pré-temporada, na Sérvia, teve uma lesão que já tinha acontecido no Bayern. Está fora há 25 dias, em fase final de recuperação. Tentamos contar com ele na estreia da liga, no dia 11.

Adaptação

– Entrei em contato com Paulo Autuori, Sebastião Lazaroni, Gama e outros treinadores que passaram por aqui, para que pudessem contar experiências que tiveram. O pessoal do clube tem me ajudado bastante. Ainda bem que temos muitos brasileiros trabalhando aqui. Preparador físico, treinadores de categorias menores, preparadores de goleiro. Depois de mim, chegou o Sergio Farias, que tem uma vivência grande aqui no mundo árabe e na Ásia.

Comunicação no clube

– A gente entendeu que seria importante um tradutor do português para o árabe. Foi uma indicação do professor Péricles Chamusca, que tinha trabalhado com ele aqui e hoje está na Arábia Saudita. Ele me ajudou na indicação. No intuito de facilitar para o jogador árabe. Não são todos que falam inglês. A comissão técnica aqui quase toda fala inglês, o meu auxiliar também. A gente entendia que nessa barreira do inglês passaríamos bem.

Zé Ricardo junto de membros da comissão técnica do Qatar SC — Foto: Divulgação

Zé Ricardo junto de membros da comissão técnica do Qatar SC — Foto: Divulgação

Propostas do Japão e do futebol brasileiro

– No meio de 2021, surgiu oportunidade de ir para o Japão. Um lugar que eu gostaria muito de ir, tenho amigos lá. Treinadores brasileiros falam da organização da liga, de como é a vida no Japão também. Ficou próximo de eu acertar com uma equipe japonesa. Nesse tempo, algumas equipes brasileiras me procuraram, eu agradeci muito, de forma honrosa, mas estava muito focado no que a gente queria. Eu, minha família e meu auxiliar. A gente estava decidido que seria um bom caminho para a gente, pelo menos para que pudéssemos vivenciar. Começamos a estudar algumas ligas, e as oportunidades do mundo árabe são muito próximas para o treinador brasileiro.

Chegada ao Qatar SC

– Através de alguns amigos, apareceu a oportunidade no Qatar SC. Foram feitas duas entrevistas, no Brasil ainda, com um tradutor ao meu lado. Foi pedido uma metodologia de trabalho, a gente enviou. Fomos aprovados na metodologia de trabalho. A partir daí, o clube estava entre dois nomes, acabei sendo escolhido. Estou muito feliz de representar uma equipe tão tradicional e tão importante como o Qatar SC, que passou por um momento turbulento. Último título da liga foi em 2004, tem uma Copa do Imperador em 2008. A partir daí, tiveram problemas políticos, o clube passou um momento em baixa.

– Na temporada passada, terminou em sexto na liga, melhorou. A nova direção tenta colocar novamente a equipe neste patamar de cima. Hoje temos duas equipes muito fortes, a do Al-Duhail, onde jogou o Dudu, e a do Al-Sadd, onde o Xavi é treinador. Essas duas equipes tem mais de 80% dos jogadores da seleção catari. Logicamente, tem outras grandes equipes ali atrás brigando pelo terceiro e quarto lugar. O Qatar SC tenta brigar por essa quarta vaga. Para o primeiro ano, seria um resultado muito plausível.

Zé Ricardo comanda o Qatar SC — Foto: Divulgação

Zé Ricardo comanda o Qatar SC — Foto: Divulgação

A volta do treinador brasileiro ao Catar

– No Catar, se não me engano, desde 2014 ou 2015, não tínhamos um treinador brasileiro. Mas tem uma história muito bonita aqui. Começou de forma impactante com o professor Evaristo de Macedo, que é muito respeitado aqui no Catar. Ajudou a fundar a liga. Então, é uma responsabilidade muito grande.

Clima da Copa do Mundo de 2022 no Catar

– O país está há muito tempo se preparando para a Copa. Os estádios, se não me engano serão oito, estão praticamente prontos. Hoje assisti a um jogo no Khalifa Stadium, está impecável. Se não me engano, neste estádio, no ano passado, só teve dois jogos. Estão tratando com muito carinho. A cidade tem muitas obras. O metrô está praticamente todo pronto. Muitas obras nas vias urbanas.

– Segundo relato de pessoas que moram aqui há bastante tempo, era um trânsito difícil, pois eram ruas estreitas. A partir do momento que foram escolhidos para a Copa do Mundo, foram muitas obras. Os clubes estão cedendo seus CTs para a Fifa, para se colocar em condições de receber todas as seleções. O nosso clube está recebendo reformas neste momento. Quando há o planejamento e a condição financeira de poder oferecer tudo isso, a expectativa é de que seja um grande sucesso.

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Globo Esporte

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