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Veja cinco jogadas de construção da Seleção nos últimos jogos. Por que não saem mais lances assim?

Com mais de cinco anos à frente da Seleção, Tite tem repetido nas últimas coletivas que procura criatividade e para isso leva pequenas mudanças de sistemas

Veja cinco jogadas de construção da Seleção nos últimos jogos. Por que não saem mais lances assim?
Veja cinco jogadas de construção da Seleção nos últimos jogos. Por que não saem mais lances assim?

Redação Publicado em 14/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 15h07


Contra Venezuela e Colômbia time concluiu mal tramas até a área. Thiago Silva cita dificuldades e auxiliar de Tite fala de modelo: “Medimos quantidade de passes trocados e a velocidade”

Com mais de cinco anos à frente da Seleção, Tite tem repetido nas últimas coletivas que procura criatividade e para isso leva pequenas mudanças de sistemas – nesta quinta-feira, aposta novamente em dupla de atacantes pelo meio, com Neymar e Gabriel Jesus -, traz novos jogadores – a novidade da partida contra o Uruguai na Arena da Amazônia é Raphinha – e busca alternância de modelos.

Contra a Venezuela, na maior parte do tempo, deixou a saída a cargo da dupla de zaga – Marquinhos e Thiago Silva, colocou Fabinho à frente, Gerson mais adiante e os dois laterais abertos. Diante da Colômbia, Danilo recuou para a saída de três e Alex Sandro ficou mais solto.

Marquinhos e Thiago Silva (com a bola), Fabinho à frente, com Paquetá encostando, os dois laterais em paralelo. Pela direita, Gerson mais avançado  — Foto: Reprodução

Marquinhos e Thiago Silva (com a bola), Fabinho à frente, com Paquetá encostando, os dois laterais em paralelo. Pela direita, Gerson mais avançado — Foto: Reprodução

A ideia era alternar propostas de saída de jogo desde a defesa ora sendo pressionado (caso da Colômbia), ora começando tudo de novo contra um time fechado (Venezuela). No vídeo acima, o ge separou cinco jogadas de ataque que foram editadas para entrar em duas análises da Seleção.

Elas apresentam boa troca de passes, duas delas com mais de um minuto de duração, outras com muito mais velocidade e objetividade – principalmente quando nas três que envolvem Raphinha, que é a esperança no mano a mano do time de Tite nesta noite contra o Uruguai.

Mas por que o Brasil conseguiu criar tão poucas chances com toda essa qualidade nas últimas partidas? Pergunta semelhante foi feita a Thiago Silva, experiente jogador da Seleção, e a Matheus Bachi, auxiliar de Tite, filho do treinador.

– Tite nos prepara para esse tipo de jogo. A ideia é fazer mexer, de um lado para o outro para que em algum momento o adversário dê uma brecha. Não pode ser troca de passes lenta, por que isso não vai criar nenhuma dificuldade para a outra equipe e eles vão de um lado para o outro e vão fechar os espaços. Mas, às vezes, em função do calor e de algumas coisas, como fuso, viagens longas, por vezes isso te tria um pouco da concentração em si e você não toma as melhores decisões. Mas acredito muito que essa troca de passe rápida vai encontrar espaço para jogadores de frente. É nesse momento que temos que ser agressivos para criar situação de desconforto para o adversário – disse o zagueiro de 37 anos, que estuda para ser técnico quando encerrar a carreira.

O papo com Matheus Bachi foi mais amplo. Ele tratou do modelo de saída de jogo da Seleção, da forma como o time treina para tornar natural essa troca de passes paciente – mas necessariamente veloz – até buscar o gol. O chamado treino invisível, sem adversários, apenas com posicionamento, é um dos preferidos de Tite.

Marquinhos e Thiago Silva recuam para sair a bola desde a área. Alinhados à frente estão Danilo, Fred, Fabinho e Alex Sandro. Marquinhos, Danilo e Fred formam um triângulo pelo lado direito. Thiago Silva, Fabinho e Alex Sandro do lado esquerdo — Foto: Reprodução

Marquinhos e Thiago Silva recuam para sair a bola desde a área. Alinhados à frente estão Danilo, Fred, Fabinho e Alex Sandro. Marquinhos, Danilo e Fred formam um triângulo pelo lado direito. Thiago Silva, Fabinho e Alex Sandro do lado esquerdo — Foto: Reprodução

Mas em pequenos jogos em campo reduzido, que duram 20 a 30 minutos, com cinco contra cinco, seis contra seis, a proposta é colocar jogadores em seus setores. Exemplo, Vini Jr fica num time pela esquerda contra um lateral da posição na direita. O volante recebe a bola na frente da área e tem menos espaço e precisa tocar ainda mais rápido para iniciar alguma jogada.

– O que a gente quer é propor maneiras diferentes da nossa equipe chegar no último terço. Para então potencializar o talento brasileiro. Ou gerar um contra um ou lance de finalização. Para o um contra um do Raphinha, uma jogada diferente do Ney, uma tabela com o Paquetá, uma infiltração, um facão do Gabigol, uma entrada pela direita do Jesus, gerar um contra um do Vini – explicou Matheus Bachi.

Com muitas das atenções sempre voltadas para Neymar, existe quase uma premissa básica. Limpar a área para o camisa 10 receber menos marcado possível. Como fazer isso? Pode ser abrindo laterais, com posicionamento à frente do primeiro volante de Gerson ou Fred. Tudo para atrair marcação e fazer o adversário fazer suas escolhas.

– Contra a Colômbia trouxemos o Danilo para dentro para fazer essa saída com três. Se der olhada várias vezes a gente consegue quebrar marcação porque o externo deles, o Luís Diaz, não sabia se ia fazer a pressão no Danilo ou se ele cortava um pouco o passe central. E aí nessa dúvida dele a gente conseguia encontrar ou Fabinho ou Fred por dentro e a gente abastecia o último terço. E abastecia o Ney por dentro – disse o auxiliar técnico.

Vídeos com cortes do jogo

Com pouco tempo de trabalho a cada convocação, a comissão técnica de Tite tem a prática de enviar vídeos de jogos para atletas antes deles se apresentarem. Normalmente mostra lances da última partida disputada e passa o que pretende repetir no próximo compromisso.

Foi assim antes dessa convocação, quando editaram jogadas contra o Peru e enviaram lances de troca de passes, de triangulação e de construção de jogadas. É uma maneira de encurtar o entendimento do que vai ser trabalhado no campo de jogo.

– A gente ataca normalmente com cinco jogadores mais um ou seis jogadores mais um. Temos feito normalmente saída de três jogadores com dois. Fazem um triângulo entre eles (em cada setor), dando essa mobilidade. Normalmente a gente tem um deles um pouco mais fixo, que é o Casemiro, o Fabinho ou o Douglas Luiz. São especialistas na função. Às vezes se fala de primeiro volante só como questão defensiva. Mas é difícil ter o domínio de primeiro para jogar também. Eles são sempre muito bons para abrir espaço para receber, se um dos zagueiros está com a bola. Também se posicionam no lugar certo. Dali geram espaço atrás, com um Fred, Gerson ou Bruno Guimarães fica em mobilidade maior para aproveitar esses espaços ou gerar dificuldade no adversário – conta o auxiliar técnico.

Thiago Silva comentou sobre a dificuldade de repetir lances deste tipo com mais frequência durante as partidas, seja pela compactação do adversário, pelo cansaço na partida ou até mesmo, em alguns momentos, pela pressa em buscar o ataque. A Venezuela pouco saiu, ainda mais depois de fazer o gol e exigiu troca de passes mais paciente, mas nem sempre com a velocidade necessária.

É um dos pontos de atenção ao qual a comissão técnica exige dos atletas. Troca de passes sem rapidez, na maior parte das vezes, pode se tornar ineficaz. Pois trocando de um lado ao outro, em movimento da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, o adversário não abre espaços. O objetivo é que a combinação de passes gere espaços para infiltração, triangulação ou finalização.

– Às vezes é mais difícil (avançar) porque um time está em bloco baixo e sempre vai ter cobertura curta. Vai acabar atrasando a jogada. A gente mede duas coisas. Tanto a quantidade de passes trocados quanto a velocidade. Medimos o tempo que cada atleta fica com a bola no pé. Quando tem time muito fechado quanto menos tempo você rodar do lado esquerdo para o lado direito e voltar maior espaço que a gente vai ter. Sempre tem momentos que a gente tem que acelerar. E quando essa bola acelera por dentro, é o momento de acabar a jogada. Quando encontra esse espaço ou tu define a jogada ou o adversário se organiza – cita Matheus.

Tite entre os auxiliares Matheus Bachi (ao fundo) e Cleber Xavier: comissão técnica cobra velocidade na troca de passes  — Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Tite entre os auxiliares Matheus Bachi (ao fundo) e Cleber Xavier: comissão técnica cobra velocidade na troca de passes — Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Ele exemplifica com o lance contra a Colômbia, que termina em jogada de Raphinha para Antony. O jogador do Ajax por pouco não marca depois que o Brasil troca passes, com os colombianos marcando por pressão na frente, mas com o time brasileiro conseguindo sair. O caminho, explica o membro da comissão técnica de Tite, é buscar passes pelo meio do campo para ganhar metros adiante e pegar o adversário mais exposto.

– Se o Fred demora para encontrar Neymar, a Colômbia recompõe e Neymar não encontra o Raphinha. A gente estimula os atletas no campo de defesa. Se o adversário agrediu e tem condição de passe por dentro, então usa. Fred tem essa característica e faz muito rápido. O Gerson segura um pouco mais, mas também encontra esse passe para frente. Edenilson faz isso muito bem no Inter. Fabinho é Casemiro são mestres nisso também. Casemiro continua evoluindo. Ele tem bola de primeira que ele nem olha e já enxergou. É boa essa sequência do Fabinho porque ele pega essa fluidez, esse entrosamento também. Bruno Guimarães também faz isso muito bem. A bola pela lateral as vezes demora um pouco mais. Mas o espaço por dentro tem que ser rápido, ou fecham os espaços.

Brasil e Uruguai se enfrentam nesta quinta-feira, às 21h30 (de Brasília), na Arena da Amazônia, em Manaus. O duelo é válido pela 12ª rodada da competição. A Globo, o SporTV e o ge transmitem a partida ao vivo para todo o Brasil

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