Aos 18 anos e com apenas sete jogos como profissional pelo Corinthians, Rodrigo Varanda sonha alto.

Para 2021, tem a meta ousada de terminar a temporada com 25 gols, número que só  (2017), Tévez (2005) e Deivid (2002) conseguiram pelo clube neste século.

Já para a carreira, Rodrigo Varanda tem os mesmos planos que a maioria dos jogadores da idade dele: virar ídolo da equipe em que joga, transferir-se para a Europa e disputar uma Copa do Mundo.

Mas o desejo do atacante que mais chama a atenção é relacionado à vida pessoal. Em entrevista ao ge, Varanda foi questionado sobre qual é seu maior sonho de consumo e, sem pensar muito, surpreendeu na resposta. Em vez de carros importados, artigos de luxo ou viagens internacionais, ele planeja destinar parte do dinheiro que vai receber para ações filantrópicas:

– Um sonho que eu gostaria de realizar é ajudar um instituto de câncer, acho que esse é o meu maior sonho, depois de dar uma casa boa para os meus pais – disse Rodrigo Varanda, que na sequência explicou o motivo dessa vontade.

– Minha avó faleceu de câncer e ela falou que esse era o maior sonho dela, que se eu fizesse isso iria realizar o sonho dela. Faz uns cinco ou seis anos que ela falou – contou o atacante, lembrando-se de dona Vera.

Nesta entrevista, Rodrigo Varanda analisou seu início pelo Corinthians, respondeu sobre a posição em que prefere ser escalado e contou que cogitou desistir da carreira de jogador há pouco tempo. Confira:

Há males que vêm para o bem. Você teve uma fratura no braço defendendo o sub-17, foi para o CT do time profissional fazer tratamento e acabou integrado ao elenco. Como vê tudo isso?
–Eu já não estava tendo uma boa sequência no sub-17. Eu vinha bem, mas não igual eu era antes. Já estava me acomodando, já estava incomodado comigo. Aí quando comecei a pegar uma sequência boa, fiz dois gols contra o Bahia, e aí contra o Botafogo eu rompi todos os ligamentos do braço.

– Foi quando bateu aquela vontade de desistir, de parar com tudo, comecei a pensar no tratamento como seria, que ia demorar a recuperação, me desanimei, mas meu pai conversou bastante comigo.

– Aí recebi a notícia que viria tratar no profissional e fiquei mais tranquilo. Pela forma do tratamento daqui. Aí fiquei mais de boa.

Por que pensou em desistir?
– Mais por causa do cotovelo mesmo, da lesão. Eu achava que não ia conseguir voltar a jogar o futebol que eu jogava. Pelo tempo parado eu achava que ia ser ultrapassado. Mas Deus me deu força para continuar, e estou aqui firme e forte.

Doeu muito?
–Doeu, mas o Caio (Mello, fisioterapeuta) aliviava pra mim no tratamento. Na hora da lesão não doeu tanto, doeu mais a recuperação, a fisioterapia, as coisas para fazer com trabalho de força.

E como foi a notícia da permanência entre os profissionais?
–Fiz a recuperação no CT, e o sub-20 estava de férias. A notícia que eu tinha é que eu iria tratar e, quando o sub-20 voltasse de férias, eu desceria. Eu queria voltar preparado, fazer uma boa temporada no sub-20 para voltar ao profissional. Aí comecei a fazer a parte física no campo com o Caio. E ele me colocava para fazer o “bobão” com os caras, já ia me soltando, fazendo amizade. Até que um dia faltou um jogador num treino de três contra três. E o Flávio (de Oliveira, preparador físico) me chamou. Fui bem, e o professor Mancini mandou eu voltar mais vezes. Aí fui me dedicando cada vez mais. No jogo contra o Bahia achei que eu ia estar no bolo, porque deu o surto de Covid-19. Quando cheguei no CT falaram: “Bracinho, sua hora chegou, agora eu quero ver”. Eu brincava que na hora que tivesse oportunidade eu ia mostrar meu futebol, aí os jogadores falavam que queriam ver se era isso mesmo.

Quais jogadores te zoavam?
– O Gil, o Otero, o Caio (fisioterapeuta). Mas aí naquele jogo contra o Bahia eu não estava inscrito (no Brasileirão).

E quem te colocou o apelido de bracinho?
– O Caio, fisioterapeuta. Porque eu quebrei os dois braços. Em 2018 foi o esquerdo e, agora (em 2020), rompi o ligamento do direito.

A chance entre os profissionais veio antes do esperado. O que mudou na sua vida desde então? Já está sendo reconhecido nas ruas?
– Todo mundo fala que o futebol muda a vida muito rápido, do dia para noite. Às vezes as pessoas me reconhecem, sim. Quando pego um Uber para vir pra cá: “Você que é o Varanda?” Que nem ontem peguei um para ir pra casa da minha mãe, e ele me reconheceu, pediu para tirar foto. Nas redes sociais também tem bastante comentário.

Qual o seu maior sonho no futebol?
– 
Meu maior sonho é conquistar bastante títulos no Corinthians, me tornar um ídolo, um dia jogar no futebol europeu, que é o sonho de todo jogador, e conquistar uma Copa do Mundo também com a seleção brasileira. São meus maiores sonhos.

Rodrigo Varanda estrou pelo Corinthians contra o Bragantino — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Rodrigo Varanda estrou pelo Corinthians contra o Bragantino — Foto: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Você mora com seu pai, que tentou ser jogador na juventude, mas não teve oportunidade. Além disso, ele é torcedor fanático do Corinthians. Como está sendo esse momento para ele e qual a importância dele para você ter se tornado jogador?
– Só tenho que agradecer a Deus por ter um pai desse na minha vida. É um paizão, me apoia em tudo, dá broncas também. Me motiva bastante. Se não fosse ele, minha mãe e minha irmã eu não estaria aqui hoje, pela forma como me trataram quando eu estava num momento difícil, de desistir da carreira. Eles estavam ao meu lado.

Mesmo ainda estando em início de carreira, você já conseguiu melhorar a vida da sua família?
– Já consegui dar uma condição melhor. Aos meus pais, minha irmã, que mora com minha mãe. Minha filha também mora bem com a mãe dela.

Você vê bastante a sua filha, de quatro anos?
– Vejo ela bastante. Quando não consigo ir por viagem, faço chamadas em vídeo. A gente conversa bastante.

Como foi ser pai aos 14 anos?
– No começo foi um pouco difícil. Quando veio a notícia, deu uma baqueada. Tão novo e ser pai. Mas meu pai conversou comigo, disse que estaria do meu lado, para eu ficar tranquilo, e tudo se acertou, ficou de boa.

O que tem achado das suas atuações até aqui? Tem gostado?
– Estou feliz, sim, acredito que cada vez que tenho oportunidade, nos treinos e no dia a dia, estou evoluindo mais.

– Tenho muito para evoluir ainda, sou novo, não era muito acostumado a jogar de lado. Agora está sendo uma experiência boa para mim. Cada vez estou me acostumando mais e gostando. Daqui para frente só vou evoluir mais.

Gol do Corinthians! Rodrigo Varanda ganha de Renan e bate na saída do goleiro Vinícius Silvestre, aos 2 do 2ºT

Gol do Corinthians! Rodrigo Varanda ganha de Renan e bate na saída do goleiro Vinícius Silvestre, aos 2 do 2ºT

Em que posição do ataque prefere atuar?
– Para mim, tanto faz. Não tem um que eu digo “ah, essa daqui é melhor”. Na base eu já joguei em todas, né? Então, para mim não sinto muita diferença nas posições.

Para um jovem que está começando, jogar sem torcida ajuda ou atrapalha?
– Eu sou um menino que gosta do povão. Com a torcida seria bem melhor, cobrando quando tem que cobrar, como é a torcida do Corinthians, Fiel. Se a Fiel estivesse presente, seria melhor para mim.

Já assistiu a jogos do Corinthians no meio da torcida?
– Já fui em bastante jogos, já fui na Gaviões (da Fiel), fiquei em vários setores da Arena.

Seu único gol foi no clássico diante do Palmeiras. O que sentiu ao marcar num Dérbi?
– Foi uma sensação inexplicável, não consigo falar até hoje, parece que saiu o mundo de cima de mim. Foi a realização de um sonho de criança. A camisa está num quadro. A camisa e a chuteira. A primeira a gente nunca esquece.

Quem eram seus ídolos no futebol quando você era mais jovem?
– Guerrero, Emerson Sheik, o Jô, Renato Augusto… o próprio Gil, Cássio. Tem bastante.

Por toda sua identificação com o clube, dá para dizer que a renovação de contrato será fácil? [Varanda tem vínculo com o Corinthians até janeiro de 2022]
– Ah, sim. Minha meta é fazer história aqui, a torcida pode ficar tranquila em relação a isso.

Você tem uma meta de gols para essa temporada ou deixa as coisas rolarem?
– Tenho metas, sim. Em 2015 eu fiz 20 gols pela base eu acho, minha meta esse ano é fazer uns 25, tem bastante campeonato aí para disputar, pretendo fazer bastante gols.

Deixe um recado para a torcida do Timão.
– Fala, Fiel. Obrigado pelas mensagens, por estarem me acompanhando, por elogiar, por cobrar. Só tenho a agradecer vocês por tudo. Vamos juntos na temporada, conquistar bastante títulos. Vai, Corinthians!

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Fonte: GE – Globo Esporte.