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Roberto Mancini busca na final da Eurocopa a redenção pela Itália

Roberto Mancini está exatamente onde queria. No centro das atenções da Itália, no comando de uma equipe moldada à sua feição, e cercado por aliados de longa

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Redação Publicado em 09/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 10h44


Rodeado de amigos de longa data na comissão, técnico carrega frustração como jogador da seleção, mas é o maior responsável pela revolução do futebol da Azzurra nos últimos anos

Roberto Mancini está exatamente onde queria. No centro das atenções da Itália, no comando de uma equipe moldada à sua feição, e cercado por aliados de longa data. Ele vive os últimos dias de expectativa pela decisão da Eurocopa-2020, a maior chance até agora de dar fim à sua frustração com a seleção.

Itália e Inglaterra disputam o título da Eurocopa no próximo domingo, às 16h (de Brasília), em Wembley. A TV Globo, o SporTV e o ge transmitem a partida com exclusividade.

A imagem acima retrata o protagonismo de Roberto Mancini nesta Itália. Sob seu comando, a Azzurra chega na decisão da Euro com doses significativas de favoritismo, como mostra enquete do ge. É a chance de vencer pela segunda vez o torneio — a primeira foi em 1968, numa época em que só quatro equipes estiveram na disputa, e quando o país sediou a copa. Pouco para uma seleção tetracampeã mundial.

Apesar da invencibilidade de 33 jogos (27 vitórias e seis empates, recorde nacional), iniciada bem antes da atual Eurocopa, a Itália não era vista com os mesmos olhos que Bélgica, líder do ranking da Fifa, ou França, última campeã do mundo, nem mesmo Inglaterra, anfitriã e rival na final. Esse status foi construído ao longo da campanha, com 100% de aproveitamento na fase de grupos e grandes atuações no mata-mata.

Qual fora o motivo para tanta desconfiança? A não classificação para a Copa de 2018. Vexame que só havia ocorrido uma outra vez na história da equipe, em 1958. Surpreendente para quem tinha ficado em quinto lugar na Euro-2016, mas até compreensível para uma seleção eliminada na fase de grupos dos Mundiais de 2010 e 2014.

Enquanto outros times acertavam os últimos detalhes para a viagem à Rússia, Roberto Mancini assumia o posto de técnico nacional, em maio de 2018, com a missão de reconstruir a Itália.

Roberto Mancini assumiu o comando da da Itália em maio de 2018, após fiasco da seleção — Foto: AFP

Roberto Mancini assumiu o comando da da Itália em maio de 2018, após fiasco da seleção — Foto: AFP

Os principais pontos no currículo eram o tricampeonato nacional pela Inter de Milão, entre 2006 e 2008, e a Premier League histórica pelo Manchester City em 20111/12. Um nome experiente, mas que não estava na melhor das fases (dirigia o Zenit), e nem era a primeira opção.

O início não foi fácil, com apenas uma vitória sobre a Arábia Saudita nos cinco primeiros jogos. Mas depois da derrota para Portugal, em setembro de 2018, a seleção italiana não perdeu mais.

Desempenho geral da Itália com Roberto Mancini
Em 38 jogos até agora, foram 91 gols marcados e 17 sofridos. Não perde há 32 partidas
Vitórias: 28Empates: 7Derrotas: 2
Fonte: Federação italiana de futebol (FIGC)

Azzurra fechou as eliminatórias para a Euro com 10 vitórias em 10 jogos, 37 gols pró e quatro contra. Primeira vez que se classificou para um grande torneio com 100% de aproveitamento. Também alcançou as semifinais da Liga das Nações 2020/21. Começou a qualificatória para o Catar-2022 com três triunfosDeu o troco na Espanha pela final da Euro-2012. E agora vai disputar a decisão de domingo.

— Agradeço aos jogadores. Eles acreditaram, desde o primeiro dia, que poderíamos produzir algo incrível. Agora nos falta mais um passo. Se chegamos até esse ponto, o mérito não é só meu, mas de todos que acreditaram nisso. Os jogadores e todos que trabalharam conosco nos últimos três anos merecem o crédito, porque não foi fácil — afirmou Roberto Mancini, após superar a Espanha.

Quase ninguém acreditava, mas estamos na final”.
— Roberto Mancini, após a classificação da Itália para a decisão da Eurocopa-2020
Os gols de Itália 1 (4)x(2) 1 Espanha, pela semifinal da Eurocopa

Os gols de Itália 1 (4)x(2) 1 Espanha, pela semifinal da Eurocopa

No jogo da classificação em cima da Espanha, a Itália não passou dos 30% de posse de bola. Sendo que o seu mínimo nas outras partidas da Eurocopa havia sido de 49%. O time teve só sete finalizações na semifinal, contra uma média anterior de 21. Mas sobreviveu.

Números que ajudam a entender, mas não explicam a totalidade do seguinte: a Itália de Mancini ataca como nunca, mas sabe se defender como sempre. É versátil, moderna, qualificada e unida.

Roberto Mancini comemora com os jogadores a classificação da Itália para a final da Euro-2020 — Foto: Reprodução / Twitter

Roberto Mancini comemora com os jogadores a classificação da Itália para a final da Euro-2020 — Foto: Reprodução / Twitter

O treinador soube mesclar a experiência de Bonnucci e Chiellini com a juventude de Barella e Chiesa. Roberto utilizou 35 atletas nesses mais de três anos. Dos 26 convocados para a Euro-2020, só não lançou Alex Meret, o terceiro goleiro. Demonstrou por diversas vezes a preocupação que tem de manter todo o grupo motivado.

A ‘famiglia’ Mancini

Difícil não recorrer ao clichê para analisar esse grupo. Não só porque a ideia de família ainda é uma instituição na Itália, mas também porque há a sensação de irmandade no dia a dia da delegação.

Reflexo do grau de intimidade entre os integrantes da comissão técnica. Mancini se rodeou de amigos de longa data, vários colegas dos tempos de jogador da Sampdoria. Os auxiliares Alberico Evani, Attilio Lombardo, Giulio Nuciari e Fausto Salsano estiveram ao seu lado nas décadas de 1980 e 1990. Participaram de uma fase áurea, que teve como ápice o título do Campeonato Italiano em 1990/91 — primeiro e único na Serie A.

Comissão técnica da Itália comemora com Mancini a vaga na final da Eurocopa-2020 — Foto: AFP

Comissão técnica da Itália comemora com Mancini a vaga na final da Eurocopa-2020 — Foto: AFP

Cada um desempenha hoje um papel na seleção. Evani e Lombardo colaboram com a parte tática. Um fala mais nos jogos, o outro nos treinos. Nuciari e Salsano focam na preparação do grupo. Todos eles aparentam ser bem próximos, e isso reverbera nos jogadores, com provocações e brincadeiras nos treinos e aquecimentos de partidas.

Há também colegas antigos como Gabrieli Oriali, o coordenador da seleção, que acompanha o treinador desde o período na Inter de Milão, e o preparador de goleiro Massimo Battara, que esteve com ele no City. Daniele De Rossi, campeão do mundo em 2006, é o “novato”, admitido na comissãoem março deste ano.

Mas a relação mais especial do técnico talvez seja com Gianluca Vialli, o chefe da delegação. Eles se consideram irmãos e são amigos há mais de 40 anos. Os dois se conheceram quando defendiam as seleções de base. Então Mancini convidou Vialli para jogar na Sampdoria, em 1984. Os dois formaram a dupla “Gêmeos do Gol” e conquistaram seis títulos juntos. Perderam a final da Liga dos Campeões de 1992, para o Barcelona.

Gianluca Vialli e Roberto Mancini se abraçam após a vitória da Itália sobre a Áustria, nas oitavas — Foto: Reuters

Gianluca Vialli e Roberto Mancini se abraçam após a vitória da Itália sobre a Áustria, nas oitavas — Foto: Reuters

Vialli foi convidado por Mancini para fazer parte da delegação nacional em novembro do ano passado, depois de terminar o tratamento contra um câncer no pâncreas que persistiu por 17 meses. Ele chegou a perder 16kg em meio à quimioterapia.

Hoje Vialli se encontra curado. O ex-atacante costuma interagir com Mancini durante os jogos e fala muito com os jogadores. Nos treinos, chama a atenção pelas caminhadas em torno do gramado, sempre com fones de ouvido, parecendo alheio ao que acontece em volta.

Apesar do talento que tinham e do sucesso obtido em clubes, principalmente na Sampdoria, Mancini e Vialli compartilham do sentimento de frustração quando se trata de seleção italiana. O primeiro foi convocado para a Copa do Mundo de 1990, em casa, mas não entrou em campo. O segundo ficou fora por lesão.

Roberto Mancini poderia ter disputado outras duas Copas, mas teve conflitos com seus superiores. Na preparação para o Mundial de 1986, não obedeceu às regras de concentração de Enzo Bearzot em uma viagem aos Estados Unidos. Oito anos depois, entrou em rota de colisão com Arrigo Sacchi, por ter poucas oportunidades em amistosos. Ao todo, disputou 36 jogos pela equipe nacional e marcou quatro gols.

Ele já admitiu publicamente que a sensação de fracasso como jogador da Itália alimenta a motivação como técnico. Em sua apresentação como o líder da Azzurra, Roberto Mancini declarou que tinha como objetivo levar a seleção “ao topo do mundo”. Para conquistar a Eurocopa, o que não é pouco, falta apenas um passo.

Roberto Mancini busca como técnico a glória que não conseguiu como jogador da Itália — Foto: Getty Images

Roberto Mancini busca como técnico a glória que não conseguiu como jogador da Itália — Foto: Getty Images

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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