“Projeto Ângelo” no Santos tem dedo de gerente, pedido de Cuca e aulas com Ariel Holan

Jorge Andrade detalha ascensão de promessa de 16 anos: “Não tinha mais desafios na base”

A meteórica ascensão de Ângelo no Santos começou muito antes dos dribles e das jogadas de efeito que você, torcedor, está vendo em 2021. O menino de apenas 16 anos é tratado como “diferente” há alguns anos. E só chegou tão rápido assim ao time profissional por, simplesmente, não ter mais adversários à sua altura nas categorias de base.

Ângelo chegou ao Santos em 2014, com nove anos, mas vamos pular para 2019, quando começa a história contada pelo gerente executivo de esportes do clube, Jorge Andrade. À época, o dirigente ainda era responsável apenas pelas categorias de base do Peixe e, assim que contratado, logo foi avisado sobre o atacante, que ainda tinha 15 anos.

Destaque de sua categoria, a sub-15, Ângelo, com dedo de Jorge Andrade, foi promovido para o time sub-17. Nem ali, porém, o novo raio parecia estar desafiado.

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– Ele sobrou. Ele fez um jogo contra o Inter, na primeira rodada do Brasileiro da categoria. Ganhamos do Internacional por 3 a 0, que poderia ter sido seis. Ele destruiu com o jogo – lembra Jorge, em entrevista ao ge.

Veja bela jogada de Ângelo no time profissional do Santos

Foi o suficiente para o garoto de apenas 15 anos (!) chegar ao sub-20 do Santos. Depois da paralisação do futebol por causa da pandemia do novo coronavírus, Ângelo passou a jogar com os atletas de até 20 anos. Mas não foi o suficiente.

– Ele sobrou muito no sub-20. Ele tinha 15 anos, perto de fazer 16, e não tinha mais desafios na base – definiu o gerente do Santos.

Ângelo aparece com cabelo cortado em treino do Santos por causa de trote dos mais velhos — Foto: Ivan Storti / Santos FC

Mas e agora? O que fazer? Subir um garoto de só 15 anos para o profissional? Pular etapas? É aí que entra o técnico Cuca.

Contratado em agosto, o treinador sabia que não poderia registrar novos jogadores, por causa das punições que o Santos já tinha na Fifa. Cuca, então, em uma conversa com Jorge Andrade, àquela altura já gerente de futebol do clube, perguntou:

– Quem é o jogador mais diferente da base, Jorge?

Jorge Andrade, então, respondeu que era Ângelo. Cuca, interessado, rebateu:

– Ele está pronto (para subir ao profissional)?

E coube a Jorge Andrade dizer, naquele momento, que achava que Ângelo ainda não estava pronto. Afinal, era um garoto de apenas 15 anos. Mas Cuca não esqueceu daquele nome.

Cuca, técnico do Santos, teve importância na ascensão de Ângelo — Foto: Ivan Storti/Santos FC

O treinador, em busca de soluções para as carências do elenco do Santos, passou a acompanhar os jogos do sub-20. E quem chamou atenção? Ele mesmo, Ângelo. Cuca, então, encantado com o garoto, chamou Jorge Andrade e brincou com o gerente de futebol:

– Esse é aquele que você me disse que é diferenciado? E por que não me deixa lançar ele? É para outro lançar? – perguntou o treinador, aos risos, de acordo com Jorge Andrade.

É aí que começa a trajetória de Ângelo no time profissional. Sem adversários nas categorias de base, passou a treinar contra zagueiros que o desafiassem. Lucas Veríssimo e Luan Peres passaram a ser obstáculo para o garoto de 15 anos. Com meninos da sua idade, e até mais velhos, ele já não se sentia mais desafiado.

– Aí ele começou a treinar no profissional e o Cuca trabalhar com ele. Qual era o desafio dele? Treinar contra o Lucas Veríssimo. Porque não era mais desafio mais treinar com os meninos da base – disse Jorge.

Treinado por quase cinco meses por Cuca, Ângelo entrou em campo nove vezes em 2020 pelo time profissional do Santos. Mesmo jogando pouco, a análise interna é de que o garoto estava evoluindo para, em 2021, poder ser titular em jogos como a vitória por 2 a 1 sobre o Deportivo Lara, pela estreia da Libertadores.

Ângelo abraça Ariel Holan, do Santos — Foto: Ivan Storti / Santos FC

Agora sob os cuidados de um novo professor, Ângelo tem tido aulas, literalmente. Ariel Holan, declarado fã de jovens atletas, tem dedicado parte do seu tempo para ajudar a joia do Santos a evoluir.

Na estreia do Peixe no Campeonato Paulista, por exemplo, ainda assistindo à equipe das arquibancadas do Canindé, Ariel Holan pediu para Jorge Andrade, no intervalo, conversar com o auxiliar Marcelo Fernandes, que comandava o time àquela noite, e pedir para Ângelo explorar mais o fundo do campo, não apenas o meio.

Antes da partida contra o Deportivo Lara, nesta terça-feira, Holan ministrou uma aula particular para Ângelo.

– Eu entrei na sala e o Ariel estava há meia hora mostrando para o Ângelo atletas que faziam esses dribles dele para o meio e mostrando como ele poderia driblar para fora, para o fundo – revelou Jorge Andrade.

Pouco depois, Ângelo entrou em campo e deu muita dor de cabeça para a defesa do Deportivo Lara, veja só, explorando a lateral direita do ataque. Foi assim que o garoto fez ótima jogada e cruzou para Marcos Leonardo quase abrir o placar na Vila Belmiro.

– Isso foi trabalhado. Ele ainda está com o cacoete (de driblar para o meio). Na base, o Ângelo driblava todo o time por dentro e fazia o gol. No profissional vai ser mais difícil, então tem de ter as duas opções.

O futuro

Ângelo tem contrato até 2023 e já é observado de perto por diversos gigantes do futebol europeu. A multa contratual da joia é de 60 milhões de euros. O Santos promete acompanhar de perto o desenvolvimento do garoto, dentro e fora de campo.

– Temos de acompanhar muito bem. Acompanhar no sentido comportamental. É um menino fantástico, com uma educação plena. Um menino do bem. Tem um comportamento para ser um grande atleta, um grande ídolo do Santos. Ele tem tudo para ser um grande jogador, um grande jogador do futebol brasileiro – explica Jorge Andrade.

Ângelo se destacou contra o Deportivo Lara — Foto: Ivan Storti/Santos FC

– Temos de ter um acompanhamento comportamental, porque, realmente, jogando mais e mais vezes vai ter mais assédio de todos. Tudo vai girar em torno dele. Mas como ele tem um acompanhamento muito legal, da doutora Marisa (Alija, empresária e advogada), eu não vejo problema nisso. Eu admiro ele.

“Filé de borboleta”, como dizia Vanderlei Luxemburgo sobre Neymar em 2009, Ângelo faz um trabalho físico particular com o preparador Sérgio Peres. Tem, também, acompanhamento de outros profissionais.

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Fonte: G1 – Globo.