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Muricy diz que chorou em título por crianças do São Paulo e elogia Crespo: “Não esperava tanto”

Uma cena marcou os primeiros momentos de festa do São Paulo com o título do Campeonato Paulista. Sentado em uma das numeradas inferiores do Morumbi, o hoje

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Redação Publicado em 26/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 19h01


Assista à entrevista do coordenador de futebol do clube ao SporTV

Uma cena marcou os primeiros momentos de festa do São Paulo com o título do Campeonato Paulista. Sentado em uma das numeradas inferiores do Morumbi, o hoje coordenador de futebol Muricy Ramalho chorou muito pela conquista que eliminou um jejum de quase nove anos sem títulos da equipe tricolor. Nesta quarta-feira, o antigo treinador explicou o porquê da emoção no domingo.

Em entrevista ao “Seleção SporTV”, Muricy Ramalho diz que pensou nas crianças são-paulinas que sofreram com a seca do clube nos últimos anos. Antes do título do Paulistão, o São Paulo havia comemorado o último troféu em 2012, na Sul-Americana daquele ano.

—Toda hora encontrava são-paulino zangado e criança não querendo torcer mais, meus filhos desistindo do São Paulo. Não sou de fazer média, sou apegado à camisa. Eu me entrego. Esse começo foi duro demais, parte financeira é ruim. O que me pegou foi a torcida, pois andava por aí e era loucura. No fim, parecia que a gente estava disputando a Copa do Mundo, então me emocionei mesmo — comentou.

Muricy Ramalho chora após título do São Paulo — Foto: Reprodução

— Nunca chorei em nenhum título meu, até com o Pelé do meu lado, mas foi principalmente pensando nas crianças que torcem para o São Paulo, porque o time não ganhava de ninguém e elas sofriam até bullying na escola. Agora tiramos um peso, mas é só um começo e temos que trabalhar muito mais —disse Muricy.

O título do fim de semana coroa um trabalho relâmpago de Hernán Crespo. Em apenas três meses, o argentino conseguiu tirar o São Paulo da fila. O time encaixou e encontrou um padrão, o que surpreendeu até o próprio Muricy Ramalho.

— Foi tudo muito explicado para o Crespo sobre o que queríamos, e ele está surpreendendo, pois não esperávamos tanto. Esperávamos bom trabalho, mas não esse trabalho tão qualificado — admitiu Muricy Ramalho, um dos profissionais do São Paulo mais próximos de Crespo no dia a dia.

Muricy Ramalho se emociona com o título do São Paulo

Muricy Ramalho se emociona com o título do São Paulo

— O pessoal da Barra Funda abraçou todos eles da comissão, e eles também abraçaram o pessoal da Barra Funda. Então, parece que eles estão há uns dez anos lá. Está dando tudo certo por enquanto. O resultado é fundamental, e nosso time tem que ser mais competitivo, como está sendo.

Confira mais respostas de Muricy Ramalho:

Trabalho do Crespo

— Traçamos um perfil no São Paulo. Pela pandemia, não poderíamos conversar pessoalmente, traçamos um perfil de treinador e fomos atrás nas videoconferências que fiz com dez treinadores. Ele é um cara da nova geração, bem formado. Era importante para nós a formação dele na Itália, e teve um começo vitorioso com o Defensa y Justicia que chamou a atenção. Mostramos o que queríamos, o legado deixado com Diniz pela boa posse de bola, mas queríamos um time mais intenso, marcar pressão, ser vertical, que era o desejo do torcedor. O torcedor gosta do time assim no Morumbi, o time que vem aqui tem que sofrer, não ter espaço.

— Ele gosta de conversar, e conversamos muito com ele. Chama a atenção sobre a parte tática, da intensidade, o perfil vitorioso como jogador e treinador, e para fechar o pacote do perfil, aí vamos para o caráter. Não adianta trazer bom futebol e o cara fazer uma bagunça danada lá na Barra Funda.

— Explicamos o que queríamos e até onde ele poderia fazer, ele traria a comissão técnica, vieram em cinco, só que nossa comissão técnica não pode mexer, pois é uma estratégia nossa. Dizíamos: “Você vai ter que lidar com a base”, porque vamos juntar Cotia com Barra Funda, isso é uma estratégia do clube, e ficou tudo muito claro. Não adianta o cara chegar e ser dono do clube.

Três zagueiros

— O Crespo praticava com três zagueiros no Defensa y Justicia. O sistema é dele, mas claro que ele é um cara inteligente e foi procurar sobre isso na história do São Paulo, pois foi praticamente um esquema tricampeão brasileiro. É um sistema que o torcedor gosta. Queríamos que ele respeitasse o que o torcedor gosta, e esse é um esquema que trouxe da Argentina e também com aval de todos nós do São Paulo, porque sabemos que é um esquema vencedor.

— O Luan está fazendo gol, ele não sai do sistema de meio-campo com três zagueiros. Você pode dizer que ataque à vontade, que não fiquem preocupados se perder a bola, pois não vai acontecer nada porque temos três caras lá atrás rápidos. Eu dizia isso lá atrás, e o Crespo diz a mesma coisa. Estamos com mais confiança. Tínhamos um time bom no Brasileiro, muito bem treinado, mas tínhamos dificuldade de arriscar. Os jogadores hoje estão mais seguros.

Miranda

— O Miranda é um cara que seria importante porque é um vencedor. No sistema de três zagueiros, daria condições para os outros dois jogarem, é um cara que enxerga o jogo, faz muitas coberturas. É um líder, não é de falar, mas é dentro de campo. Precisávamos de um cara assim na nossa defesa, por isso conversei com o Miranda, pois existiam dúvidas, mas dei a segurança de que estamos com um novo pensamento e seria importante, então ele comprou a ideia.

Hernanes

— O Hernanes está voltando. O negócio ficou muito competitivo no setor dele, tem uma molecada que vem aí. Teve um dia que jogamos com Liziero, Sara, Luan e Igor Gomes, tudo de Cotia. Os moleques não param de correr e são intensos como o treinador gosta. O Hernanes treina muito, mas ele está vendo que o lado competitivo do time aumentou demais, então vai brigar muito. Ontem voltou a jogar e vai ter que trabalhar como sempre fez e ter paciência, porque o negócio está muito competitivo.

Hernan Crespo e Muricy Ramalho durante treino do São Paulo — Foto: Fellipe Lucena/saopaulofc

Hernan Crespo e Muricy Ramalho durante treino do São Paulo — Foto: Fellipe Lucena/saopaulofc

Trabalho do dia a dia no São Paulo

— Temos muita dificuldade lá, porque a parte financeira está arrebentada. É muito difícil trabalhar desse jeito. O que pedia para os nossos dirigentes, como o Rui Costa, o Nelson e o Belmonte: temos que ser claros com os jogadores, que vamos ter dificuldades para pagar mesmo, mas o que prometemos com os jogadores temos que fazer. Eu falava: “Deixa que eu vou conversar com eles sobre isso”.

— Para ter uma ideia: até falei com os jogadores ontem, pois começamos a ganhar o Paulistão quando o planejamento depois do jogo contra o Flamengo era dar mais ou menos 11 a 12 dias para os jogadores. Tinha problemas de salários e nosso treinador estava chegando, sem a maioria dos jogadores, que iam tirar 15 dias de férias, então ia ficar praticamente sem time para a estreia.

— Eu conversei e agradeci demais aos jogadores, porque estavam arrebentados, dizia que o ideal é descansar, mas estamos chegando com treinador agora. Eles aceitaram de não descansar, depois o Crespo ia organizando o negócio. O processo é importante.

— Fizemos reunião mostrando para eles a dificuldade do clube, não dá para ficar escondendo as coisas. Montamos um plano com os jogadores, se vender jogador 10% vai para o fundo para pagar a dívida com os jogadores, então é um processo muito importante. Tem que falar a verdade para o jogador. Jogador não gosta de ser enganado. É muito claro o negócio lá e isso ajuda nas vitórias.

Crespo esteve com Muricy Ramalho e Marcos Vizolli no São Paulo — Foto: Reprodução/Twitter

Crespo esteve com Muricy Ramalho e Marcos Vizolli no São Paulo — Foto: Reprodução/Twitter

Estreia contra o Fluminense e Brasileirão

— Jogo duríssimo. Não sou treinador, mas sigo indo atrás dos caras (risos). O Fluminense está muito bem dirigido; inclusive na ideia dos brasileiros, um que seria entrevistado era o Roger, mas aí já tinham dito que ele estava apalavrado com o Fluminense. É um treinador interessante demais e está fazendo um ótimo trabalho.

— Falei com os jogadores: “Legal, somos campeões, mas agora acabou, agora a briga começa sábado de novo e a cobrança tem que vir sábado de novo”. Ganhei três Brasileiros porque no dia seguinte da churrascaria acabava tudo; na segunda já era treinar de novo, meu. Aqui tem que ganhar de novo, a briga continua sábado de novo, é outra coisa. A pressão vai existir porque passou o Paulista, agora a torcida quer o Brasileiro.

— Temos um bom plantel, que ainda estamos fechando. Em algumas posições, ainda precisamos (reforços), pois tínhamos desequilíbrio. Estamos tentando equilibrar, então tenho esperança de bom campeonato.

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Fonte: Ge – Globo Esporte.

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