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Guerra política entre Foca e Fisa fez GP da África do Sul de F1 em 1981 virar prova de Fórmula Livre

Disputas políticas sempre foram uma marca na Fórmula 1, e, no começo dos anos 1980, isso não era novidade. Mas no dia 7 de fevereiro de 1981, há exatos 40

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Redação Publicado em 07/02/2021, às 00h00 - Atualizado às 15h27


Disputas políticas sempre foram uma marca na Fórmula 1, e, no começo dos anos 1980, isso não era novidade. Mas no dia 7 de fevereiro de 1981, há exatos 40 anos, o GP da África do Sul que abriria o campeonato se transformou no palco de uma guerra política de grandes proporções. A corrida de Kyalami não contou pontos para o campeonato e, oficialmente, foi de Fórmula Livre, não de F1. Foi um dos capítulos mais tensos da disputa entre a Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (Fisa), dirigida pelo francês Jean-Marie Balestre, e a Associação dos Construtores (Foca), comandada pelo inglês Bernie Ecclestone.

Explica-se: na virada dos anos 1970 para os 1980, as equipes inglesas estavam à frente no desenvolvimento dos chamados carro-asa, superando as escuderias de fábrica, como Ferrari, Renault e Alfa Romeo, que, do outro lado da trincheira, pressionavam a Fisa para banir as minissaias laterais responsáveis pelo efeito-solo. Já times como Brabham (dirigida por Ecclestone), Lotus, Williams, McLaren, entre outras, brigavam pela manutenção do regulamento, e, claro, eram lideradas por Bernie. Nesse cenário, Balestre e Ecclestone brigavam pelo poder na própria F1. Estava pronto o cenário para a cizânia.

Antes de chegarmos a Kyalami, voltemos a 1980: antes do GP da Espanha, a Fisa multou 15 pilotos ausentes nas reuniões sobre segurança na Bélgica e em Mônaco. As ausências foram uma retaliação das equipes da Foca pela divisão dos lucros da categoria. Ecclestone, claro, contestou as multas, enquanto os dirigentes de Ferrari, Renault e Alfa Romeo apoiaram a Fisa. Como as multas de US$ 2 mil para cada piloto não foram pagas, a Fisa suspendeu as licenças. Em resposta, as equipes filiadas à Foca ameaçaram se retirar da corrida.

Alan Jones rumo à vitória em Jarama, em 1980 — Foto: Getty Images

Alan Jones rumo à vitória em Jarama, em 1980 — Foto: Getty Images

Organizador do evento, o Real Automóvel Clube de España (Race) se ofereceu para pagar um depósito sobre as multas devidas pelos pilotos. A Fisa recusou, a menos que fosse provado que o depósito vinha dos próprios pilotos, o que politicamente a Foca não queria. O Rei Juan Carlos não cedeu, alegando que o Race era o responsável pelo evento, e não a Federação Espanhola de Automobilismo, filiada à Fisa. Com isso, não seria necessário os pilotos estarem com a licença da Fisa para a corrida. Sem Renault, Ferrari, Alfa Romeo e Osella, a prova foi levada adiante, mas a Fisa decidiu não computar os resultados para o campeonato.

Em 1981, o GP da África do Sul foi originalmente programado para abrir o campeonato. Porém, a guerra entre Fisa e Foca prosseguia. O motivo do novo imbróglio foi a insistência da Fisa em adiar a data da prova (7 de fevereiro), algo que a organização do evento não queria. Como resultado, as equipes filiadas à Foca insistiram em correr em Kyalami, e ainda por cima usando os carros na especificação de 1980, ou seja, com as minissaias flexíveis que amplificavam o efeito-solo e estavam banidas para 1981.

Nelson Piquet no GP da África do Sul de 1981: pontos não valeram — Foto: Getty Images

Nelson Piquet no GP da África do Sul de 1981: pontos não valeram — Foto: Getty Images

As 12 equipes do grupo da Foca, então, se reuniram e levaram o evento adiante como sendo de Fórmula Livre, ou seja, sem restrições de regulamento. Alfa Romeo, Ferrari, Ligier, Renault e Osella não se inscreveram. Com isso, todos os 19 carros em Kyalami seriam equipados com motores Ford Cosworth. Nelson Piquet conquistou a pole position, à frente de Carlos Reutemann (Williams), Alan Jones (Williams) e Keke Rosberg (Fittipaldi). Uma atração da prova era a sul-africana Desireé Wilson, 16ª colocada entre 19 competidores.

Choveu no dia da corrida, e Piquet rapidamente assumiu a liderança, seguido por Elio de Angelis (Lotus) e Jan Lammers (ATS), enquanto Reutemann, que largara com pneus slicks, ficou para trás. Afoito, o holandês tentou tomar o segundo lugar, mas bateu e abandonou. Com isso, John Watson (McLaren) e Nigel Mansell (Lotus) ascenderam na classificação.

Carlos Reutemann teve ótima atuação na chuva em Kyalami, em 1981 — Foto: Reprodução

Carlos Reutemann teve ótima atuação na chuva em Kyalami, em 1981 — Foto: Reprodução

Quem começou a crescer na prova foi Jones, que foi subindo até o segundo lugar, mas parou na 18ª de 77 voltas para colocar pneus slicks, já que a pista secava. Piquet demorou demais a fazer a troca de pneus, e o pit stop se deu apenas na volta 30.

Com as paradas dos ponteiros, Reutemann assumiu a liderança com seus pneus slicks, seguido por Watson e Ricardo Zunino, companheiro de Piquet. Com pneus novos, o brasileiro reagiu de forma fulminante até chegar à segunda posição, mas não havia como caçar Reutemann, que venceu a prova com 20 segundos de vantagem. De Angelis fechou em terceiro, à frente de Rosberg, Watson e Riccardo Patrese (Arrows).

Reutemann teria sido campeão se vitória em Kyalami tivesse valido em 1981 — Foto: Reprodução

Reutemann teria sido campeão se vitória em Kyalami tivesse valido em 1981 — Foto: Reprodução

Convencionou-se dizer que Carlos Reutemann teria sido campeão mundial de 1981 caso os resultados de Kyalami não tivessem sido anulados. Mas nesse caso, ao contrário da corrida de Jarama, já se sabia de antemão que os pontos não valeriam, até porque, oficialmente, a prova realizada na África do Sul foi de Fórmula Livre, e não de Fórmula 1.

Pelo bem, pelo mal, as equipes da Foca chegaram para a abertura oficial do campeonato, em Long Beach, com carros sem as minissaias flexíveis. Na segunda prova, no Brasil, a Brabham apareceu com mais uma inovação genial de Gordon Murray: as suspensões hidropneumáticas, que rebaixavam o carro a uma certa velocidade e reproduziam o efeito solo, mesmo com minissaias fixas. Uma a uma, as equipes copiaram a solução da Brabham, e um grande campeonato se deu, com um inesquecível título de Nelson Piquet. A guerra Fisa e Foca ainda continuaria, mas sem mais nenhuma anulação de corrida.

 — Foto: Infoesporte

— Foto: Infoesporte

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Fonte: GE – Globo Esporte.

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