Diário de São Paulo
Siga-nos

Fabi: Thaisa deixa legado como uma das maiores da geração

Eu conheço a Thaisa desde muito novinha. Joguei com ela na minha primeira passagem, na primeira oportunidade que eu vesti a camisa do Rio. E já escutava muito

Thaisa
Thaisa

Redação Publicado em 08/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h27


Ex-líbero e companheira da central nos dois ouros olímpicos, comentarista faz longo relato sobre convivência e aprendizado com a jogadora, que anunciou a aposentadoria da seleção

Eu conheço a Thaisa desde muito novinha. Joguei com ela na minha primeira passagem, na primeira oportunidade que eu vesti a camisa do Rio. E já escutava muito sobre ela. Porque ela vem das categorias base do Tijuca, uma jogadora que chamou a atenção de todos pela altura. Mas o que mais me impressionou quando eu conheci a Thaisa sempre foi a personalidade. É uma jogadora diferente, né? Lógico, com 1,96m…

Todo mundo já depositava uma certa responsabilidade sobre o que ela seria no futuro. Era tecnicamente muito boa. Mas aos poucos foi confirmando a expectativa. Muito jovem, chegou num time com atletas renomadas. A Fernanda Venturini, Sassá, Jaqueline, Fabiana, o próprio Bernardinho. E sempre me chamou atenção a personalidade da Thaisa. Eu acompanhei muito de perto toda a trajetória. Não só ao lado no clube, mas na seleção brasileira. O crescimento da Thaisa, o amadurecimento da mulher Thaisa. E que assombrou a todos, o mundo, quando vestia a camisa da seleção brasileira e fazia todas aquelas coisas que ela fazia.

Thaisa abre mão de Tóquio e anuncia despedida da Seleção

Thaisa abre mão de Tóquio e anuncia despedida da Seleção

Se a gente imaginar que, numa partida de vôlei, nos momentos mais decisivos, sempre o maior destaque são as jogadoras que pontuam mais, as jogadoras de extremidade. E a Thaisa, pelo meio, sempre foi um ponto de segurança de todas as levantadoras. Eu me lembro muito de ela gostar dessas responsabilidades, de curtir esses momentos de muita tensão. E isso fez da Thaisa uma jogadora diferente. Se você perguntar pelo mundo quem foi uma das maiores dessa geração, certamente a Thaisa vai estar entre elas. E ela jogou numa seleção brasileira que tinha Sheilla, que tinha a própria Fabiana. Jogadoras espetaculares.

Thaisa e Fabi em treino da seleção — Foto: CBV/Divulgação

Thaisa e Fabi em treino da seleção — Foto: CBV/Divulgação

Eu tive o privilégio de ter estado na seleção com ela, de ter convivido durante muito tempo nos clubes. De conhecer de forma íntima, acompanhar o amadurecimento, o crescimento, e na jogadora que ela se transformou. E, depois de dois títulos olímpicos, jogar em clubes grandes, sempre buscando títulos. Quando você pensa em contratação do elenco e você vai ter a Thaisa, você vai pensar em um time para chegar nas finais.

Acontece aquele problema no joelho. Ela já teve uma torção no tornozelo. Foram sucessivas lesões que colocariam em xeque a vida de qualquer atleta. Não era simples voltar a jogar. Porque, num primeiro momento, acho que era voltar a jogar. E a força mental dela, acho que toda essa personalidade da carreira da Thaisa desde o início, fez muita diferença para esse momento de desconfiança. De um: “Será que vai dar? Será que não vai dar?”. E por incrível que pareça, ela se adaptou. Ela voltou mais forte. E certamente vai fazer falta para nossa seleção.

Mas é preciso entender tudo o que se passou ao longo da vida dela, desses momentos de lesão. Dos medos, dos anseios, da saúde. E eu tenho certeza que ela não tomou essa decisão de uma hora para outra. Deve ter sido uma temporada dura para ela. Porque condições técnicas certamente ela tem. E alguma coisa ali aconteceu para que ela não pudesse entregar 100%. E é isso. Porque a Thaisa é assim: 100% em tudo. A Thaisa é muito intensa, é muito coração. Até a mesma facilidade de comemorar um ponto, de vibrar e a humildade de pedir desculpas.

Ela é uma jogadora muito intensa. E talvez, por essa intensidade, ela saiba o preço que ela paga. O preço que ela paga para manter essa intensidade. E não é simples.

Jogos olímpicos são uma competição importante. Jogos dia sim, dia não. Talvez ela não conseguisse estar 100%. Isso é o que faz a diferença. Mas ela é uma jogadora especial, eu tive o privilégio de jogar junto com ela, de conquista. Mas, principalmente, de conviver no mesmo ambiente de vestiário, do dia a dia. Do que a gente precisava fazer para chegar às grandes conquistas. E ela deixa um legado, uma história muito bonita.

Fabi e Thaisa comemoram ouro em Londres — Foto: KIRILL KUDRYAVTSEV / AFP

Fabi e Thaisa comemoram ouro em Londres — Foto: KIRILL KUDRYAVTSEV / AFP

Eu posso dizer que ela, ao lado da Fabiana, nessa geração pós-2004, as duas foram as grandes jogadoras. Revolucionaram um pouco a posição. Ficaram conhecidas como Torres Gêmeas, pela dupla incrível que elas faziam. E é um privilégio mesmo ter tido essa chance de estar junto. A seleção vai sentir a ausência dela, certamente. Mas ela deixa um legado. E eu sigo acreditando que é possível uma medalha. E que ela consiga gerir bem, administrar bem esses próximos anos na vida no clube. Ela foi uma atleta especial. Uma atleta que marcou a história do vôlei brasileiro.

*Em relato a João Gabriel Rodrigues

Sheilla, Fabiana, Zé Roberto, Fabi e Thaisa relembram ouro em Pequim — Foto: CBV/Divulgação

Sheilla, Fabiana, Zé Roberto, Fabi e Thaisa relembram ouro em Pequim — Foto: CBV/Divulgação

.

.

.

Fonte: GE – Globo Esporte.

Compartilhe  

últimas notícias