Diário de São Paulo
Siga-nos

Fã de Bolt, Santos mira repetir amigo Weverton em Tóquio: “Parte da minha caminhada”

Faz muitos anos que Santos pegou suas coisas e deixou Cabaceiras, no interior da Paraíba. Foi batalhar pelos sonhos. Até cinco anos atrás, quando assistiu ao

SANTOS
SANTOS

Redação Publicado em 25/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h07


Goleiro conta que nem nos melhores sonhos se imaginou numa olimpíada: “sair de Cabaceiras, cidadezinha de 5 mil habitantes, e chegar no nível de disputar olimpíada é para poucos”

Faz muitos anos que Santos pegou suas coisas e deixou Cabaceiras, no interior da Paraíba. Foi batalhar pelos sonhos. Até cinco anos atrás, quando assistiu ao amigo Weverton, companheiro de Athletico, colocar a medalha de ouro no peito, ele mal podia imaginar que viveria o maior deles em poucos dias.

Agora a mala é grande e para bem longe. Ele vai se apresentar à seleção olímpica daqui a 13 dias para iniciar a preparação para Tóquio. Em entrevista ao ge, Aderbar Melo dos Santos, que ficou conhecido apenas pelo sobrenome Santos, contou a admiração que tem por estrelas olímpicas, mas lembra mesmo é do amigo e ex-companheiro Weverton, medalha de ouro na Rio 2016.

Santos sorridente com a camisa da seleção brasileira: ele se apresenta no dia 8 em São Paulo com o time olímpico — Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Santos sorridente com a camisa da seleção brasileira: ele se apresenta no dia 8 em São Paulo com o time olímpico — Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Confira a entrevista de Santos, goleiro do Athletico

ge: Houve algum contato preliminar da Seleção, do técnico André Jardine, do Branco para a convocação?

Santos: Não, para mim foi surpresa, não esperava. Na verdade, não sabia. Mas a gente sempre tem aquela expectativa de ser chamado. Não conheço ainda nem Jardine pessoalmente nem Branco. Vai ser algo novo e vai ser muito bacana poder conviver esse período junto com eles.

Qual é a sua memória de jogos olímpicos? Gostava de acompanhar?

Olimpíada é algo muito importante na nossa vida, principalmente para quem é atleta. O atletismo é algo que acho fantástico, sem dúvida uma das coisas que mais gosto. E futebol sempre acompanhamos porque está no sangue. Está bem gravado os jogos de 2016, que foi um companheiro meu, o Weverton. Ele foi lá, fez excelente trabalho, conquistou a medalha. Isso fica gravado, fica na memória. Mas o atletismo é aquela coisa, o detalhe que faz a diferença, um milímetro, um centésimo de segundo que faz toda a diferença num trabalho de quatro anos.

Você falou de atletismo. Quais atletas admira?

Mais recente lembro do Usain Bolt, do Asafa Powel, dois caras que conhecemos muito bem, essa geração jamaicana que marcou bastante. Fica muito vivo na nossa memória. Bolt é um cara que assombrou o mundo na sua época. Esse cara é uma máquina.

Já conseguiu conversar com Weverton, seu ex-companheiro, medalha de ouro em 2016?

Ainda não liguei para ele. Mas vou pedir uns toques, saber como é lá. É um cara que tenho carinho e respeito enorme. Vivemos muito tempo aqui juntos (no Athletico), tivemos momentos juntos na Seleção há pouco tempo. É um cara que faz parte da minha caminhada. A gente sempre fala assim: um foi muito importante para o outro, no crescimento de cada um. Vou mandar mensagem, vou ligar, procurar saber detalhes, pegar experiência de quem já esteve lá. É um cara que admiro muito, excelente goleiro, espero repetir o que eles fizeram em 2016 e conquistar essa medalha.

Santos e Weverton Atlético: " A gente sempre fala assim: um foi muito importante para o outro, no crescimento de cada um" — Foto: Monique Silva

Santos e Weverton Atlético: ” A gente sempre fala assim: um foi muito importante para o outro, no crescimento de cada um” — Foto: Monique Silva

Como a sua família reagiu à convocação?

Acho que são eles os que mais sofrem. Para a gente é diferente. É um momento emocionante, claro, mas a gente sabe lidar muito bem com esse tipo de situação, mas a nossa família é onde a gente vê realmente a alegria de ver, de onde a gente saiu e ver onde chegamos. Eles moram em Cabaceiras, cidade bem do interior, bem pequena. A alegria deles é contagiante. A primeira vez que fui para a seleção principal, fizeram festa, fizeram de tudo. Isso fica marcado na nossa memória. Para eles é momento de alegria, de muito orgulho, de ver alguém chegar em nível tão alto dentro do esporte.

Sua cidade, Cabaceiras, é conhecida como Holywood do Nordeste. Como não devem ter reagido lá?

Estava pensando quando saiu a convocação. Depois a ficha caiu um pouco. E eu comecei a analisar… cara, cinco anos atrás, quando foi a última, nunca imaginaria que isso pudesse acontecer hoje. A gente fica viajando na memória e fica lembrando de tudo que passou até chegar a esse momento. É algo muito doido mesmo. A gente fica muito feliz, a gente sabe o quanto trabalha para poder chegar em nível tão alto. Primeiro penso em fazer grande trabalho no clube, a gente sabe da dificuldade dentro do clube, com companheiros, com outros clubes brigando por campeonato, não é fácil, mas a gente sempre briga para estar entre os melhores para ter o nome lembrado. É fruto de muito trabalho, muita dedicação. A gente poder chegar e alcançar algo tão grande que é uma olimpíada.

Santos, em Cabaceiras, quando dava os primeiros passos no gol — Foto: Arquivo Pessoal

Santos, em Cabaceiras, quando dava os primeiros passos no gol — Foto: Arquivo Pessoal

Conheça história de Santos, o goleiro do Athletico-PR convocado para os amistosos da Seleção Brasileira

Conheça história de Santos, o goleiro do Athletico-PR convocado para os amistosos da Seleção Brasileira

Um dos companheiros nessa seleção vai ser o Bruno Guimarães. Já se falaram?

Bruno é irmão, ele é um cara sensacional. Troquei mensagem com ele, parabenizei por ter sido convocado, é um sonho para ele. A gente já conversava sobre isso, que em algum momento isso poderia acontecer. E ele é um cara que realmente é nota 1.000. A todo instante é para cima, chama todos para cima, sabe lidar com pressão, momentos bons, momentos não tão bons também. Ele é um cara muito concentrado no que tem que fazer, fico muito feliz de poder compartilhar esses momentos junto com ele também. A gente roeu o osso um pouco aqui e a gente sabe que não é fácil, mas hoje colhemos os frutos de um grande trabalho do que a gente fez por um bom período.

Você comentou que não esperava a convocação. Mas estava aonde na hora da lista?

Eu estava treinando. Nosso treino tinha acabado por volta de 11h mais ou menos e ainda não tinha saído a lista. Ficamos aguardando um pouco ali no frio, no campo, a gente ficou ansioso por esse momento. A gente sabia dessa possibilidade. Tinha ansiedade grande para que o nome estivesse na lista e fiquei muito feliz quando o Jardine falou meu nome. Meus companheiros estavam juntos, eles ficam felizes também porque eles sabem que não é fácil. Eles têm grande parcela de contribuição nesse processo. Sem eles, com certeza a gente não chega em lugar algum. Fico muito feliz de poder representá-los também.

Nesses sonhos tem no roteiro um final parecido como em 2016, com defesa de pênalti na final?

(Risos) Importante é a gente ir lá, fazer excelente trabalho e trazer a medalha. A gente se prepara muito para isso. Espero contribuir da melhor maneira possível para que isso aconteça com meus companheiros. Da forma que vai ser a gente não sabe. Se tiver que defender o pênalti para que o ouro venha vou ficar muito feliz, claro. Se não precisar, a alegria vai ser igual.

Você falou “de tudo que passou” até chegar aqui. O que veio na sua cabeça?

A gente começa a puxar lá de trás desde o dia que a gente saiu de casa, desde o início da caminhada e ver realmente onde a gente consegue chegar. Quando a gente tem um sonho e acredita naquilo, pode acreditar que as coisas vão acontecer. Basta sonhar, trabalhar. Não é fácil, mas você vê, saí do interior da Paraíba, cidadezinha de 5 mil habitantes e chegar no nível de disputar olimpíada, ser convocado para Eliminatórias de Copa, isso não é para todo mundo. É para poucos. Graças a Deus, Ele me escolheu. Sei que muitos gostariam de vivenciar esse momento e estou entre esses poucos e fico muito feliz de vivenciar esses momentos únicos. A gente vai ficar velho, vai olhar para trás, vai falar para os amigos, para os filhos e falar “olha onde pude chegar com meu trabalho”. Isso é realmente algo que fica marcado na nossa memória.

.

.

.

Fontes: Ge – Globo Esporte.

Compartilhe