O Espião Estatístico passa a contar a história dos jogos do Campeonato Brasileiro a partir do indicador de expectativa de gol (xG), consolidado no mundo de
Redação Publicado em 01/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h24
O Espião Estatístico passa a contar a história dos jogos do Campeonato Brasileiro a partir do indicador de expectativa de gol (xG), consolidado no mundo de análise de dados do futebol. Em vez de olharmos somente para o número de finalizações que cada equipe produziu na partida (quantidade), o xG nos diz também sobre a qualidade das chances criadas, dando pesos a diversas características dos chutes, como distância e ângulo em relação ao gol. Quanto mais centralizado e de perto das traves, maior a chance de uma finalização entrar no gol. Veja a metodologia no final do texto.
O futebol é o esporte em que o acerto é mais raro (neste caso o gol) e isso faz com que nem sempre o placar final de uma partida seja condizente com a performance das equipes em campo. A primeira imagem mostra a diferença entre a performance (expectativa) e os resultados (realidade) de pontos de todos os jogos disputados até aqui neste Brasileirão.
A expectativa seria de que Atlético-MG e Flamengo estivessem disputando a liderança com um ponto de diferença entre eles, mas a realidade é muito diferente, com o Galo abrindo uma vantagem de oito pontos para o Palmeiras.
— Foto: Espião Estatístico
Para chegarmos no quadro acima, utilizamos a Expectativa de Pontos (xP). Com base nas características das finalizações feitas em cada partida, calculamos primeiro o xG de cada conclusão, para depois calcularmos a probabilidade de cada resultado (vitória, empate e derrota) de cada equipe. Em seguida, determina-se a pontuação que cada equipe poderia ganhar dado seu desempenho. Por fim, multiplicamos as probabilidades de cada resultado pelos pontos definidos para cada resultado (três se vitória, um se empate e zero se derrota). Parece complicado e realmente dá trabalho.
Tomado o primeiro jogo da rodada como exemplo, entre Ceará e Chapecoense, foram feitas 10 mil simulações de cada finalização da partida para se definir as probabilidades de cada resultado ocorrer a partir das chances criadas. O Ceará teve 82% de chances de vencer (0,82 x 3 = 2,46) e 12% de empatar (0,12). A Expectativa de Pontos do Ceará contra a Chape foi a soma desses dois resultados: 2,58 xP, enquanto a realidade foi receber os três pontos da vitória.
Evolução da expectativa de gol de Ceará x Chapecoense — Foto: Espião Estatístico
O Ceará produziu uma expectativa de gol de 2,89 xG, indicando que a equipe produziu o suficiente de marcar um pouco menos de três gols. Isso só não aconteceu por conta da belíssima atuação de Keiller, que fechou o gol da Chape.
O goleirão só não conseguiu salvar o gol de pênalti convertido por Jael. Afinal, esse tipo de finalização é o que tem a maior probabilidade em ser convertido em gol. Dos 901 pênaltis coletados pelo Espião Estatístico desde 2013 em Campeonatos Brasileiros, 686 balançaram a rede (76,1% das vezes).
A superioridade do Ceará na partida também pode ser vista nos mapas de passes das equipes no primeiro tempo, com o Vozão trocando bem mais passes que a Chapecoense durante a primeira etapa.
— Foto: Espião Estatístico
O Corinthians contou com a eficiência de Roger Guedes para garantir a vitória no Dérbi. Segundo a expectativa de gol, o Timão produziu o suficiente para marcar 0,79 gol. Já o Palmeiras, mesmo depois de empatar, procurou mais o jogo e depois de tomar o segundo gol continuou produzindo boas chances, mas não a ponto de marcar o segundo gol e garantir algum ponto.
— Foto: Espião Estatístico
Nos mapas de passes abaixo, chama a atenção novamente a posição média de Luiz Adriano, bem recuado e pouco participativo na construção das jogadas do Verdão. Algo semelhante ocorreu no primeiro jogo da semifinal válido pela Libertadores na última terça-feira, como reportou o Espião Estatístico durante o intervalo do jogo.
— Foto: Espião Estatístico
Assim como o Palmeiras fez no primeiro jogo da Libertadores, o São Paulo conseguiu anular o poderoso ataque do Atlético-MG. Em contrapartida, também pouco produziu em seu ataque.
Simulando 10.000 vezes cada finalização da partida, o empate ocorreria em 52% das vezes e foi o que aconteceu. Das 18 finalizações da partida, 11 foram feitas de fora da área.
Com poucas boas chances, a partida entre o Tricolor e o Galo ultrapassou o jogo entre Grêmio e Corinthians pela 18ª rodada e se tornou a segunda pior do campeonato quando somamos o indicador de xG das duas equipes. O confronto por enquanto só fica à frente do jogo entre Santos e Corinthians, válido pela 15ª rodada.
— Foto: Espião Estastístico
Os mapas de passes das equipes no primeiro tempo mostram muitos jogadores do Tricolor, sobretudo os de meio de campo, concentrados pelo lado direito do ataque. O Galo trocou bem mais passes, mas a maioria concentrada na zona intermediária do campo.
— Foto: Espião Estatístico
Jogo equilibrado tanto no placar como na performance. Segundo o indicador de expectativa de gol, as equipes produziram próximo da realidade de um gol marcado para cada lado. Como observado no gráfico abaixo, as melhores chances só ocorreram mais para o final da partida, quando jogadores costumam estar mais desgastados fisicamente.
A expectativa de gol do Flamengo nas últimas três partidas caiu se comparada ao restante do campeonato, e a equipe vem permitindo mais finalizações com perigo de seus adversários. Esse fato se deve muito por conta da utilização de jogadores considerados reservas, que tendem a ter, em média, menos qualidade em comparação a jogadores considerados titulares.
— Foto: Espião Estatístico
Os mapas de passes das equipes no primeiro tempo mostram a preferência pelo lado direito do Coelho, enquanto o Flamengo continua enfrentando dificuldades para criar boas oportunidades sem seus principais jogadores de criação (Arrascaeta e Éverton Ribeiro).
— Foto: Espião Estatístico
Outro placar condizente com as performances das equipes em campo, segundo o indicador de xG. O Fluminense produziu as suas melhores chances já no primeiro tempo e o Bragantino pouco produziu durante a partida inteira (0,45 xG).
— Foto: Espião Estatístico
A maioria das finalizações do Fluminense vieram de jogadas de contra-ataque. O Bragantino ficou mais com a bola no primeiro tempo, mas não conseguiu converter a posse em boas oportunidades. Jogadas de contra-ataque tendem a ter um valor maior de xG se comparadas a outras origens de jogada de bola rolando, muito por conta do espaço que os jogadores têm para conseguir finalizar.
— Foto: Espião Estatístico
O Internacional confirmou seu favoritismo contra o Bahia, mas o indicador de expectativa de gol sugere certo equilíbrio nas oportunidades criadas. Chama a atenção no gráfico abaixo a linha cinza, representando a equipe visitante, praticamente imóvel no primeiro tempo, mostrando criação praticamente nula da equipe baiana durante o período.
— Foto: Espião Estatístico
— Foto: Espião Estatístico
O Furacão produziu um pouco mais que o dobro de acordo com o indicador de xG em relação ao Grêmio (1,54 xG contra 0,71 xG) e foi bem mais eficiente no ataque, com ótimas três jogadas construídas pelo lado direito de campo.
Evolução da expectativa de gol de Athletico-PR x Grêmio — Foto: Espião Estatístico
Além de ter trocado menos passes, o Grêmio em média esteve com a bola mais recuado do que o Athletico-PR, que conseguiu melhores articulações e mais próximo do gol adversário.
— Foto: Espião Estatístico
Apesar do placar não ter saído do zero, o indicador de expectativa de gol sugere que o Atlético-GO produziu o suficiente para marcar mais de um gol (1,38 xG), enquanto o Cuiabá praticamente não criou boas oportunidades no jogo, produzindo apenas 0,24 xG.
Simulando dez mil vezes cada finalização da partida, o Dragão sairia com a vitória em 67% das vezes, enquanto o Cuiabá apenas em 6%.
— Foto: Espião Estatístico
Mapa de passes de Athletico-PR x Cuiabá — Foto: Espião Estatístico
Você pode encontrar os gráficos e análises dos demais jogos da rodada ao longo da semana no Twitter do Espião Estatístico.
O indicador de “Gols Esperados” ou “Expectativa de Gols” (xG) é uma métrica consolidada na análise de dados que tem como referência mais de 79 mil finalizações cadastradas pelo Espião Estatístico em mais de 3 mil jogos de Brasileirões desde a edição de 2013. São consideradas a distância e o ângulo da finalização em relação ao gol, a parte do corpo utilizada para concluir, se a finalização foi feita de primeira ou foi ajeitada antes do chute, assim como a origem do lance, se a partir de um cruzamento, falta direta ou de uma roubada de bola). Também são levados em conta o valor de mercado das equipes em cada temporada a partir de dados do site Transfermarkt, o tempo de jogo e a diferença no placar no momento de cada finalização.
Para esta edição do Brasileirão, o desempenho de um jogador passa a ser comparado com a média para a posição dele, seja atacante, meia, volante, lateral ou zagueiro, e passamos também a considerar o que se esperava da finalização se feita com o “pé bom” (o direito para os destros, o esquerdo para os canhotos) e para o “pé ruim” (o oposto). Foram identificados os ambidestros, que chutam aproximadamente o mesmo número de vezes com cada pé.
Como exemplo, de cada cem finalizações da meia-lua, apenas sete viram gol. Então, uma finalização da meia-lua tem expectativa de gol (xG) de cerca de 0,07. Cada posição do campo tem uma expectativa diferente de uma finalização virar gol, que cresce se for um contra-ataque por haver menos adversários para evitar a conclusão da jogada. Cada pontuação é somada ao longo da partida para se chegar ao xG total de uma equipe em cada jogo.
*Economista parceiro da equipe do Espião Estatístico, que é formada por: Guilherme Maniaudet, Guilherme Marçal, Leandro Silva, Mateus Pinheiro, Roberto Maleson e Valmir Storti.
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Globo Esporte
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