Diário de São Paulo
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Combinar treinos de força e aeróbico reduz mortes por câncer em 28%

Conhecer os impactos da prática regular de exercícios aeróbicos sobre a redução dos casos de câncer e mortalidade por essa doença tem se tornado foco de

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Redação Publicado em 10/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h56


Estudo brasileiro de revisão indica ainda que apenas os exercícios resistidos já diminuem o risco em 14%. Coordenador da pesquisa explica

Conhecer os impactos da prática regular de exercícios aeróbicos sobre a redução dos casos de câncer e mortalidade por essa doença tem se tornado foco de pesquisas científicas realizadas no Brasil e no mundo. Em um estudo de revisão literária, pesquisadores brasileiros tinham como objetivo principal conhecer as evidências sobre os impactos dos exercícios de força, como aqueles realizados em academias, treinos funcionais e crossfit, por exemplo. Eles observaram que esse trabalho de fortalecimento muscular pode reduzir em 14% as chances de mortalidade por câncer. Além disso, esse tipo de exercício também esteve associado a uma diminuição de 26% no risco de câncer de rim. Embora a proposta dos pesquisadores fosse conhecer as evidências sobre o treinamento resistido, o estudo demonstrou ainda que combinar a prática de exercícios de força muscular e de atividades aeróbicas pode diminuir a mortalidade por câncer em 28%. Com esses resultados, a pesquisa endossa os argumentos sobre a importância da prática de exercícios para a redução de doenças crônicas não transmissíveis.

Coordenador da pesquisa, o professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Leandro Rezende reforça que, nos últimos dez anos, muitas pesquisas passaram a investigar a associação entre a prática de atividades aeróbicas e a prevenção de câncer. Ele comenta que há evidências robustas de seus impactos positivos sobre a redução de sete tipos dessa doença. É o caso do câncer de mama, cólon, endométrio, estômago, esôfago, rim e bexiga. No entanto, dado que a maioria das pesquisas considera os impactos positivos das atividades aeróbicas, o estudo realizado na Unifesp buscava observar a relação entre os exercícios de força e a prevenção do câncer.

– Na primeira análise, combinamos todos os estudos, que comparavam quem fazia algum tipo de exercício e quem não fazia nada, e encontramos uma redução dos riscos. Encontramos 12 estudos que avaliaram essa relação. Mas nosso objetivo era olhar para a literatura tentando entender esse efeito da atividade de força muscular, independente de qual seja, na redução dos tipos de câncer e mortalidade. Ainda há poucos estudos sobre essa relação. Encontramos cerca de seis estudos que avaliaram essa associação, mas sem identificar o volume de exercícios. Quando realizados especificamente os exercícios de força muscular, houve uma redução de 14% da mortalidade por câncer – discorre o professor da Unifesp.

Formado em Educação Física e com mestrado e doutorado na área de epidemiologia, o professor faz uma explanação sobre outros resultados do estudo. Quando se considerou o tipo de câncer e aqueles sobre os quais havia mais de uma pesquisa científica já realizada, foi identificado apenas o benefício do treino resistido para aquele que afeta o rim, com a redução de 26% na incidência desses casos. Já no que diz respeito à combinação dos trabalhos de força e aeróbico, a pesquisa demonstrou haver benefícios na redução da mortalidade por essa doença. Embora não muito claras, evidências também apontam que essa dobradinha pode reduzir o risco de câncer cólon, para o qual é reconhecido que as atividades aeróbicas têm efeito protetor contra a sua incidência.

– Em relação à mortalidade por câncer encontramos benefícios de realizar exercícios de força muscular combinados com aeróbicos. Quando comparado ao grupo que não fazia nenhuma das duas atividades, aquele fazia ambas teve uma redução de 28% no risco de mortalidade por câncer. Já quando comparados aqueles que só faziam aeróbico com quem não realizavam nem aeróbico e nem muscular, a redução foi de 11%. Quem só fazia exercício de fortalecimento muscular também apresentou essa redução de 11%, em comparação a quem não realizava nenhuma das duas atividades – detalha Rezende.

Recomendação geral

Programa que inclua treino de força e aeróbico é a medida para prevenir doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, cujo risco de óbito pode reduzir em 28% com essa combinação — Foto: Getty Images

Programa que inclua treino de força e aeróbico é a medida para prevenir doenças crônicas não transmissíveis, como o câncer, cujo risco de óbito pode reduzir em 28% com essa combinação — Foto: Getty Images

Segundo o professor da Unifesp, quando se trata de volume, intensidade e frequência da prática de atividades, os estudos, de uma forma geral, apontavam como referência a recomendação da Organização Mundial da Saúde. Conforme indica a OMS, para efeito protetor contra as doenças crônicas não transmissíveis, são necessários 150 a 300 minutos semanais de atividades físicas moderadas ou 75 a 150 minutos semanais daquelas vigorosas, além de um treino de força duas vezes por semana.

– Um programa de exercícios pautado na recomendação da OMS, em termos de intensidade e duração semanal, tem potencial de trazer benefícios à saúde. Se a pessoa cumprir essa recomendação, já estará no caminho e conseguirá alcançar os impactos positivos das atividades físicas, inclusive contra o câncer – completa Rezende.

O profissional de Educação Física e doutor em Saúde Coletiva pondera que, para que se tenha todos os benefícios dos exercícios na proteção contra o câncer, é preciso realizar um volume maior de atividade. Para alcançar esse impacto, de acordo com ele, deve-se estar mais próximo da marca de 300 minutos semanais do que dos 150. Isso sem contar que a incidência da doença está associada a diversos fatores, entre eles a genética e os hábitos alimentares. Ainda que faça essa ressalva, Rezende argumenta ser necessário olhar para todos os benefícios que a prática de exercícios regular proporciona.

– Em geral, quando se prescreve um programa de exercício não se está focado na redução do câncer ou da mortalidade, mas em um combo de benefícios. Pessoas que tenham benefícios mais específicos precisam ser avaliadas caso a caso, para adequar esse programa. Por isso, se querem performance ou têm outro objetivo [como a redução dos riscos de câncer], devem contar com um profissional de Educação Física. Mas o grande benefício está em se movimentar, não em estar acompanhado por um profissional. Uma caminhada pode ter benefícios. Já um exercício para força muscular mais específico demanda orientação. Mas também há atividade de fortalecimento muscular que não precisa necessariamente de academia ou de acompanhamento de profissional de Educação Física, como subir escada ou exercícios que contam com o peso do próprio corpo – conclui.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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