Diário de São Paulo
Siga-nos

Europa corre contra o tempo para consolidar vínculos com o Brasil

Europa busca finalização do acordo com o Mercosul em resposta à crescente influência da China e rivalidade com a Rússia

Líderes europeus têm demonstrado pressa em atrair países da América Latina para sua zona de influência. - Imagem: Divulgação / RICARDO STUCKERD / PRESIDÊNCIA DO BRASIL
Líderes europeus têm demonstrado pressa em atrair países da América Latina para sua zona de influência. - Imagem: Divulgação / RICARDO STUCKERD / PRESIDÊNCIA DO BRASIL

Marina Roveda Publicado em 18/07/2023, às 07h48


Bilhões de euros em investimentos, promessas de um acordo comercial e palavras de união são o destaque da cúpula de líderes da União Europeiae da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC) em Bruxelas. A Comissão Europeia anunciou que a América Latina receberá 45 bilhões de euros nos próximos quatro anos como parte do programa europeu de investimentos Global Gateway, destinado a projetos sustentáveis em diversos setores, como saúde, educação e tecnologia.

A Europa busca a finalização do acordo comercial com o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) após longas negociações que começaram em 1999. A urgência se deve a três motivos principais: a crescente influência da Chinana América Latina, a rivalidade com a Rússia no cenário internacional e a percepção de que a Europa perdeu tempo ao longo das últimas décadas.

A aproximação com a América Latina, incluindo o acordo com o Mercosul, tornou-se uma prioridade para a gestão da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, que visitou Brasil, Argentina, México e Chile neste ano. A China tem aumentado sua influência na região por meio do programa "Nova Rota da Seda", investindo bilhões de dólares em projetos de infraestrutura em países da América Latina, Ásia e África.

Em resposta, o programa Global Gateway pretende investir 300 bilhões de euros até 2027 para equilibrar a infraestrutura global. Na América Latina, 45 bilhões de euros serão destinados a 130 projetos, incluindo investimentos em hidrogênio verde e energias renováveis no Brasil e parcerias com a Argentina e o Chile.

Apesar da pressa, a finalização do acordo com o Mercosul enfrenta obstáculos, como cláusulas relacionadas ao desmatamento e participação de empresas europeias em licitações públicas. Contudo, acredita-se que o acordo possa avançar ainda este ano, aproveitando a "janela de oportunidade" até junho de 2024, quando a Europa realizará eleições parlamentares. Lula, ex-presidente do Brasil, espera a conclusão do acordo até o final deste ano, considerando-o uma oportunidade para abrir novos horizontes nas relações comerciais.

A Europa está demonstrando uma urgência em se reaproximar do Brasil e da América Latina por vários motivos estratégicos. Primeiramente, a crescente influência da China na região é motivo de preocupação para os europeus. Nos últimos anos, a China tem intensificado seus investimentos e projetos de infraestrutura em países latino-americanos, o que tem levantado questionamentos sobre a independência e a soberania dessas nações.

A "Nova Rota da Seda", iniciativa chinesa de investimento em infraestrutura em diversos países, tem aumentado significativamente a presença da China na América Latina. Diante dessa ascensão chinesa, a Europa busca reforçar sua influência na região, oferecendo investimentos significativos através do programa Global Gateway. Esse programa visa reduzir o fosso de investimento global em infraestrutura entre países desenvolvidos e em desenvolvimento e demonstra o interesse europeu em retomar uma posição de liderança na região.

Além disso, a rivalidade com a Rússia no cenário internacional também é um fator que impulsiona a reaproximação da Europa com o Brasil e a América Latina. A agressão russa à Ucrânia e outras tensões geopolíticas têm levado a Europa a buscar novos parceiros e diversificar seus laços comerciais. A América Latina é vista como uma alternativa para diminuir a dependência da Europa em relação à Rússia e evitar riscos em seu suprimento de recursos e acesso a mercados.

Outro ponto que explica a pressa europeia em se aproximar da América Latina é a percepção de que a Europa perdeu tempo ao longo das últimas décadas no estabelecimento de relações mais fortes com a região. A cúpula entre a União Europeia e a CELAC, que não acontecia desde 2015, foi relançada neste momento em que a Europa busca recuperar o tempo perdido e reestabelecer laços com seus parceiros na América Latina.

Dentro desse contexto, a conclusão do acordo comercial com o Mercosul é de suma importância para a Europa. Esse acordo tem sido alvo de longas negociações desde 1999, e os europeus enxergam uma "janela de oportunidade" para fechá-lo até o final do ano. O acordo com o Mercosul abriria novos horizontes comerciais e fortaleceria os laços entre a Europa e o bloco sul-americano.

Apesar dos desafios que o acordo enfrenta, como questões ambientais e participação em licitações públicas, os líderes europeus acreditam que avanços podem ser feitos e têm esperança na sua conclusão ainda em 2023. Essa reaproximação estratégica com o Brasil e a América Latina representa uma resposta da Europa aos desafios geopolíticos e econômicos do século XXI, reforçando sua posição no cenário internacional e buscando consolidar parcerias sustentáveis para o futuro.

Compartilhe  

últimas notícias