"Meu pai era palmeirense como eu. Em janeiro, quando o Palmeiras ganhou um jogo, levei uma camiseta e, em clima de festa, fiz uma farra no hospital. Naquele
Redação Publicado em 31/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h58
“Meu pai era palmeirense como eu. Em janeiro, quando o Palmeiras ganhou um jogo, levei uma camiseta e, em clima de festa, fiz uma farra no hospital. Naquele dia, achava que ele teria alta logo. Errei. Pelo menos, foi uma despedida feliz”.
Foi de forma inesperada que o advogado Marcus Gramegna, 50, se despediu do pai, Venício, de 81 anos. Ele morreu em janeiro, em São Paulo, vítima da Covid-19, após ser intubado e apresentar problemas renais.
Venício estava melhorando e tinha previsão de receber alta em breve, disse Marcus, mas piorou de repente e teve de ser intubado às pressas. Dali em diante, nunca mais pôde comemorar os gols do Palmeiras com o filho.
Uma semana depois de o marido ser internado, Lucy, a matriarca da família Gramegna, de 79 anos, também teve de ser hospitalizada por conta da Covid-19. Em poucos dias, ela se recuperou e teve alta, mas nunca mais viu Venício.
Embora o desfecho do casal tenha sido completamente diferente, o atendimento médico que tiveram foi o mesmo. Ambos foram internados no Hospital Prevent Senior Pinheiros, em São Paulo.
Na segunda quinzena de setembro, uma nova preocupação veio à cabeça de Marcus: a Prevent Senior passou a ser investigada na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) por conduta antiética e anticientífica na pandemia (ao final da CPI, executivos e médicos da rede acabaram indiciados).
Foi então que o advogado passou a questionar o tratamento dado pelo hospital ao seu pai e a temer que sua mãe, Lucy, fique sem o convênio caso a empresa enfrente problemas.
“Pago cerca de R$ 1 mil por mês no plano de saúde dela. Se tivesse que trocar de operadora agora, pagaria muito mais que o dobro. Minha mãe sempre foi bem atendida, mas eles pisaram na bola [durante a pandemia] e isso gera insegurança“, afirmou Marcus.
Ao consultar colegas advogados do setor de seguros, ele foi orientado a manter o plano de saúde da mãe e aguardar — mesmo apreensivo — o avanço das investigações.
A insegurança de Marcus não é isolada. De acordo com dados divulgados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), no acumulado de janeiro a setembro foram realizados 688 pedidos de portabilidade de clientes da Prevent Senior para outras operadoras de saúde — o que resulta em uma média mensal de 76,4.
Apenas em setembro, mês em que as investigações da operadora tiveram início, o número chegou a 100 (veja gráfico abaixo). Entre agosto e o mês passado, o aumento no número de pedidos foi de 45%.
Apesar do crescimento no número de pedidos de portabilidade em setembro, segundo a ANS, ele ainda é baixo. As explicações são:
Segundo dados da ANS, a Prevent Senior tem 76% de sua carteira de beneficiários composta por idosos, comparado a uma média de 14,2% do setor. A idade média dos pacientes da operadora é de 66,6 anos. A média do setor, por sua vez, é de 35,8 anos.
Com este modelo de negócio, a empresa viu seu lucro saltar de R$ 33 milhões em 2011 para R$ 496 milhões no ano passado.
Rosely Mecchi, de 57 anos, é uma das beneficiárias que afirma estar satisfeita com o custo do plano de saúde e ser resistente à troca de operadora, mesmo com a insegurança gerada pelas investigações da CPI.
Com uma doença cerebral que causa desmaios frequentes, ela paga R$ 680 por mês para ter acesso ao tratamento de que precisa pela Prevent Senior. O marido, a irmã e a mãe de Rosely têm o mesmo plano de saúde.
“Não existe convênio médico no Brasil que me atenda por esse valor. Não acredito que eles sejam perfeitos, mas se perderem tudo e começarem de novo depois, volto com eles”, disse Mecchi, que possui o plano há nove anos.
No início de outubro, a ANS informou aos beneficiários da Prevent Senior que o plano de saúde é obrigado a manter a assistência das 540 mil pessoas que contam com o serviço.
Além disso, a reguladora diz que instaurou dois “processos de apuração” e já realizou diligências contra a empresa. “Análises estão em curso e são necessárias para subsidiar as decisões”, informou a ANS.
“A Prevent Senior tem obrigação de manter a assistência aos seus mais de 540 mil beneficiários – com qualidade e em tempo oportuno”, disse a reguladora, em nota.
Em nota, a Prevent Senior afirmou que “tem solidez econômica e continuará atendendo com excelência seus 550 mil beneficiários”. A empresa disse também que “tem total interesse que investigações técnicas, sem contornos políticos, sejam realizadas por autoridades como o Ministério Público para que a verdade seja restabelecida”.
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G1
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