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Legado em Disputa

A Trajetória de Sonhos e Desafios da Flexform

Da fundação à liderança global na fabricação de móveis para escritório. Nova sede representa avanço na indústria

Flexform. - Imagem: Divulgação
Flexform. - Imagem: Divulgação

Marina Milani Publicado em 07/03/2024, às 09h04


Desde a sua fundação em 1966 por Ernesto Iannoni, a Flexform Indústria Metalúrgica Ltda. se destacou como uma potência na fabricação de cadeiras e poltronas de escritório, consolidando-se como líder global no setor. A trajetória da empresa, marcada por uma gestão estratégica de seu fundador, reflete não apenas o crescimento de uma marca, mas a materialização de um legado visionário. Com um investimento superior a R$70 milhões de reais, a nova sede criada por Ernesto cobre 55.000 metros quadrados, com 28.000 metros quadrados de construção, incluindo uma variedade de instalações, como galpões fabris e de logística, um prédio administrativo e facilidades para os empregados, tais como vestiário e refeitório com capacidade para aproximadamente 500 pessoas, representando não apenas um avanço significativo na capacidade produtiva da empresa, mas também um marco na indústria metalúrgica brasileira.

O projeto não se limita à construção de edifícios, estendendo-se à infraestrutura de saneamento com ruas asfaltadas e sistemas de drenagem que conduzem água pluvial até o córrego local. Além disso, foi construída uma caixa de água subterrânea com capacidade de armazenamento de 250.000 litros, destinada tanto para o uso dos bombeiros quanto para consumo interno da fábrica. Uma estação de tratamento de esgoto também foi implementada, destacando o compromisso da empresa com práticas ambientalmente responsáveis.

No que diz respeito à preparação do terreno, uma significativa terraplanagem foi realizada, adicionando 60.000 metros cúbicos de terra compactada. Isso elevou o terreno em 20 centímetros acima do nível da pista do Aeroporto, uma medida preventiva contra possíveis inundações. As fundações das construções são notavelmente robustas, com blocos de 30 centímetros e uma profundidade de cerca de 10 metros, garantindo estabilidade e segurança. A estrutura de concreto armado, erguida por uma das principais construtoras de São Paulo, suporta todas as instalações. Atenção especial foi dada ao piso industrial, projetado para suportar até 25.000 quilos por metro quadrado, evidenciando a capacidade do local para acomodar equipamentos pesados e operações de grande escala.

O investimento nessa fase alcançou a impressionante cifra de R$ 45.000.000,00, cobrindo desde a terraplanagem até as etapas iniciais de construção. A Engenheira da CONIP, Dra. Marly Lanza Kalil, foi responsável pela especificação e avaliação de todas as instalações da Flexform, cujos valores somam R$ 25.500.000,00.

A coroação deste esforço veio em 2009, com a inauguração da nova sede da Flexform em Cumbica, Guarulhos/SP. A presença de celebridades como Ana Hickmann na inauguração sublinha a importância e o impacto do evento.

A história da Flexform, embora marcada por sucessos e expansões, também enfrentou seus desafios, particularmente no que diz respeito à sua gestão contábil. Após a monumental inauguração de sua nova sede, Ernesto Iannoni, que se manteve afastado da administração, buscando tecnologia em vários países, voltou sua atenção para a contabilidade da empresa, descobrindo irregularidades que marcariam o início de um período tumultuado na história da Flexform.

O projeto grandioso da nova Flexform de Cumbica, que inicialmente se apresentava como um marco de sucesso e inovação, agora encontra-se envolto em controvérsias familiares e acusações graves. O cerne do conflito emerge com a descoberta do Sr. Iannoni, de que os investimentos significativos realizados não foram contabilizados adequadamente nas finanças da empresa.

De acordo com as informações obtidas, mais de R$ 150.000.000,00 que deveriam ser contabilizados em ativos foram registrados como despesas. Este ato teria sido um movimento calculado para lesar o Sr. Iannoni e evadir obrigações fiscais.

Este ato de má gestão, descoberto por Ernesto, evidenciava uma falha grave na governança corporativa da Flexform, desencadeando uma série de eventos que testariam os laços familiares e profissionais dentro da empresa.

Inconformado com as descobertas e desapontado com a conduta de seus filhos e do contador, Ernesto convocou uma reunião extraordinária em janeiro de 2010. Nesta reunião, anunciou seu afastamento e da sua esposa das atividades da empresa, transferindo oficialmente a responsabilidade para Pascoal, Marco e Cláudio (contador). Ernesto, ainda buscando salvaguardar o futuro da Flexform, exigiu a cessação imediata das práticas irregulares e a formação de um conselho fiscal em seis meses, sob sua própria presidência, para assegurar a integridade da contabilidade da empresa.

Contudo, o prazo estipulado para a formação do conselho fiscal expirou sem que as medidas necessárias fossem tomadas, e os registros contábeis irregulares persistiram.

A saga de Ernesto Iannoni com a Flexform e a Iannoni Empreendimentos tomou um novo rumo, marcado por decisões drásticas e uma busca por justiça. Após se deparar com fraudes na contabilidade conduzidas sob a administração de seus filhos, Ernesto tomou a decisão de se desvincular completamente de suas empresas, um passo significativo que refletia sua profunda decepção e a quebra de confiança.

Para assegurar uma transição justa e equitativa, as partes envolvidas contrataram a Valliun Engenharia e Avaliações S.C. Ltda. para determinar o valor justo e a vida útil/econômica da Flexform.

Os envolvidos acordaram que Ernesto venderia suas quotas societárias e para facilitar a transferência dos valores que seriam devidos ao fundador, seria criada outra empresa, a Vallebella Participações Ltda. A assinatura do contrato ocorreu em um momento de incerteza, com as partes ainda desconhecendo o valor real de mercado da Flexform. A avaliação preliminar da Iannoni Empreendimentos foi entregue, mas a avaliação da Flexform pela Valliun ainda estava pendente.

Os filhos de Ernesto sugeriram que a Flexform valeria pelo menos R$ 200 milhões de reais, um número que, na ausência de uma avaliação final, criou um cenário propício para negociações. Ernesto, influenciado tanto pela promessa de um ajuste baseado no valor de mercado quanto pelos laços familiares, foi persuadido a assinar um contrato de venda em condições que mais tarde se revelariam desvantajosas.

Os gestores da Flexform, Pascoal e Marco Iannoni, são acusados de valer-se de laudos e perícias fraudulentas para sustentar a tese de que o Sr. Ernesto Iannoni não teria direito a quaisquer valores adicionais da empresa, além daqueles transferidos para Vallebella quando da avaliação precária. Essa alegação parece contradizer as afirmações feitas anteriormente por eles, que em várias ocasiões valoraram a empresa em mais de R$ 200.000.000,00.

A situação é asseverada pelo fato de que, em 2014, os filhos fundaram uma nova empresa, a MPI Empreendimentos, com um capital inicial de R$ 700.000,00. Em apenas três anos, esse capital aumentou expressivamente para R$ 29.000.000,00, um crescimento que suscita questões sobre a origem dos recursos e as práticas de gestão financeira.

A petição, assinada pelo renomado Professor Cândido Rangel Dinamarco desde 2019, já apontava para a gestão questionável da Flexform pelos filhos do fundador, sugerindo que o uso de avaliações e perícias possivelmente manipuladas poderia ter sido uma estratégia deliberada para lesá-lo.

A saga contábil envolvendo a Flexform e a IANNONI Empreendimentos ganha um novo capítulo com aprofundamento das alegações de manipulação financeira. Segundo a narrativa que se desenrola, ambas as empresas, com uma história de sucesso de 45 anos, nunca registraram prejuízos até um período coincidente com a criação e operação da MPI Empreendimentos, que foi de 2014 a 2018.

Durante esses anos, conforme descrito na petição do jurista Candido Dinamarco, a Flexform reportou prejuízos pela primeira vez, o que levanta questões sobre a coincidência temporal com a realização da obra faraônica pela MPI Empreendimentos e o subsequente término dos prejuízos após sua conclusão. A narrativa legal sugere que mais de R$ 150.000.000,00 em ativos foram lançados como despesas na contabilidade da Flexform, uma manobra que, segundo o Professor Dinamarco, teria como objetivo lesar o Sr. Ernesto Iannoni e beneficiar a empresa recém-criada pelos filhos. Esta reviravolta financeira é acompanhada de críticas contundentes à depreciação efetuada por Peritos Judiciais até 2018, ação que é questionada pelo fato de implicar Ernesto Iannoni nos prejuízos, apesar dele ter se afastado da empresa que fundou há oito anos que antecederam esta queda nas finanças da empresa.

O caso ganha peso com o endosso do Professor Candido Rangel Dinamarco, que acusa os gestores da Flexform de perpetrarem um golpe contra o patriarca da família e fundador da empresa. Os laudos da VALLIUM e as perícias judiciais são mencionados como tendenciosos e imprestáveis, insinuando-se que foram manipulados para influenciar o resultado do litígio em favor dos atuais gestores e em detrimento de Ernesto Iannoni.

Esta situação destaca a vulnerabilidade dos fundadores nas transições de gestão e as complexidades enfrentadas nas disputas de negócios familiares. Os desenvolvimentos desse caso são de grande interesse público, dada a longa história de prosperidade das empresas envolvidas e a influência significativa que exercem na economia local. Continuaremos a monitorar e relatar os desenvolvimentos deste caso conforme eles ocorrem.

Assista abaixo: 

Vale ressaltar que em nota, a empresa nega todas as acusações.

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