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COLUNA

O "Everest" de sua Carreira

Imagem: Freepik
Imagem: Freepik

por Danilo Talanskas

Publicado em 18/10/2022, às 08h49


O pico do Everest, o mais alto do mundo com os seus 8840 metros de altitude, há um século continua sendo o grande sonho de conquista e desafio para milhares de pessoas. Passou a ter esse nome em 1841, em memória a Sir George Everest, o primeiro ocidental a descobri-lo. 

Até 2021 teve 10.656 expedições contabilizadas, sendo que entre 1922 e 2021, registraram-se 305 mortes, por razões das mais diversas, entre quedas, congelamentos, exaustão, doenças, falta de oxigênio e outras. No entanto continua atraindo o mais ousado espírito de aventura humana em busca de realizações e autossuperação. Pessoas de todas as nacionalidades e idades, desde um americano de quatorze anos a um japonês de oitenta, tentaram colocar os pés no topo do mundo.

Há dezoito rotas conhecidas para se escalar o monte, mas utilizo aqui a sugestão de Rahm Khadka, um experiente alpinista e guia de expedições. Rahm propõe a subida em sete fases e descreve cada uma delas. Inicia com o acampamento base, já há 5365 metros de altitude e detalha todas as outras. Em cada uma há uma parada ou acampamento e o trajeto entre elas têm obstáculos completamente diferentes, entre encostas íngremes, fendas perigosas, campos de neve traiçoeiros, geleiras e diferentes forças de vento. A fase final é a chegada ao pico, mas a descida em segurança também é parte dela.

Sempre imaginamos a nossa carreira em degraus quando galgamos cada um deles, e caminhamos em linha reta até o próximo, seguindo “felizes" em nossa trajetória profissional. A verdade, porém, é que cada fase exigirá um conjunto de habilidades novas e o aperfeiçoamento de outras, continuando a difícil e desconhecida escalada. Os louros de se chegar em uma nova "base", são rapidamente substituídos pelos desafios da próxima.

Muito frequente é o excesso de confiança em nossos conhecimentos técnicos. Assim como o alpinista apega-se ao treinamento e habilidades básicas, você também precisará aplicar seus conhecimentos de formas completamente diferentes. Quando há diferentes pessoas, tudo muda. Quanto maior for o número de variáveis que sofrerem mudanças, mais complexo será o desafio: mudança de chefe, de pares, de time, de país ou de companhia. 

Mesmo que em uma fase você sinta que lida bem com pessoas, na próxima surgirão diferentes personalidades, a "química" não será a mesma, o novo chefe terá um conceito diferente a seu respeito. Começa tudo de novo...uma nova escalada. Com certeza muitos já olharam para os seus chefes e falaram lá dentro de si mesmos: "Eu conseguiria fazer muito bem o que ele faz!". Se um dia você chegar lá, percebe que a sua visão nessa nova "altitude" é muito diferente da anterior e, o que antes parecia fácil, torna-se muito mais complexo.

Assim como Rahm Khadka instrui sobre a necessidade de paradas, às vezes de vários dias a fim de se adaptar a novas altitudes, você também precisa parar, mapear a nova "base" e os próximos obstáculos. Em seguida, dar os primeiros passos com muito cuidado.

Conforme se sobe na “altitude”, outras competências começam a se mostrar essenciais: a preparação prévia com a bagagem imprescindível, confiar nos pares e saber trabalhar bem com todos e, principalmente, saber seguir o líder. É importante “fixar as amarras” nos “ganchos políticos” que você desenvolver no caminho, para que, quando os ventos soprarem muito fortes, você tenha apoio, além daqueles que estão “na mesma corda”. Precisará de um aumento substancial de sua capacidade de resiliência e também, de saber onde está o objetivo, mesmo que sua visão seja reduzida a zero.

Tenho um amigo que fez uma expedição ao Everest. Seu objetivo não foi chegar ao pico. Desfrutou a viagem até lá, a maravilhosa subida ao acampamento base, escalou umas poucas centenas de metros a mais e voltou. Voltou feliz e realizado. Conheço inúmeros profissionais que foram muito bem-sucedidos e felizes chegando à “base” de seus sonhos. Essa escalada não precisa chegar ao topo.

Se você chegou até lá, seja qual for a altitude do “pico”, o momento de glória e de “fixar a bandeira” é curto. A pressão e os "ventos" são muito fortes e a solidão do topo pode ser "congelante". Por outro lado, você liderará o grupo que vem atrás de você e deverá conduzi-lo de volta ao "acampamento seguro" depois de um objetivo muito bem atingido.

Apesar de todos os obstáculos, a escalada do Everest ainda é um desafio deslumbrante. Afinal de contas a taxa de mortalidade, apesar de todas as histórias e tragédias contadas, é de apenas de 2,9% do total de pessoas que em cem anos tentaram conquistar este grande marco geográfico. Um risco que, para milhares de pessoas, vale a pena ser enfrentado em troca do sentimento de vitória e de uma missão bem cumprida.

O "Everest" de sua carreira será da mesma forma... uma jornada deslumbrante, para a qual você precisará de muita preparação. Sempre haverá riscos, mas plenamente aceitáveis. Cada nova responsabilidade trará desafios completamente diferentes, onde o sucesso passado não garantirá o sucesso presente, nem o futuro. Trará novas experiências e desafios nunca antes enfrentados. O segredo, entretanto, é reconhecer que cada avanço não é apenas um novo degrau, mas sim, uma porta que se abre para se "escalar" a próxima fase. 

Nesse exato momento, reúna seu "equipamento", seus conhecimentos, amplie a sua visão e capacidade de aprender e... inicie a escalada da nova etapa!

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