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COLUNA

Entre Guerras e Injustiças: Violações dos Direitos Humanos

Julgamentos de Nuremberg. - Imagem: Reprodução | YouTube
Julgamentos de Nuremberg. - Imagem: Reprodução | YouTube
Cristiano Medina da Rocha

por Cristiano Medina da Rocha

Publicado em 27/03/2024, às 05h43


A história escrita da humanidade, espalhada ao longo de 5.600 anos, é uma narrativa entrecortada por conflitos — de fato, apenas 268 desses anos não foram marcados pela sombra da guerra.

Refletindo sobre essa propensão à guerra, a humanidade, assustada com a possibilidade de sua própria aniquilação, estruturou tribunais internacionais e legislou na esperança de proteger os direitos humanos. A devastação causada pelas Grandes Guerras, especialmente pelo poder aniquilador da bomba atômica, foi o gatilho para a adoção de mecanismos legais internacionais com o intuito de frear os impulsos beligerantes dos Estados.

No pós-Segunda Guerra Mundial, emergiu o medo visceral de um conflito global que pudesse extinguir a humanidade. Foi esse medo que impulsionou a criação de um sistema centralizado de responsabilidade criminal internacional, destinado a julgar os líderes cujas ações desencadeavam guerras de agressão e violências sistemáticas contra civis.

Esses tribunais internacionais, nascidos da necessidade e do medo, foram estabelecidos para julgar os crimes de guerra e a agressão, mas, durante a Guerra Fria, aproximadamente 18 milhões de pessoas pereceram sem que os crimes cometidos pelas superpotências fossem julgados com a mesma severidade.

A reforma da legislação alemã que entrou em vigor em 01/09/69, permitiu reclassificações jurídicas que atenuaram a responsabilidade de indivíduos por crimes cometidos sob o regime nazista. Esta legislação impactou diretamente o julgamento de crimes de guerra, permitindo que certos atos, anteriormente considerados como imprescritíveis, fossem julgados como crimes comuns, sujeitos a estatutos de limitações. Essa distinção legal não apenas minimizou a severidade de julgamentos e sentenças, mas também facilitou a impunidade para perpetradores de algumas das mais graves violações dos direitos humanos.

O Tribunal Penal Internacional, criado como um mecanismo permanente para a responsabilização de crimes internacionais, representou um avanço, mas ainda enfrenta o desafio de universalidade, com potências globais se abstendo de sua jurisdição.

Mesmo com a evolução do direito penal internacional, a realidade das operações militares pós-Guerra Fria, como a "Operação Tempestade no Deserto" no Iraque, mostrou um mundo ainda à mercê de um poderio bélico descomunal.

A criação de tribunais ad hoc para a Ex-Iugoslávia, Ruanda e Líbano, e mecanismos como a Comissão Internacional contra a Impunidade na Guatemala, são passos em direção à responsabilização, mas ainda há um caminho longo a percorrer.

No contexto contemporâneo da guerra na Ucrânia, observam-se paralelos perturbadores. Civis ucranianos têm sofrido as consequências de agressões militares, atos que, constituem crimes de guerra e contra a humanidade. No entanto, a eficácia do direito internacional em trazer os responsáveis à justiça permanece limitada, com mecanismos de responsabilização muitas vezes entravados por considerações políticas e pela incapacidade de instituições internacionais de exercer jurisdição universal de forma efetiva.

Analogamente, o conflito israelense-palestino revela uma complexa teia de violações de direitos humanos e dificuldades na aplicação da justiça. Civis, tanto palestinos quanto israelenses, têm sido vítimas de ataques, com alegações de uso desproporcional da força e punições coletivas.

A repetição desses horrores é uma evidência contundente de que não aprendemos as lições da história; é um reflexo da nossa incapacidade coletiva de evoluir para além do ciclo destrutivo de violência e retaliação.

Cada crime contra a humanidade que passa sem julgamento é um golpe contra a consciência global. Cada vítima ignorada, cada história não contada, cada dor não reconhecida, desfaz a fibra da justiça que sustenta a estrutura da sociedade civilizada.

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