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COLUNA

E agora, José?

A eleição acabou, a esperança se apagou, Bolsonaro se foi

Posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2023. - Imagem: Reprodução | Instagram -  Ricardo Moraes
Posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2023. - Imagem: Reprodução | Instagram - Ricardo Moraes
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 05/01/2023, às 09h24


A última fala do presidente Jair Bolsonaro à nação deixou a todos com o mesmo sentimento dos discípulos a caminho de Emaús.

O livro bíblico de Lucas, no capítulo 24, narra a ocasião em que dois discípulos conversavam, na estrada para Emaús, a respeito do que havia acontecido com Jesus. Enquanto falavam, o próprio Jesus apareceu no meio deles e, sem deixar-se reconhecer, indagou-lhes a respeito do motivo pelo qual eles estavam tão tristes. Para eles, a morte de Jesus significava, de certa forma, que tudo estava perdido e não havia mais nada a fazer, já que Jesus “não estava mais ali”. E o próprio Jesus, sem que eles soubessem que era ele, os fez relembrar de cada coisa que Moisés e os profetas haviam mencionado acerca da ressureição do Cristo Salvador nas Escrituras, pois o sentimento que pairava sobre eles era de profunda tristeza.

Apesar do contexto em questão ser muito diferente do que vivemos hoje, diante dos últimos acontecimentos no Brasil, com certeza o sentimento da maioria das pessoas é muito parecido com o sentimento dos discípulos, uma mistura de tristeza e decepção frente a uma suposta derrota (digo suposta, pois ainda não temos um veredito final acerca das investigações sobre as urnas, pela falta do código fonte). Mas, quase toda derrota é acompanhada de três possíveis fenômenos posteriores, que até os próprios discípulos de Cristo experimentaram. Observe:

  • Tristeza: “os nossos príncipes o mataram” (ver Lc 24:20)
  • Decepção: “esperávamos que ele iria resgatar Israel” (ver Lc 24:21)
  • Dispersão/rompimento do grupo: “dos onze, dois deles estavam indo de Jerusalém, caminho a Emaús" (ver Lc 24:13)

O último pronunciamento do presidente Bolsonarona live do dia 30/12, foi visto como o fim de um ciclo, uma página que, com dor no coração, teremos de virar para poder prosseguir, mesmo com esse sabor amargo de derrota, humilhação e impotência engasgado na garganta e que, inclusive ele, não conseguiu disfarçar no final da live

Contudo, agora mais do que nunca, precisamos de duas coisas: analisar os fatos e construir um plano de ação. Comecemos então analisando os fatos a seguir, levando em consideração que são análises feitas da perspectiva de quem está acompanhando os fatos de fora, como cidadão e patriota, e não da perspectiva de quem estava nas reuniões fechadas da alta cúpula do governo. 

- Decisões políticas requerem certos tipos de apoio:

  1. Do congresso e do senado (pelo menos da minoria).
  2. De aliados. Pois sem essa base que tem o poder nas mãos, qualquer decisão contrária, seria um suicídio político. Bolsonaro como ex-capitão do exército brasileiro, desde o princípio considerava as FFAA (Forças Armadas) como aliada, inclusive dando-lhe um grande protagonismo dentro de seu governo, ao indicar dois generais como vice por duas vezes e outros militares como ministros e ocupando cargos de confiança.

Por que então Bolsonaro não acionou o Artigo 142, já que ele não precisava de apoio do sistema (STF, Congresso, Senado etc., pois é justamente contra esse sistema que se pretendia lutar), mas sim dos aliados, especialmente das FFAA?

Em primeiro lugar, porque sem a Força(Polícia, FFAA), não há nenhuma decisão política ou judicial que consiga se manter em pé. Em segundo lugar, porque provavelmente as FFAA não demonstraram interesse ou disposição em dar apoio coeso ao presidente. Em terceiro, porque há algumas evidências de que vários aliados políticos o abandonaram gradativamente, principalmente depois da derrota nas urnas.

Por que Bolsonaro viajou para os EUA depois da live? Por covardia ou realismo político?

Bom, na política, assim como em muitos aspectos da vida, existe: o ideal (aquilo que gostaríamos) e o real (aquilo que realmente podemos fazer). Nas circunstâncias em que nosso presidente se encontrava, qual era então o real? A realidade era que ele não tinha o apoio nem dos aliados políticos e nem da coalizão das FFAA para acionar o Art.142. E as consequências de tomar uma decisão tão séria como essa sem o devido apoio, geraria uma guerra civil e uma ameaça à integridade do presidente, de sua família e de seus verdadeiros aliados. É necessário lembrar o exemplo do ex-presidente do Peru, Pedro Castillo, que tomou uma decisão sem a devida coalizão das FFAA e sem o devido apoio político de aliados e acabou preso pela própria guarda presidencial. Nem seus aliados civis que utilizaram armamento pesado nos protestos em sua defesa, puderam reconduzi-lo ao poder.

Portanto, se Jair Bolsonaro tivesse tomado qualquer decisão sem antes estar resguardado pelas FFAA, toda a direita atuante seria presa ou severamente reprimida sob a acusação de “atentado à democracia” por aqueles que estão acostumados a usar as folhas Constituição como papel higiênico e fingem ser defensores da democracia.

Bolsonaro sabia que não podia errar. Só tinha uma bala e, se ele errasse o tiro, ele, sua família e toda sua base aliada seria destruída e com isso, todas as possibilidades de ajudar o Brasil estariam sepultadas para sempre. Para que ele se jogue por nós, sem precisar “morrer”, era necessário um apoio unânime e incondicional daqueles que nos 45’ do segundo tempo, o abandonaram, deixando-o sozinho no meio do campo sem bola, sem chuteira e com cães famintos em volta, prontos para comê-lo vivo.

Bolsonaro já está nos EUA. A pergunta de um milhão de euros neste momento é: “E agora, José? O que fazemos?

Os romanos, quando sofriam seríssimas derrotas que ameaçavam a destruição do império, agiam como mestres do realismo político para se recompor. Eles diziam algo simples: “haverá outro dia para lutar”. Esse dia chegará para nós, pois a esquerda não sabe andar reto, não sabe viver sem roubar, mentir e enganar. Enquanto esse dia não chega, o que fazer?

Deixemos Bolsonaro descansar. Foram quatro anos de luta incessante. O envelhecimento, o desgaste e o stress são evidentes em seu corpo. Ele fez o seu trabalho de maneira correta e completa, deixando o país com as contas no azul e em ordem na maioria das áreas, mesmo tendo enfrentado uma pandemia e uma guerra inesperada que colocaram o Brasile o mundo de cabeça para baixo. Ele não tinha a obrigação de se transformar em homem bomba por nós.

Enquanto ele tem um período de merecido descanso, a esquerda vai festejar e vai começar o ano agindo como urubus na carniça e cavará sua própria cova gradativamente. Nesse momento é importante que o povo, que ama o país e apoia Bolsonaro, o ajude para que ele possa:

  • Criar uma rede internacional de aliados que sejam unidos: direita, libertários, conservadores etc.
  • Comandar de longe os deputados e senadores conservadores eleitos para travar a batalha política que só eles podem fazer e não o cidadão comum.
  • Criar redes locais e orgânicas que vão além das redes sociais, entrando ativamente em: sindicatos, universidades, judiciário, núcleos de formação etc. seguindo os conselhos do professor Olavo de Carvalho, que sempre dizia: “Ter o poder não é o mesmo que ganhar eleições”. O professor, quando estava vivo, avisou ao Bolsonaro que se ele não “quebrasse as pernas” dos opositores de esquerda no começo do seu mandato, ele não conseguiria governar. E assim aconteceu.

Enfim, assim como diziam os romanos, teremos outro dia para lutar. Mas antes desse dia, teremos que vencer a tristeza, a decepção e a falta de união, aprendendo com o relato a respeito dos discípulos a caminho de Emaús (Lucas 24). Depois de recuperados e fortalecidos, devemos traçar planos de ação, nos quais o agora ex-presidente tenha um lugar de protagonismo, pois ele sempre será nosso capitão e sua missão e seu amor pelo Brasil não acabam por aqui.

Nossa força vem de Deus. Nossa esperança e fé estão e são originárias dele. Portanto, sigamos em frente, lutando pelo nosso país, por nossa família e princípios. Sempre firmes.  

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