por Agenor Duque
Publicado em 20/02/2023, às 09h11
Segundo divulgado pela agência de notícias Reuters, a Igreja da Inglaterra, onde funciona a matriz da Comunidade Anglicana, considera mudança na linguagem e adoção de gênero neutro para se referir a Deus em suas orações. A proposta, se aprovada em Concílio, mudará uma tradição de mais de mil anos.
A razão repousa sobre o fato de Deus ser referido sempre no masculino (Pai, Ele), o que para muitos, especialmente da ala militante da sociedade, incluindo religiosos, revela, a supremacia e o domínio do masculino tão odiado e combatido por feministas no mundo todo. O tema já vem sendo debatido em vários segmentos da sociedade.
Em relação à mudança, o porta-voz da igreja afirmou que os “cristãos reconhecem desde os tempos antigos que Deus não é homem nem mulher. No entanto, a variedade de maneiras de abordar e descrever Deus encontradas nas escrituras nem sempre se reflete em nossa adoração".
A adoção de pronomes de gênero neutro é uma pauta atual, mas a discussão de usar termo feminino para referir-se a Deus é antiga nas religiões de matriz cristã. Críticos conservadores fazem oposição a tal possibilidade de mudanças, com o rev. Dr. Ian Paul, afirmando que, com a efetivação delas, a igreja estaria abandonando a própria doutrina, e apontou que “O fato de Deus ser chamado de ‘Pai’ não pode ser substituído por ‘Mãe’ sem mudar o significado, nem pode ser neutralizado sem perda de significado. Pais e mães não são permutáveis, mas se relacionam com seus descendentes de maneiras diferentes”.
A IgrejaAnglicana confere a seu clero liberdade para interpretar e adaptar textos oficiais da religião, o que permitiu que a linguagem neutra tenha sido utilizada em alguns momentos e regiões. O rev. Anderson Jeremiah[1] afirma preferir usar metáforas neutras em referência a Deus e que ao referir-se a Jesus, usa o masculino, já que Jesus era homem, e, portanto, deve ser referido dessa forma. De acordo com o The Guardian, o dr. Michael Ipgrave[2], responsável pelo tema, a Anglicana vem explorando o uso de linguagem de gênero há anos.
A expectativa é que, até o meio do ano, e em busca de se adaptar às novas formas de se fazer referência a Deus, a igreja da Inglaterra inicie o projeto “Linguagem de Gênero”. As propostas apresentadas para a mudança vão da substituição de Father (Pai) por Parent (genitores) ao uso do pronome She (ela) para Deus; mas ainda não há consenso quanto à linguagem a ser utilizada, e o processo ainda precisa da aprovação do Concílio, órgão regulador da instituição.
A proposta está mais para passos largos rumo à implantação, de fato, de uma ditadura ideológica global, que surge com discurso de que a mudança seja sinal de que a igreja está antenada quanto às questões da igualdade de gênero e de olho na crescente conscientização em relação à “linguagem neutra”, mas, na verdade, revela estar de mãos dadas com a ditadura LGBT(com todas as letras adicionais que à sigla vem sendo adicionadas), agendas predominantemente de esquerda e liberal, que veem nisso uma ação que promete, enganosamente, ser a salvação de indivíduos que se sentem excluídos por não se identificarem com seu respectivo sexo biológico e se consideram de um gênero oposto a ele, ou ainda os que não se encaixam no padrão masculino ou feminino.
As Escrituras descrevem Deus como Criador, Senhor, Rei, Juiz, Pai, Marido, todos masculinos; e há também referências femininas a Deus como sendo a Rocha (Dt 32.18); como ama ou a que concebeu Israel (Nm 11; Dt 32.18); como alguém que grita como a parturiente (Is 42.15). Feministas advogam que se deva usar livremente pronomes masculinos e femininos para Deus: “[...] se não significa que Deus é macho quando uma figura masculina é usada” qual a razão de se fazer objeção, “quando figuras femininas são apresentadas?”, o que é refutável pela simples relevância teológica da predominância de figuras masculinas na Bíblia.
Na carta escrita aos romanos, no capítulo 12, o apóstolo São Paulo adverte a que não nos amoldemos à forma do sistema que rege este mundo. Não é alienar-se, mas não se deixar corromper pelo sistema que cada vez está se afastando mais de Cristo. Entende-se pelas Escrituras que um verdadeiro discípulo de Jesus assimila a forma de viver do Reino de Deus e que está em um mundo regido pelos sistemas secular e do maligno para fazer a diferença, para revelar Cristo, para trazer a luz do evangelho e os valores de Deus a este mundo que se encontra mergulhado em trevas, angústias, relativismo, secularismo e enganos os mais variados e atrativos, e que resultarão na perdição eterna.
A igreja de Jesus deve ser acolhedora, mas jamais inclusiva. Receber todas as pessoas, contando a elas do poder transformador das boas-novas, que é o evangelho. O discípulo de Jesus deve olhar para este mundo sob a ótica divina e, com discernimento e sabedoria, aplicar as verdades do Reino de Deus reveladas na Bíblia de forma a sarar as feridas humanas, dar sentido e propósito à vida e garantir um futuro eterno na presença do Cristo que morreu para conduzir pecadores redimidos à presença do Deus santo. Este é o papel da verdadeira igreja de Cristo. Afinal quem se engaja no Reino de Deus não pode perder o foco. E o foco é Cristo.
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[1] Padre anglicano e reitor para “Igualdade, Diversidade, Inclusão e Pessoas” na Universidade de Lancaster.
[2] Bispo de Lichfield e vice-presidente da Comissão Litúrgica.
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