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Moradores de todas as regiões da cidade de SP reclamam que água está acabando mais cedo; Sabesp admite que reduziu pressão

Moradores das regiões Centro, Norte, Sul, Leste e Oeste da cidade de São Paulo relataram ao G1 que na última semana a a água acabou mais cedo do que o horário

Moradores de todas as regiões da cidade de SP reclamam que água está acabando mais cedo; Sabesp admite que reduziu pressão
Moradores de todas as regiões da cidade de SP reclamam que água está acabando mais cedo; Sabesp admite que reduziu pressão

Redação Publicado em 25/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 17h41


Para o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema), a redução de pressão sempre ocorre, mas agora o que está em vigor é o racionamento de água. O Brasil e São Paulo vivem a pior seca em 91 anos.

Moradores das regiões Centro, Norte, Sul, Leste e Oeste da cidade de São Paulo relataram ao G1 que na última semana a a água acabou mais cedo do que o horário que normalmente é desligada. A Sabesp admitiu que reduziu a pressão.

Para o Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema), a redução de pressão sempre ocorre, mas agora o que está em vigor é o racionamento de água (leia mais abaixo).

Na Vila Prado, Zona Norte, uma moradora disse que a água acabou às 15h de quarta-feira (22). Na Pompeia, Zona Oeste, um morador relatou que faltou água de manhã na terça-feira (21). Um morador do Centro disse que as torneiras secaram às 19h de sábado (18). Antes, o corte de água ocorria mais tarde, geralmente durante a noite e a madrugada.

Nos dois primeiros casos, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) disse que no entorno dessas casas “a situação do abastecimento estava dentro dos padrões”.

O Brasil vive a pior seca dos últimos 91 anos, de acordo com o alerta de emergência hídrica emitido em maio deste ano por um conjunto de órgãos do governo federal. Na capital paulista, o volume de chuvas durante o inverno foi 56% menor do que a média histórica.

Com a falta de chuvas, os reservatórios que abastecem toda a região metropolitana estão cada vez mais secos. Neste sábado (25), o volume total armazenado é de apenas 39,3%. O Sistema Cantareira, principal reservatório que abastece 7,2 milhões de pessoas na região, tem neste sábado (25) apenas 31,7% da sua capacidade. Esse número se aproxima de sua faixa de restrição (abaixo de 30%). Os dados são da Sabesp.

Torneira em casa na Mooca, Zona Leste da capital paulista: moradora relata que esta semana a água acabou mais cedo e voltou ainda mais tarde — Foto: Renata Bitar/g1

Torneira em casa na Mooca, Zona Leste da capital paulista: moradora relata que esta semana a água acabou mais cedo e voltou ainda mais tarde — Foto: Renata Bitar/g1

Os casos de falta de água se repetem também na Zona Sul e na Zona Leste.

A pesquisadora C. Coelho, 27 anos, que prefere não se identificar, é moradora do Campo Belo, bairro nobre da Zona Sul de São Paulo. Ela conta que há dois anos falta água a partir de 23h na casa dela, mas esta semana, pela primeira vez, a água acabou às 22h na terça-feira (21) e às 21h30 e na quarta-feira (22). Normalmente, segundo ela, as torneiras só voltam a ter água às 5h.

“Me chamou atenção porque, normalmente, quando falta água aqui é a partir das 23h. Já faz mais de dois anos que, periodicamente, falta água aqui em casa à noite e vai até umas 5 da manhã. Principalmente no verão. Não é o ano todo e, às vezes, não falta por completo, mas diminui muito o fluxo. A maioria das pessoas não percebe porque mora em prédio, mas nas casas aqui da rua já tem rolado faz um tempo pelo que eu conversei com os vizinhos”, afirma.

De acordo com C. o impacto na falta de água diariamente acontece inclusive no bolso por terem que comprar água em garrafas para beber.

“Hoje em dia, o que mais preocupa é que acaba a água do filtro, então não tem como beber se não tiver garrafa cheia. No ano passado, tínhamos que comprar garrafas d’água para ter em situações como essas, porque já estava bem comum. Vamos ter que voltar a fazer isso agora provavelmente (o que é um absurdo porque é mais um gasto e bom está tudo caro e os salários baixos). E é muito louco porque estou em um bairro nobre!”

A estudante de Arquitetura e Urbanismo Gabriela Araújo, de 26 anos, mora na Vila Silva Teles, no Itaim Paulista, Zona Leste da capital. Ela também relata que começou a faltar água durante mais tempo esta semana.

“Há pelo menos um ano, a falta de água entre 21h e 22h e volta pela manhã. Antes era algo perto das 6h ou 7h. Esta semana, porém, notamos que às 9h ainda não havia voltado. Não conseguimos beber água filtrada nesse período porque nosso filtro tem abastecimento direito da água que vem da rua”, afirma.

Ainda na Zona Leste, a aposentada Norimar Roman, 77 anos, moradora da Mooca, conta que há mais de um ano falta água entre 21h30 e 22h, mas na quinta-feira (23), começou mais cedo.

“Lá pelas 19h30 já não tinha água. A água do chuveiro é da caixa d’água. O único lugar que eu tenho caixa d’água é no banheiro e é o que salva né, porque pra fazer café, tudo, de manhã tem que pegar água do banheiro, da pia, claro. Hoje eu já peguei dois potes de plástico para armazenar água porque se amanhã precisar lavar alguma louça, alguma xícara, aí eu tenho um pouco de água.”

De acordo com ela, o horário em que a água volta também ficou para mais tarde esta semana.

“Antigamente (a água) ainda voltava às 5h. Agora não, agora é umas 6h30. Todo dia isso. Nem adianta ligar na Sabesp, é assim mesmo. Isso acontece em todas as casas daqui da rua, então ninguém reclama, não fala nada.”

Em nota, a Sabesp admitiu que faz “gestão da pressão da água”.

“A Sabesp informa que realiza na Região Metropolitana de São Paulo a gestão de pressão, prática recomendada internacionalmente: quando há menos consumo, reduz-se a pressão nas redes a fim de evitar perdas por vazamentos e rompimentos; quando o uso é retomado, a pressão é reajustada.

É algo semelhante ao que ocorre à noite, por exemplo, com o transporte público: com menos demanda, reduz-se a circulação de ônibus. Imóveis com caixa-d’água com reserva para ao menos 24 horas, como determina o decreto estadual 12.342/78, não sentem os efeitos de eventuais manutenções ou da gestão de demanda noturna. A Sabesp recomenda aos moradores que conectem torneiras e outros equipamentos hidráulicos às caixas-d’água.” Leia abaixo a nota completa.

Torneira em casa na Mooca, Zona Leste da capital paulista: moradora relata que esta semana a água acabou mais cedo e voltou ainda mais tarde — Foto: Renata Bitar/g1

Torneira em casa na Mooca, Zona Leste da capital paulista: moradora relata que esta semana a água acabou mais cedo e voltou ainda mais tarde — Foto: Renata Bitar/g1

O que é a “redução de pressão” ?

De acordo com especialistas, a gestão da demanda é feita através de um mecanismo conhecido como Válvula de Redução de Pressão (VRP) e realmente é importante para proteger o sistema.

Isso porque de madrugada, quando o consumo normalmente diminui e a pressão aumenta, podem acontecer rompimentos das redes de água. Se a pressão é diminuída, isso pode ser evitado. Outro efeito da redução de água é que quando há vazamentos que ainda não foram detectados, há menor perda de água se a pressão for menor.

No site da Sabesp é possível consultar em quais regiões a Sabesp realiza a gestão de demanda noturna.

A redução da pressão já acontecia normalmente, de acordo com José Antônio Faggian, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente (Sintaema), mas agora o que ocorre é racionamento.

“O que a Sabesp está fazendo agora, embora eles não admitam, é um rodízio ou racionamento. Tenho conversado com técnicos e está tendo uso da VRP para fazer um racionamento. A palavra não é boa porque pode causar pânico na população e não é o momento para isso, contudo”, afirma.

De acordo com Faggian, os técnicos confirmam que estão antecipando a programação do sistema da VRP, responsável por reduzir a pressão, o que consequentemente faz faltar água nas casas.

“A VRP era acionada a partir das 23h, mas anteciparam para as 21h na maioria das regiões, e algumas às 22h. Isso faz com que alguns pontos críticos, mais distantes dos reservatórios e pontos mais altos da cidade, deixem de receber água. Outro efeito é que como as válvulas ficam fechadas mais tempo do que o normal, a demora para reestabelecer [o fornecimento de água] é maior.”

Um ponto importante, de acordo com Faggian, é que a perspectiva de fim da estiagem é ruim, e mesmo quando começar a chover, a recuperação dos reservatórios não é imediata.

Essa manobra que a empresa faz já indica que estão bastante preocupados e os técnicos confirmamestão todos bastante preocupados. Seria importante que o governo do estado tomasse medidas no sentido de alertar a população para usar água conscientemente. Tenho viajado pelo estado e é assustador ver o nível que os rios estão.”

O que diz a Sabesp

“A Sabesp informa que realiza na Região Metropolitana de São Paulo a gestão de pressão, prática recomendada internacionalmente: quando há menos consumo, reduz-se a pressão nas redes a fim de evitar perdas por vazamentos e rompimentos; quando o uso é retomado, a pressão é reajustada.

É algo semelhante ao que ocorre à noite, por exemplo, com o transporte público: com menos demanda, reduz-se a circulação de ônibus. Imóveis com caixa-d’água com reservação para ao menos 24 horas, como determina o decreto estadual 12.342/78, não sentem os efeitos de eventuais manutenções ou da gestão de demanda noturna. A Sabesp recomenda aos moradores que conectem torneiras e outros equipamentos hidráulicos às caixas-d’água.

O sistema de distribuição de água da Região Metropolitana é complexo, a operação do sistema é dinâmica e situações pontuais podem gerar alteração no abastecimento e também na gestão da pressão na rede que é monitorada e avaliada diariamente pela Sabesp. Assim sendo, considerando situações pontuais, estão válidas as informações do site sobre os horários previstos da gestão da pressão.

A Sabesp informa ainda que o total de imóveis afetados por falta de água caiu 13,6% quando comparados os registros na Central de Atendimento de janeiro a julho de 2020 com janeiro a julho de 2021.

A Companhia está à disposição pelos canais de atendimento ao cliente, telefones 195 e 0800 055 0195 (ligação gratuita) e pela Agência Virtual no site.”

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G1
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