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Moradora da Zona Sul de SP passa a criar galinhas para não precisar comprar ovos e ter o que comer: ‘Carne? Nem sei mais o que é isso’

"Carne? Eu nem sei mais o que é isso. Aqui tem sardinha e courinho de toicinho, esta é a minha mistura. Minhas galinhas também, que eu cuido e dá ovo, aí não

Moradora da Zona Sul de SP passa a criar galinhas para não precisar comprar ovos e ter o que comer: ‘Carne? Nem sei mais o que é isso’
Moradora da Zona Sul de SP passa a criar galinhas para não precisar comprar ovos e ter o que comer: ‘Carne? Nem sei mais o que é isso’

Redação Publicado em 24/05/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h13


“Carne? Eu nem sei mais o que é isso. Aqui tem sardinha e courinho de toicinho, esta é a minha mistura. Minhas galinhas também, que eu cuido e dá ovo, aí não precisa comprar”, diz Joelita Miranda Santos, que não se lembra ao certo da idade, mas acredita estar com 55 anos.

Há oito anos, Joelita mora em uma casa de um cômodo e banheiro na comunidade de Pinheiral, na região do Jardim Ângela, Zona Sul da capital paulista.

Ela está desempregada e tem como única renda o valor de R$ 400 do Auxílio Brasil.

“Não posso dizer que esse valor dá para viver, porque não dá. O que eu tenho para comer sempre é arroz, feijão, ovo e banana, que eu pego quando sobra na feira. É um dinheiro que dá para comprar algumas coisinhas só”, afirmou.

Nos últimos anos, Joelita passou a criar galinhas no próprio quintal para não precisar gastar dinheiro comprando ovos.

Frutas doadas por feirantes da região.  — Foto: Deslange Paiva/ g1

Frutas doadas por feirantes da região. — Foto: Deslange Paiva/ g1

Até o começo deste ano, ela cozinhava em um fogão à lenha improvisado no quintal, mas, recentemente, com a ajuda da filha, conseguiu um eletrodoméstico novo. “Consegui dois bujão [botijões de gás doméstico] também e estou conseguindo cozinhar alguma coisinha.”

Uma assistente social que trabalha na região em que Joelita mora informou que, até o final do ano passado, ela não recebia nenhum auxílio financeiro. Nem sabia que tinha direito ao benefício.

“Essas meninas me salvaram, apareceram aqui em um dia em que eu estava desesperada, chorando muito porque não tinha nada em casa. Se não fosse elas, não sei o que teria sido de mim”, conta Joelita.

Joelita Miranda Santos que mora sozinha em uma casa de um cômodo no Jardim Ângela e depende dos R$ 400 do Auxílio Brasil e de doações  — Foto: Deslange Paiva/ g1

Joelita Miranda Santos que mora sozinha em uma casa de um cômodo no Jardim Ângela e depende dos R$ 400 do Auxílio Brasil e de doações — Foto: Deslange Paiva/ g1

Extrema pobreza na cidade de SP

Mais de 619 mil famílias estão vivendo em situação de extrema pobreza na cidade de São Paulo, segundo dados da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

O levantamento foi realizado a partir de dados coletados do Cadastro Único do município. Em janeiro de 2021, 473.814 famílias estavam nesta situação, neste ano, o número teve um aumento de 49,7%, subindo para 619.869.

As subprefeituras que possuem mais famílias na extrema pobreza são:

  • M’Boi Mirim: 41.308 famílias
  • Capela do Socorro: 39.230 famílias
  • Cidade Ademar: 38.108 famílias

CadÚnico considera famílias em situação de extrema pobreza aquelas com renda per capita mensal de até R$ 105. Elas passam a ter direito a receber benefícios sociais, como o Auxílio Brasil, que repassa a partir de R$ 400 para famílias em extrema pobreza.G1

Antes do início da pandemia, em janeiro de 2019, eram 412.337 famílias neste grupo. Em janeiro de 2020, subiu para 450.351, um aumento de 9,21%. Em 2019, eram consideradas famílias em extrema pobreza aquelas com renda per capita mensal de até R$ 85. Em 2020 e 2021, a renda per capita que atestou tal situação era de até R$ 89.

Nos três anos, as regiões de M´Boi Mirim, Capela do Socorro, Cidade Ademar na Zona Sul se mantiveram entre as que registraram os maiores números de famílias nesta situação, seguida por São Mateus, na Zona Leste.

Para Marcelo Neri, diretor da FGV Social, os números do CadÚnico não mostram os reais dados de extrema pobreza nos municípios.

“Tivemos o processo de migração do Bolsa Família para o Auxílio Brasil, mas antes disso vigorava o auxílio emergencial. Nessa passagem, teve o aumento do valor do benefício em relação ao Bolsa Família, mas diminuiu o número de beneficiários em relação ao auxílio emergencial, o que gera flutuações. O cadastro é um medidor de quem está sendo enxergado pela política, quem está sendo servido ou não”, afirma.

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G1
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