Marcus Vinícius De Freitas, Advogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China
Redação Publicado em 18/11/2020, às 00h00 - Atualizado às 08h13
Marcus Vinícius De Freitas, Advogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China
O ano de 2020 entrará para a História como o início do século asiático não pela pandemia mas pela superação de uma crise profunda de um modo mais planificado e eficiente. Por tratarem o Covid-19 como uma questão de política pública – e não ideológica ou de disputa global de poder – lograram virar a página mais rápido, reinventar-se e mudar o rumo. Enquanto isso, no Ocidente, a Covid-19 derruba governos, castiga políticos e empresários que não a trataram com a devida seriedade, e preocupa, ainda mais, pelo impacto econômico que terá em virtude da falta de estratégia e da segunda onda. Paulatinamente, o Ocidente vai ficando para trás. E a culpa não é deles, mas nossa.
Um exemplo desse avanço na busca de soluções alternativas para a saída da crise foi a recente assinatura da Parceria Econômica Regional Abrangente (RCEP, em inglês), que inclui 15 países: 10 membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático – ASEAN (Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mianmar, Singapura, Tailândia e Vietnã) e mais 5 (Austrália, China, Coreia do Sul, Japão e Nova Zelândia). Trata-se do maior acordo de livre comércio global, suplantando, em muito, a União Europeia e o Acordo Estados Unidos, México e Canadá.
Abrangendo 30% da população mundial e do PIB global, num total aproximado de US$ 26 trilhões, o maior bloco comercial representará 28% do comércio global. Neste acordo, 2.1 bilhões de pessoas serão beneficiadas positivamente, com um comércio mais intensivo, redução de tarifas e burocracia, alterando uma dinâmica importante de conversão da Ásia de base exportadora global para o maior mercado consumidor global.
Negociada desde 2012, na Cúpula da ASEAN realizada no Camboja, a RCEP unifica as regras de origem, expande as cadeias globais de fornecimento, fortalece o comércio intra-regional e desloca o eixo da economia global do Atlântico para o Pacífico. Apesar de a Índia, que saiu do acordo em novembro de 2019, ter optado por não participar – apesar de o convite à sua participação permanecer em aberto – por uma preocupação com o possível aumento do fluxo de produtos chineses baratos e a entrada ostensiva de produtos lácteos da Austrália e Nova Zelândia, o acordo constitui um acerto estratégicode Beijing, que incentivou o pragmatismo no acordo: assuntos como sindicatos, proteção ambiental ou subsídios governamentais ficaram temporariamente fora do acordo. Para a pragmática Beijing, o que importa em primeiro lugar é crescer, incrementar o comércio e ampliar as economias. Depois do crescimento, a discussão sobre os outros assuntos vêm como consequencia. Colocar estes assuntos, em primeiro lugar, de fato, somente atrasa as negociações e prolonga diálogos menos relevantes.
A RCEP, que é o primeiro acordo de livre comércio entre três das quatro maiores economias asiáticas – China, Coreia do Sul e Japão – tem membros dos mais variados tamanhos e pesos econômicos, todoscom o objetivo de tomar as medidas necessárias para saírem, rapidamente, da crise preconizada pela COVID-19. O acordo, aberto à participação dos países da Ásia Central, também tem o objetivo de ser o grande integrador das economias daquela região do mundo. Com um impacto sobre a economia global de cerca de US$ 186 bilhões por ano, a Parceria poderá, eventualmente, acrescentar mais de US$ 1 trilhão no PIB global nas próximas décadas.
A China consolida, ainda mais, a sua influência global. Apesar de o impacto econômico da Guerra Comercial com os Estados Unidos ser mais daninho do que os benefícios oriundos da Parceria, o acordo reduz, cada vez mais, o papel dos Estados Unidos na Ásia. Joe Biden, o presidente-eleito dos Estados Unidos – a menos que haja qualquer alteração por decisão judicial – não terá a capacidade de reduzir o avanço chinês. Com preocupações maiores como a transição de poder, pandemia e desemprego, apesar dos resultados positivosrecentes, Biden já afirmou que sua prioridade é priorizar os Estados Unidos e a resolução dos enormes problemas domésticos, particularmente com o aumento do número de casos de COVID-19 nos últimos meses.
A realidade é que a Ásia não dorme. Aprendeu com a pandemia do SARS em 2002, não politizou a COVID-19, adotou medidas rápidas de solução, e, agora, vencendo resquícios de inimizade histórica, unificou-se para sair da crise. Enquanto isso, no Ocidente, a União Europeia enfrenta o Brexit, o Mercosul uma negociação acirrada para o acordo comercial com a União Europeia e os Estados Unidos uma divisão interna sem precedentes. Não há dúvida de que a Ásia dominará os próximos séculos. Contra fatos, não há argumentos.
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