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Jornalista relata ter sofrido racismo em salão de beleza nos Jardins

A jornalista Luanda Vieira, de 33 anos, informou em uma rede social que foi vítima de racismo em um salão de beleza nos Jardins, bairro nobre na Zona Oeste de

Jornalista relata ter sofrido racismo em salão de beleza nos Jardins
Jornalista relata ter sofrido racismo em salão de beleza nos Jardins

Redação Publicado em 16/05/2022, às 00h00 - Atualizado às 08h00


A jornalista Luanda Vieira, de 33 anos, informou em uma rede social que foi vítima de racismo em um salão de beleza nos Jardins, bairro nobre na Zona Oeste de São Paulo. O caso, segunda ela, ocorreu no dia 6 de maio.

Luanda afirmou que um cabeleireiro, identificado depois como Augusto Lima, debochou dela enquanto ela era atendida por uma manicure no Studio Lorena, na Rua Oscar Freire.

“Ele disse para ela (a manicure que a atendia) que achou que eu era Miriã. ‘Imagina a Miriã sentada aí!’ (teria dito o rapaz)”. Miriã seria outra manicure que trabalhara no salão.

“A questão não foi ele ter me relacionado a uma manicure, mas ele ter feito um show porque tinha uma mulher negra ali. Ele ficou uns três minutos rindo e falando alto, em tom deboche, com a manicure que me atendia, como se eu não estivesse lá. E por que a Miriã não poderia estar sentada ali? Esse é o racismo estrutural: o negro não pode estar em todos os lugares“, afirmou.

A jornalista relatou o caso em um vídeo, dias depois.

“Meu objetivo não era atingir o salão, mas encorajar mais mulheres negras a denunciar o racismo. Racismo é crime e cresce no silêncio”.

Não há confirmação, porém, de que a jornalista formalizou denúncia ou queixa à Polícia Civil.

O Studio Lorena admitiu que o funcionário errou. “Isso nos mostra o quanto precisamos trazer o debate racial com mais afinco aqui para dentro, já que nossa proposta enquanto espaço não é a de fazer comparativos entre pessoas, mas ser um ambiente onde todos se sintam acolhidos e bem”, informou o salão em nota (leia abaixo).

O funcionário envolvido não se manifestou.

Nota do Studio Lorena

Olá. Aqui é a Fernanda e o Luís.

Nesses últimos dias a gente (sic) leu bastante coisa. E a nossa ausência aqui, apesar de parecer descaso, é porque é um assunto delicado de se posicionar, especialmente em um ambiente que potencializa mais o combate do que a conversa.

Gostaríamos de começar dizendo que ouvir o relato da Luanda na sexta logo depois que aconteceu nos deixou muito tristes. Nossa primeira atitude foi ouvi-la e nos desculparmos por ela ter vivido isso.

Na sexta-feira o Augusto agiu de forma que julgamos errada sim ao confundir e comparar a Luanda com a Miriã, já que essa conexão se deu por ambas serem negras e usarem o mesmo estilo de penteado e tranças (que era um penteado que a Miriã usava na época que trabalhava aqui com a gente – há 5 anos).

Isso nos mostra o quanto precisamos trazer o debate racial com mais afinco aqui para dentro, já que nossa proposta enquanto espaço não é a de fazer comparativos entre pessoas, mas sim ser um ambiente onde todos se sintam acolhidos e bem. Não esperávamos mesmo que pudesse acontecer, ainda mais vindo do Augusto, que está com a gente desde o dia 01 do salão (há 11 anos) e que nunca nos deu motivos para duvidarmos dos seus princípios e caráter. Por aqui a gente acredita que a mudança perante os nossos problemas sociais se constrói juntos, ouvindo e conversando ao invés de apenas afastando, pelo menos para aqueles que merecem uma segunda chance.

Por fim, vale deixar claro que em hipótese alguma a surpresa do Augusto se deu pelo fato de ter “uma mulher negra ali sentada fazendo as unhas” (citação do vídeo). Isso não é nenhuma surpresa para gente que está aqui todos os dias. E, @luandavieira: Você trouxe o fato de que no fim da nossa ligação eu ressaltei a sua educação ao escrever a mensagem e ao falar comigo ao telefone para me contextualizar em seu vídeo como racista. Poxa, sério? Te dando o contexto do lado de cá, eu trouxe isso porque pude sentir o lugar de dor que você estava naquele momento e, ainda assim, teve toda a sabedoria do mundo para trazer essa conversa com as meninas na recepção, no whats e depois na ligação comigo de um modo construtivo. E isso é raro, independente da cor da pele. Continuo elogiando a forma que você veio até nós, bem como a atitude de trazer a conversa para a internet. Mesmo infelizmente tendo a nossa marca envolvida, a gente também acredita que é preciso sim conversar mais e mais. Se, de alguma forma estamos melhorando em alguns aspectos enquanto humanidade, é porque hoje temos a possibilidade de conversarmos, que tantas outras gerações não tiveram. É por isso que a gente está aqui para essa conversa e é por isso que o Augusto vai passar por essa transformação de cultura interna junto com a gente.

Sempre tivemos a porta aberta para receber a todos. E se por essa porta entram poucos negros, sim, isso é um problema. Mas aí é uma outra conversa.

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G1
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