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Em decisão histórica, deputados aprovam projeto que legaliza aborto na Argentina

Após 20 horas de debate, a Câmara argentina aprovou nesta madrugada, por 131 votos a favor, 117 contra e seis abstenções, o projeto de legalização do aborto

Em decisão histórica, deputados aprovam projeto que legaliza aborto na Argentina
Em decisão histórica, deputados aprovam projeto que legaliza aborto na Argentina

Redação Publicado em 11/12/2020, às 00h00 - Atualizado às 11h38


Promessa de campanha de Alberto Fernández, texto será avaliado pelo Senado e decisão pode ficar para 2021

Após 20 horas de debate, a Câmara argentina aprovou nesta madrugada, por 131 votos a favor, 117 contra e seis abstenções, o projeto de legalização do aborto enviado em novembro passado pelo presidente Alberto Fernández. O texto foi agora para o Senado, que deverá tratá-lo nas próximas semanas. Ainda existe expectativa entre ONGs locais de que a iniciativa se torne lei até o final do ano, mas a decisão final poderia ficar para o começo de 2021.

Em votação realizada na Câmara em 2018, projeto similar obteve 129 votos a favor e 125 contra. Desta vez, a vitória do ‘sim’ foi mais folgada, antecipando um cenário relativamente mais promissor no Senado, presidido agora pela vice-presidente Cristina Kirchner.

Durante seus dois mandatos como presidente (2007-2015), Cristina não promoveu a legalização do aborto, mas em 2018, como senadora e alegando ter sido influenciada por sua filha, Florencia Kirchner, e pela juventude feminina kirchnerista, a ex-chefe de Estado mudou de posição. Militantes pró-aborto esperam que, agora, a vice-presidente consiga convencer os senadores que ainda não confirmaram seu voto.

Na mesma sessão encerrada de madrugada, os deputados argentinos aprovaram o chamado projeto da Lei dos Mil dias, que prevê assistência do Estado às mulheres de setores humildes que decidam ter seus filhos e não tenham recursos para arcar com as despesas dos primeiros anos.

Para evitar atritos com setores que se opuseram ao projeto, o presidente acompanhou a votação na residência oficial de Olivos. Do lado de fora do Congresso, militares a favor e contra o aborto realizaram uma longa vigília, à espera do resultado final.

O projeto que obteve sinal verde na Câmara descriminaliza o aborto até as 14 semanas de gestação e estabelece a objeção de consciência individual, obrigando as instituições a garantirem que o procedimento será realizado. Caso nenhum dos profissionais de uma instituição aceitem praticar o aborto, a clínica ou hospital deve garantir que a paciente será atendida em outro lugar.

Promessa de campanha

Foi determinado, ainda, um prazo de dez dias para que o procedimento seja feito, após a confirmação da gravidez. Em seus discursos, os deputados expuseram o pensamento de setores da sociedade argentina que divergem diametralmente quando se tratado do aborto

“Isso é uma moda, não falem em nome das mulheres e das mulheres pobres. Vocês se incomodam quando são chamados de assassinos, mas não existe outra maneira, porque se trata de uma vida”, afirmou o deputado Francisco Sánchez, do opositor PRO, liderado pelo ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019).

Em seu governo, o ex-chefe de Estado defendeu o debate da lei sobre legalização do aborto no Parlamento, mas nunca expôs sua posição pessoal. O gabinete de Macri estava dividido, tendo dirigentes como a ex-vice presidente Gabriela Michetti abertamente contra o aborto legal. Já Fernández prometeu aprovar a lei de aborto legal na campanha presidencial de 2019.

O deputado Hernán Pérez Araújo, da governista Frente de Todos, disse que a Argentina está “saldando uma dívida da democracia”:

“Estamos defendendo um direito que não é nosso, é das mulheres. Para alguns, a paternidade deve acontecer quando o homem tem vontade, e a maternidade, pelo contrário, deveria ser obrigatória. Não senhores, a maternidade é desejada ou não acontecerá”.

De acordo com pesquisa realizada pelo Centro de Estudos de Pesquisas Trabalhistas (CEIL, na sigla em espanhol), que pertence ao Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas (CONICET, na sigla em espanhol), 79,1% dos argentinos são hoje a favor da interrupção voluntária da gravidez.

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iG

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