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Desigualdade afeta saúde mental da população negra, dizem paulistanos

Levantamento sobre a percepção da população paulistana em relação ao racismo e as consequências da discriminação no cotidiano da população negra na cidade,

Desigualdade afeta saúde mental da população negra, dizem paulistanos
Desigualdade afeta saúde mental da população negra, dizem paulistanos

Redação Publicado em 19/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h09


Para 49% deles, a discriminação pode desencadear o problema

Levantamento sobre a percepção da população paulistana em relação ao racismo e as consequências da discriminação no cotidiano da população negra na cidade, feito pela Rede Nossa São Paulo em parceria com o Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), mostrou que a desigualdade social é o fator que mais contribui para desencadear ou agravar problemas de saúde mental na população negra para 49% da população.Desigualdade afeta saúde mental da população negra, dizem paulistanosDesigualdade afeta saúde mental da população negra, dizem paulistanos

Segundo a edição de 2021 da pesquisa Viver em São Paulo: Relações Raciais, divulgada hoje (18), o medo constante de sofrer abuso ou violência policial, apontado por 45% dos entrevistados e o medo constante de sofrer discriminação ou preconceito racial e não saber como lidar, citado por 42%, também são fatores que interferem na saúde mental. Outros 47% dos paulistanos disseram que a pandemia também teve impacto maior sobre o trabalho e a capacidade de gerar renda das pessoas negras.

A pesquisa revelou ainda que em seis dos oito locais avaliados prevalece a percepção da maioria dos entrevistados de que há diferença no tratamento de pessoas negras e pessoas brancas, apesar de ter sido registrada uma leve queda nesses itens do ano passado para este ano. Para 78% das pessoas essa diferença de tratamento existe nos shoppings e comércios (81% em 2020). Nas escolas e faculdades, essa percepção foi apontada por 74% (77% em 2020); nas ruas e espaços públicos, 72% (75% no ano passado); no trabalho, 68% (74% em 2020) e no transporte público, 64% (no ano passado eram 70%). Para 57% das pessoas, há diferença nesse tratamento nos hospitais e postos de saúde (65% em 2020) e, no local onde moram, o percentual é de 48% (57% em 2020).

Segundo a Rede Nossa São Paulo, os indicadores apontam que as pessoas estão esperando medidas mais práticas de combate à violência e responsabilização das pessoas brancas, entendendo que o problema racial é uma questão para toda a sociedade. Se informar mais e se educar sobre o assunto segue a opção mais citada quanto ao papel das pessoas brancas no combate ao racismo (56% dos pretos e pardos, subindo 7 pontos em relação ao ano anterior), seguida de intervenção em situações de tratamento diferenciados entre brancos e negros (44% da população total).

O levantamento mostrou ainda que os entrevistados acreditam que as empresas devem sempre se posicionar contra qualquer ato de racismo (46%) e que elas devem treinar os funcionários para acolher melhor as pessoas que sofreram racismo (36%), além de ter canais específicos para denúncias de casos de racismo (33%). Também são 33% aqueles que entendem que as empresas devem promover campanhas contra racismo e criar políticas para banir ou bloquear clientes racistas.

“Nós fazemos essa pesquisa desde 2018 e percebemos que a percepção de racismo em São Paulo não está mudando. Então, realmente, estamos pecando em colocar essa pauta como transversal às diversas políticas e fazer com que a cidade seja acessível a essa população que é mais vulnerável”, disse a coordenadora da Rede Nossa São Paulo, Carolina Guimarães.

Segundo a coordenadora, pelo menos 80% das pessoas entendem que o racismo é prejudicial ao desenvolvimento econômico local. Para ela, a pesquisa “mostra claramente que as pessoas acreditam que os negros não conseguem atingir seu potencial pleno porque têm obstáculo”. A pesquisa indicou também que 48% dos entrevistados avaliam que o aumento da punição por injúria racial e o debate sobre o tema nas escolas (33%) são as medidas que mais contribuem para o combate do racismo na cidade de São Paulo.

“Especialmente quando temos desafios, como a pandemia, por exemplo, que traz prejuízos para a saúde mental, podemos ver dois grandes caminhos: um a mais curto prazo e punitivo, entendendo que as pessoas estão cansadas de ver o racismo e a injúria racial e acham que a punição é importante e outro mais a longo prazo, mais construtivo, com debates na escola.”

Foram entrevistados 800 moradores da cidade de São Paulo, com 16 anos ou mais, entre os dias 10 a 26 de agosto de 2021.

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Agência Brasil

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