Em uma pista de alta velocidade, uma atleta caminha rente ao estreito acostamento trajando apenas um maiô. Ela sobe na beira da Ponte da Joatinga, uma das
Redação Publicado em 10/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 13h11
Em uma pista de alta velocidade, uma atleta caminha rente ao estreito acostamento trajando apenas um maiô. Ela sobe na beira da Ponte da Joatinga, uma das principais vias de acesso à Barra da Tijuca, para realizar um salto acrobático a cerca de 16 metros de altura. Não encontrou um local mais alto no Rio de Janeiro para treinar em segurança. E, dali mesmo, “voou” para executar a sua série até cair de pé, rasgando os quatro metros de profundidade do mar. Uma cena inusitada, tipicamente carioca, protagonizada pela gaúcha Jacqueline Valente, única brasileira no “Cliff Diving” (salto de penhasco).
– Foi incrível, ali é muito bom. Com a ajuda de um jetski os saltos teriam sido mais rápidos, e eu conseguiria treinar mais. Mesmo assim, foi ótimo. Voltarei novamente. Quero colocar um andaime de quatro metros para chegar à minha altura de competição. Ou, quem sabe, encontrar um lugar mais alto para saltarr – conta Jaki, que começou sua carreira na ginástica olimpica e no circo, antes de ser convidada para os saltos de penhasco, em 2014, ao ge.
A Ponte da Joatinga foi a forma que Jaki Valente encontrou de variar os treinamentos. Natural de Porto Alegre (RS), ela desembarcou no Rio de Janeiro no fim de abril para treinar no Fluminense, clube cuja plataforma mais alta do parque aquático mede 10 metros. A atleta – que após este curto período nas Laranjeiras foi oficializada como integrante da equipe de saltos ornamentais do clube – treina para competir nas seis etapas do salto de penhasco. A primeira etapa da temporada, organizada por uma empresa de energético, será na França, dias 11 e 12 de junho.
– Essa é mais uma chance de representar o Brasil e, quem sabe, me transformar em uma atleta reconhecida, voltada somente ao esporte. Ser contratada pelo Fluminense isso pode me ajudar a permanecer nas competições. Tenho 35 anos, quero meu cantinho, ter uma família, são várias coisas que quero conquistar – relata a atleta, de 1,58m.
Direto Saint Raphael, na França, Jaki Valente se anima ao falar sobre a competição que se avizinha. Mesmo após mais de uma semana em quarentena obrigatória, está feliz por atuar pela primeira vez, desde que se sagrou vice-campeã da Copa do Mundo de “High Diving” (salto realizado da plataforma), chancelada pela Fina (Federação internacional de Desportes Aquáticos), em 2019, na China. É um astral bem diferente do que ela viveu em 2020.
O início da pandemia no Brasil, em março de 2020, acertou em cheio a brasileira. Acostumada a viajar o mundo para competições ao ar livre e a se apresentar em navios, Jaki se viu forçada a ficar em casa, bem distante da natureza que permeia seu trabalho. E, para piorar, foi submetida no mesmo mês a uma cirurgia no ombro direito. Ganhou dois pinos, ficou ainda mais limitada. A única alegria passou a ser a comida.
– Durante os primeiros meses da pandemia, eu não podia fazer nada por conta do ombro, então engordei muito, porque entrei em um modo depressão e tristeza. A minha alegria era comer. Eu comia, ficava sem sair, então não percebia. Via que estava inchada, mas achava que era da menstrução ou por não conseguir dormir. Uma vez fui botar uma calça jeans, que não passou da coxa. Eu falei: “Tem alguma coisa estranha aí”. Fui me pesar e vi que estava com 65kg, o que nunca tive na vida. O meu normal é de 56kg a 58kg. Eu tinha egonrdado muito, fiquei apavorada.
Sem patrocinadores mesmo na época do “antigo normal”, recém-operada, distante de qualquer previsão de volta das competições e com os navios ancorados, Jaki cogitou abandonar o esporte. Uma decisão difícil até para quem carrega a valentia no sobrenome. Aos 35 anos, queria uma vida sem sobresaltos, com menos adrenalina (o que é motivo de lamento para ela) e mais garantias.
– Foi o ano inteiro na “bad”, eu já estava aposentada. Eu era a vice-campeã da última Copa do Mundo, meio que saí por cima. Estou desde 2014 batalhando para conseguir um patrocinador, é sempre uma dor de cabeça. Falam que o salto de penhasco não é esporte olímpico, que não tenho muitos seguidores no Instagram. Sempre aparece um empecilho para me frustrar. Quer saber? Desisto, não quero mais competir. Vou para o cruzeiro fazer minhas apresentações. O que vou fazer competindo se não está andando para frente? – questionou.
As exibições nos cruzeiros seriam a forma de ganhar dinheiro, uma fonte que secou durante a pandemia. Entretanto, os planos mais audaciosos estavam em voltar a estudar. Jaki Valente cursou um período de Educação Física no passado, mas pensou em Letras e Medicina.
– Eu pensei em cursar Letras, por falar várias línguas e ter muita faculdade online. Pensei em fazer Medicina, porque tinha o sonho de ser cirurgiã plástica. Eu faria o vestibular, era algo que estava na minha cabeça. Quero me estabilizar na vida, ter o meu canto, não precisar morar mais com meus pais.
Ao passo que vislumbrava o futuro, Jaki Valente recuperava os movimentos do ombro e voltava à normalidade. Assim que teve condições físicas, retornou aos treinos – apenas para se livrar do excesso de peso – sem pretensão de competir. Isto até abril deste ano, quando recebeu um email da organização do evento anunciando a realização da temporada 2021. Decidiu, então, dar asas ao seu sonho.
– Eu já tinha recebido alguns emails falando que as competições voltariam, mas sempre cancelavam, e eu ficava frustrada. Dessa vez, esperei anunciarem mundialmente. Quando postaram, eu falei: “É real!”. Foi aí que liguei para o Fluminense e, agora, estou na França. Eu não me imaginava aqui, pronta para competir. Estou muito feliz e só tenho a agradecer. Eu não desisti de mim, de quem sou, dessa pessoa que adora adrenalina e adora fazer o que faz. Que bom que as competições voltaram antes do trabalho, senão eu estaria no navio e não aqui para competir.
Próxima de voltar a sentir a emoção arrebatadora de saltar de um penhasco, Jaki Valente minimiza até a busca pelo resultado. Um ano atrás era inimaginável vê-la novamente em ação. Hoje, uma vez mais, defenderá a bandeira brasileira em um esporte pouco conhecido no próprio país.
– Eu adoraria dizer que vou ser a campeã, mas em um ano atípico, trancada há dias em quarentena no hotel, o que quero realmente é subir no penhasco depois de mais de um ano e meio parada, fazer meus quatro saltos da melhor maneira possível e que venha o resultado. Estou batalhando para continuar fazendo o que gosto, sem ajuda financeira nenhuma para estar aonde estou, com dois pinos no ombro direito, após uma cirurgia nada barata que paguei do meu bolso. A minha realização é saltar da melhor maneira que eu puder. Entrei na França, onde os brasileiros estão proibidos, o que já foi uma vitória. O Brasil não sabe quem eu sou, mas a França sabe. Eu me sinto uma vitoriosa, é mais do que uma medalha de ouro.
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Fontes: Ge – Globo Esporte.
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