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Cirurgião plástico é condenado a prisão por esganar namorada; para juíza, motivação foi o simples fato da vítima ser mulher

O cirurgião plástico Laertes Thomaz Júnior saiu de Curitiba (PR) e fixou residência em São Paulo, onde teria passado a atender pacientes em uma sala comercial

laertes Thomas junior
laertes Thomas junior

Redação Publicado em 25/03/2022, às 00h00 - Atualizado em 27/03/2022, às 00h14


O médico Laertes Thomaz Júnior tentou esganar a namorada durante discussão. Laudo da perícia confirma a agressão. O comportamento violento contra mulheres foi considerado pela juíza para condenar o médico.

O cirurgião plástico Laertes Thomaz Júnior saiu de Curitiba (PR) e fixou residência em São Paulo, onde teria passado a atender pacientes em uma sala comercial na Vila Mariana. Apesar da profissão, Laertes ganhou fama por suas agressões. Acabou condenado pela Justiça, acusado de tentar asfixiar sua namorada.

O médico, considerado agressivo, durante uma discussão, agrediu a namorada, tentando asfixiar a jovem com suas próprias mãos. O laudo médico aponta lesões no corpo da mulher, especialmente no pescoço, que foi apertado pelo cirurgião.

Para a juíza que condenou o cirurgião, as agressões à namorada teriam como único motivo, segundo a sentença, o fato da vítima ser mulher. Ficou claro que o cirurgião age como misógino. No processo não há relato de outros possíveis motivos para despertar o lado violento do réu.

O curioso do caso, especialmente considerando a misoginia, é que o público alvo de atendimento profissional desejado pelo cirurgião plástico, é exatamente o público feminino.

Segundo a namorada relatou na Polícia e em juízo, o médico tem comportamento agressivo e agride com violência. No processo, a juíza destaca a agressividade de Laertes Thomaz Júnior e o condena a detenção. A pena foi convertida em prestação de serviço à comunidade.

Ainda segundo a sentença, o cirurgião agressivo fica impedido de frequentar bares, casas noturnas, boates e outros ambientes do gênero. Ele está proibido de deixar a cidade sem autorização do juiz da Vara das Execuções Penais.

TESTEMUNHA– Neste primeiro processo, o cirurgião usou uma testemunha, que seria sua secretária, que mentiu em seu depoimento na Polícia e até perante a juíza, que remeteu o caso à Polícia para que investigue a moça. Segundo a juíza, a testemunha tentou desqualificar os relatos da namorada do médico agressor. Em seu depoimento, a testemunha disse que Thomaz Júnior não teria agredido a vítima.

QUEM É THOMAZ JÚNIOR – Segundo registro em seu site, o médico Laertes Thomaz Júnior se apresenta como membro da ASPS (Sociedade Americana de Cirurgia Plástica), SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica), ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), entre outras entidades.

O cirurgião Laertes nasceu em Curitiba e vem de uma família de médicos, “que lhe deixaram além dos fundamentos mais nobres da medicina a herança da busca pelo conhecimento e hábito contínuo de estudar.”, diz o texto.

Ele é formado em medicina desde 2003, pela PUC do Paraná. Em 2007 teria concluído residência médica em Cirurgia Geral na Santa Casa de Misericórdia de Curitiba/ Hospital Universitário Cajurú.

Em sua descrição, Thomaz Júnior diz que em 2012 terminou sua residência em Cirurgia Plástica pelo MEC (ministério da educação), no Hospital Santa Marcelina- São Paulo. Diz ainda que “em 2012 realizou seu primeiro fellowship internacional em Nova York- EUA, no mais renomado hospital privado do mundo, Sloan-Kattering Cancer Center.”

MISOGINIA –A misoginia, de acordo com especialistas, é mais nefasta e perigosa do que o machismo. Enquanto os machistas acreditam que a mulher é inferior ao homem em aspectos físicos, culturais e intelectuais, por exemplo, os misóginos declaradamente odeiam a mulher. Não só uma específica, fonte de origem de tanta raiva, como todas as demais. A palavra misoginia vem do idioma grego e significa, literalmente, repulsa e aversão à figura feminina. E, embora seja tão limitante e repressora quanto o machismo, a misoginia sobe o tom quando o assunto é violência. Para descarregar tanto rancor e ressentimento, existem misóginos que investem em válvulas de escape criminosas.

É válido ressaltar que as redes sociais e seu suposto anonimato ajudou a proliferar a misoginia nos dias de hoje. O fato de se esconderem atrás de uma tela e um pseudônimo favorece o comportamento de maus tratos e ofensas às mulheres, que para os misóginos proporciona um grande prazer. “Ferir o sentimento das mulheres causa um tamanho bem-estar a ponto de o cérebro liberar dopamina, o neurotransmissor do prazer, levando à repetição desse comportamento”, explica Cristiane. Como a maioria das condutas que assumimos na vida, a misoginia pode começar a dar as caras logo na primeira infância, faixa etária que vai do nascimento até os seis primeiros anos de idade. “Homens misóginos aprenderam os comportamentos misóginos com a família de origem, a partir de uma percepção de que terão algum ganho sendo o que são e de que estão evitando alguma situação de medo ou sentindo que se defendem de algo, mesmo que não saibam de que se trata. Assim, passam a ter reações emocionais e irracionais. Isso não deve ser usado para desculpar esse comportamento, ao contrário, deve apontar a responsabilidade do adulto sobre o que aprendeu na infância”, comenta o terapeuta sexual Oswaldo Martins Rodrigues Jr., diretor do Instituto Paulista de Sexualidade (Inpasex).

Promotora de Justiça há 13 anos, Maria Gabriela Prado Manssur atua há 8 anos no combate à violência contra a mulher. Autora de projetos pelo empoderamento feminino e uma das pioneiras no combate à violência contra a mulher no Ministério Público de São Paulo.

Segundo a promotora, o atendimento à mulher tem evoluído ao longo dos anos, mas a violência não tem diminuído, “Nós não adotamos mais aquele ditado ‘em briga de marido e mulher, não se mete a colher’. Em briga de marido e mulher, sente-se o peso da lei e abre-se as portas da Justiça”, afirma taxativamente a promotora.

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: SAIBA COMO DENUNCIAR OU TER ASSISTÊNCIA

Ligue 180 presta uma escuta e acolhida às mulheres em situação de violência. O serviço registra e encaminha denúncias de violência contra a mulher aos órgãos competentes, bem como reclamações, sugestões ou elogios sobre o funcionamento dos serviços de atendimento. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. São atendidas todas as pessoas que ligam relatando eventos de violência contra a mulher. O Ligue 180 atende todo o território nacional e também pode ser acessado em outros países.

DELEGACIAS ESPECIALIZADAS DE ATENDIMENTO À MULHER (DEAMS)

São unidades especializadas da Polícia Civil para atendimento às mulheres em situação de violência. As atividades das DEAMs têm caráter preventivo e repressivo, devendo realizar ações de prevenção, apuração, investigação e enquadramento legal, as quais dever ser pautadas no respeito pelos direitos humanos e pelos princípios do Estado Democrático de Direito.

MEDO– Para a coach Fabiana Viana, militante no combate à violência doméstica, o medo é um fator que inibe a mulher agredida de denunciar o agressor. Ela atua em vários segmentos na defesa da mulher vítima de violência doméstica.

Para Fabiana, o maior problema da violência doméstica é quando há filhos envolvidos e a condição de vida é humilde.

A coach diz que a condição social da vítima tem grande influência. “Muitas em condições precárias por medo de passar necessidade ou de não ter condições de cuidar dos filhos aceitam caladas, com medo de não dar conta”.

Fabiana explica que o psicológico fica devastado. “Se ela já apanha, dificilmente vai buscar ajuda. A maioria não tem fé de sair viva muito das vezes”, disse Fabiana Viana.

Diário tentou contato com o médico, mas obteve sucesso. O Ministério Público vai investigar a conduta do cirurgião plástico Laertes Thomaz Júnior.laer

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