COLUNA

O bolsonarismo pós-Bolsonaro

Pablo Marçal e Jair Bolsonaro. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais

Kleber Carrilho Publicado em 14/09/2024, às 06h00

As ideias da direita conservadora, principalmente liderada por reacionários das famílias que há séculos comandam o Brasil, tiveram vários invólucros na nossa História. Elas existiam mesmo antes de termos como "direita" ou "pensamento conservador" serem usados e vão continuar sendo parte da vida política nacional por muito tempo.

Nos últimos anos, o pacote mais visível dessas ideias ganhou o nome de bolsonarismo, além de um caráter populista que poucas vezes se viu. Com o intuito de se manter no comando, a elite passou a querer ser reconhecida como povo, e conseguiu. Ao mesmo tempo, passou a acusar a esquerda de ser a elite intelectual, cultural, política, e tudo mais que fosse possível, exceto em um campo: o econômico.

Ou seja, com Bolsonaro, essa elite tirou o vestido longo e o black tie e se vestiu de entregador do iFood, de vendedora da Natura, de pastor da Universal, chegando a todos os cantos, misturando-se com quem precisa combater todos os dias, tirando direitos, explorando, viciando em jogo do Tigrinho.

E, dadas as circunstâncias culturais e educacionais (que não temos tempo para discutir aqui), a estratégia deu certo. Tão certo que, em tempo recorde, deixou de depender do personagem que emprestou o nome. Agora, desesperado, sabendo que foi apenas usado, Bolsonaro toma consciência de que será sempre querido por essa elite econômica, mas nunca vai passar da área de serviço. Nem mesmo seus filhos, para quem ele achava que passaria o bastão, serão convidados para o papel que ele teve.

Com Pablo Marçal, uma nova fase toma forma, em que os sonhos de empreendedorismo fácil e a promessa de uma "democracia milionária" ganham espaço, ao mesmo tempo em que a política se confunde com as bets e a influência digital. Há o risco de que, além de continuarmos sem pensar em projetos de longo prazo para o país, grande parte da nossa atividade econômica seja direcionada para as casas de apostas internacionais sediadas em paraísos fiscais.

Voltando ao bolsonarismo (que logo deve ganhar outro nome, talvez sem uma referência direta a um personagem), o movimento pode não vencer a eleição presidencial em 2026, como o próprio Marçal já adiantou em uma entrevista, mas continuará comandando o paraíso das emendas parlamentares e das doações eleitorais com origens suspeiras e, consequentemente, o Congresso e a política local em grande parte dos municípios.

Assim, em 2030, o movimento poderá chegar de novo à Presidência, sem golpe, sem cabo e sem soldado. E, possivelmente, por muito mais tempo do que os quatro anos do capitão.

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