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Alexandre de Morais pode e deve ser criticado, mas só o Senado pode tirá-lo de lá

Críticas a Moraes devem seguir via Senado; Elon Musk não compreende o contexto brasileiro

Alexandre de Morais pode e deve ser criticado, mas só o Senado pode tirá-lo de lá - Imagem: Reprodução/Instagram

Kleber Carrilho Publicado em 07/09/2024, às 11h08

Em qualquer democracia sólida, o exercício da crítica a figuras de poder é um instrumento fundamental para garantir o equilíbrio institucional. No caso de Alexandre de Moraes, não é diferente. As decisões e posturas dele têm enormes implicações para o futuro do Brasil, o que justifica uma análise criteriosa do trabalho que ele desenvolve. No entanto, é preciso que essa crítica venha de vozes comprometidas com os princípios democráticos e a realidade brasileira, e não de figuras externas como Elon Musk.

Musk, com interesses que muitas vezes envolvem temas de liberdade de expressão em termos absolutos e uma visão mercadológica de mundo, pode entrar em choque com os parâmetros constitucionais que regem nossa sociedade. A democracia brasileira, com suas particularidades, exige uma visão mais profunda, que não pode ser oferecida por alguém que busca apenas aumentar o poder de suas empresas.

Se a insatisfação popular com Alexandre de Moraes é significativa, é importante lembrar que existe um caminho constitucional para a remoção de um ministro do Supremo Tribunal Federal: o Senado. São os senadores que podem avaliar e, eventualmente, votar o afastamento de ministros do STF. Assim, se você deseja realmente pressionar pela saída de Moraes, o caminho é a pressão legítima sobre os senadores do seu Estado.

Em São Paulo, por exemplo, nenhum dos senadores eleitos está diretamente ligado ao governo Lula, o que contraria a narrativa de que o problema é esse. Pelo contrário, dois dos três senadores paulistas têm vínculos claros com o projeto político de Jair Bolsonaro. Isso demonstra que eles podem ser parte da articulação política para quem deseja influenciar essa questão.

Além disso, é importante lembrar que a crítica não deve ter como objetivo desestabilizar o funcionamento da Justiça, mas sim contribuir para seu aperfeiçoamento. Criticar é parte do jogo democrático, mas essas críticas precisam ser ancoradas em princípios, não em interesses externos ou em tentativas de minar a nossa democracia.

Isso quer dizer que o futuro da Justiça e da democracia no Brasil depende da nossa capacidade de promover um debate interno saudável e construtivo, que busque o fortalecimento das instituições, e não sua fragilização. Elon Musk, com sua influência e interesses globais, não pode e não deve ser visto como um árbitro das questões do Judiciário brasileiro. Essa é uma tarefa que cabe a nós, brasileiros.

Kleber Carrilho é analista político, professor e pesquisador na Universidade de Helsinque, na Finlândia

Instagram | X: @KleberCarrilho

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