Cidades pelo país começaram a sentir os reflexos da saída dos médicos cubanos que atuavam no Programa Mais Médicos. Pacientes encontraram postos sem médicos
Redação Publicado em 21/11/2018, às 00h00 - Atualizado às 14h26
Cidades pelo país começaram a sentir os reflexos da saída dos médicos cubanos que atuavam no Programa Mais Médicos. Pacientes encontraram postos sem médicos ou enfrentaram filas e atrasos no atendimento nesta quarta-feira (21).
Em cidades como São Paulo, Itapecerica da Serra (SP), Ponta Grossa (PR), Novo Hamburgo (RS), São Leopoldo (RS), Gravataí (RS), Cruzeiro do Sul (AC), Campinas (SP), São Miguel Arcanjo (SP) e Uberaba (MG), unidades de saúde estão sem médico.
Profissionais cubanos que estavam em cidades do Paraná e do Rio Grande do Sul disseram que receberam um comunicado do governo cubano cancelando imediatamente os atendimentos dos médicos intercambistas no Brasil.
A saída do Mais Médicos foi anunciada no dia 14 de novembro pelo governo cubano, sem informar até quando os médicos atuariam no programa. A previsão da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) é de todos voltem para Cuba até 12 de dezembro.
Placa em posto de São Leopoldo avisa que não há médicos — Foto: Reprodução/RBS TV
Em Campinas, além de não encontrar médicos, pacientes não estão conseguindo agendar consultas.
O mesmo acontece em São Miguel Arcanjo, cidade paulista com 33 mil habitantes. Maria Nilsen, moradora na área rural da cidade, foi até o posto para marcar uma consulta por causa de uma dor no braço. Após 15 minutos dentro da unidade, saiu desanimada. “Não tem médicos, e até arrumarem tudo não tem nem prazo”, disse.
Dos 10 médicos que atuavam no programa Saúde da Família em São Miguel Arcanjo, sete eram cubanos. Dois brasileiros já tinham deixado o programa, e agora só há um profissional trabalhando. “Temos um prejuízo de consultas diárias que não vamos conseguir repor tão cedo”, disse a secretária de Saúde Katia Raskivicius.
Na UBS do Jardim Analândia, em São Paulo, um aviso colado à parede informava sobre a falta de clínicos gerais. A dona de casa Rayane Pereira Rodrigues não conseguiu marcar consulta para a filha. “Não tem previsão para marcar, nem médico para atender bebês, nem paciente nenhum”, disse.
Pacientes fizeram fila no Centro de Saúde do Jardim Rossin, em Campinas, mesmo com aviso de que não havia agendamento com clínico por conta da saída dos médicos cubanos. — Foto: Conselho de Saúde de Campinas/Divulgação
Os pacientes de Uberaba foram remanejados para outras unidades, mas só devem conseguir atendimento após o dia 7 de dezembro.
Também estão sendo reagendadas as consultas de pacientes de Mirandópolis (SP). Os cinco médicos cubanos da cidade, que representavam 62% do total, deixaram de trabalhar na terça (20). Assim, as duas unidades de saúde da cidade que faziam em médica 60 atendimentos dia, agora farão apenas 10.
Em locais como Araçatuba (SP), onde 40% dos médicos eram cubanos, pacientes enfrentaram filas e atrasos para conseguir atendimento em unidades básicas de saúde. A prefeitura ofereceu hora extra para os profissionais darem conta da demanda.
Em Cachoeirinha (RS), dois dos seis cubanos deixaram de trabalhar. A prefeitura busca dobrar os horários de alguns médicos para dar conta da procura por atendimento.
Em Canoas (RS), os oito médicos cubanos prestavam atendimento a cerca de 30 mil pessoas por mês. Com a saída deles do programa, parte das consultas precisou ser remarcada, e outra parte foi absorvida por turno estendido nesta terça. Apenas um dos médicos manteve a agenda. A Prefeitura de Canoas tem editais abertos para a contratação de médicos brasileiros. No entanto, a procura tem sido baixa.
Em Fernandópolis (SP), seis dos 26 médicos da rede municipal de saúde são cubanos. O trabalho deles na cidade termina nesta quarta. A partir desta quinta-feira (22), cinco unidades não terão mais atendimento médico, apenas odontológico e farmacêutico. A Secretaria de Saúde estuda a possibilidade de remanejar profissionais de outras unidades.
Segundo a Confederação Nacional dos Municípios, a saída dos médicos cubanos afetará mais de 28 milhões de pessoas que vivem em municípios onde só há medicos do país.
“Entre os 1.575 Municípios que possuem somente médico cubano do programa, 80% possuem menos de 20 mil habitantes. Dessa forma, a saída desses médicos sem a garantia de outros profissionais pode gerar a desassistência básica de saúde a mais de 28 milhões de pessoas”, afirmou a entidade.
Ainda na nota divulgada nesta quinta, a Confederação Nacional dos Municípios afirmou que a situação é de “extrema preocupação” e exige a superação “em curto prazo”.
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