Diário de São Paulo
Siga-nos

‘Não vou tratar a população que não votou em mim como inimiga’, diz Doria, governador eleito de SP

João Doria - Final de semana prolongado vou ficar com a minha família e no final do ano tiro uma semana de férias ao lado da Bia, minha esposa, e meus filhos.

Diário de São Paulo
Diário de São Paulo

Redação Publicado em 29/10/2018, às 00h00 - Atualizado às 09h16


Em entrevista ao Bom Dia SP, Doria diz que vai reforçar segurança pública. À GloboNews, disse sobre sua relação com o PSDB: ‘Não saio como traidor, saio como vencedor’

O governador eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou na manhã desta segunda-feira que pretende fazer um “governo de conciliação”. Após disputa acirrada, o tucano foi eleito com 51,75% dos votos válidos neste domingo, contra 48,25% de seu adversário Márcio França (PSB).
Em entrevista ao Bom Dia SP, Doria falou sobre as propostas para o futuro governo e a divisão que marcou a eleição deste ano tanto no âmbito nacional quanto estadual. Doria venceu em 60% das cidades do interior mas perdeu para França na capital paulista, onde o tucano foi prefeito até abril, e no litoral sul.
“Não trato adversários como inimigos e não vou tratar a população que não votou em mim como inimiga”, disse. “Quero ser o governador de São Paulo para todos os paulistas, todos os brasileiros que vivem em São Paulo.”
Doria também falou com a GloboNews e abordou sua relação com o PSDB: ‘Não saio como traidor, saio como vencedor’.
Confira a entrevista completa ao Bom Dia SP:

Bom Dia SP – O senhor tira algum descanso agora ou vai direto para o governo de transição? Qual é a previsão do senhor para os cem primeiros dias de governo a partir de janeiro?

João Doria – Final de semana prolongado vou ficar com a minha família e no final do ano tiro uma semana de férias ao lado da Bia, minha esposa, e meus filhos. Eu mereço e eles, mais do que eu, merecem também. Mas vamos já para o programa de transição que será coordenado pelo nosso vice-governador do estado, que já recebeu ontem a nossa delegação e o Rodrigo Garcia vai conduzir isso. De uma maneira muito tranquila, serena, equilibrada. A eleição acabou, os momentos difíceis, duros do ponto de vista eleitoral estão encerrados. Nós temos sempre que olhar para frente e ter uma visão de altivez, de grandeza. Ontem fiquei feliz com as ligações que recebi do Paulo Skaf e do Márcio França me cumprimentando. Também o presidente Michel Temer fez um telefonema extremamente gentil. E é assim que eu acredito na política, a política feita no embate como um jogo de futebol. Terminou o jogo vamos nos cumprimentar e tratar de olhar para frente. Sobretudo olhar para a população. Governar para todos, não apenas para os que me elegeram, mas também para os que não me elegeram. Quero ser o governador de São Paulo para todos os paulistas, todos os brasileiros que vivem em São Paulo.

BDSP – Como fazer isso diante desta disputa tão acirrada? Vamos levar em consideração que tem quase metade da população do estado que não gostaria de ter João Doria no governo do estado. Como fazer, na prática, para conquistar essas pessoas e governar para todo mundo?

Doria – Com gestos e com conciliação. A campanha nacional também foi assim e nem por isso o Brasil estará dividido. Eu não desejo isso. Também quando venci a Prefeitura de São Paulo, vencendo Fernando Haddad e os demais candidatos, fiz um governo de conciliação e fiz uma transição também muito bem conciliada, muito bem feita com Fernando Haddad. Meu adversário ideológico, meu adversário político, mas não meu inimigo. Não trato adversários como inimigos e não vou tratar a população que não votou em mim como inimiga. Eles são brasileiros tanto quanto os que votaram em mim aqui em São Paulo. Conciliar, dialogar, somar, fazer boa gestão, positiva, com altivez. Sempre Deus no coração e um espírito elevado. É assim que vamos fazer.
BDSP – Qual seria a primeira decisão (do governo)? O que tem de mais urgente de decisão para ser tomada nesse estado?
Doria – A noite foi bastante curta, suficiente para orar e dormir apenas duas horas e 40 minutos. O nosso primeiro ato logo após a nossa posse será visitar uma igreja católica e fazer uma oração de agradecimento pelos votos, pela minha família, pela minha saúde, pela saúde dos brasileiros que vivem em São Paulo e pelo Brasil. A partir de hoje começamos a coordenar essa transição com a nossa equipe. Construímos uma boa equipe para todas as áreas, alguns inclusive que já foram do governo do estado de São Paulo, outros do setor privado. A partir de agora com a coordenação do Rodrigo Garcia é que vamos tratar dessa transição. Como prioridade vamos ter geração de empregos, segurança pública, saúde e educação. As demais áreas também são importantes, mas essas serão as principais prioridades.

BDSP – Constantes e diárias são as falhas no transporte público. Há algo de efetivo que possa ser feito logo no início do mandato paraque as pessoas deixem de sofrer pelo menos na ida ao trabalho?

Doria – Eu acompanho quase que diariamente o Bom Dia e o problema do transporte é reproduzido quase todo dia. Esse é um problema complexo, mas que tem solução. Nós temos que ampliar as linhas do metrô, melhorar a qualidade das linhas da CPTM, fazer a integração do metrô, colocar o padrão metrô nas linhas da CPTM e expandir com as parcerias público-privadas (PPPs). Retomar as obras que ficaram paradas, acelerar as obras que estão em curso e fazer boa gestão. Uma gestão transparente, eficiente e muito focada em parcerias público-privadas. Um projeto que foi iniciado pelo governador Geraldo Alckmin e que nós vamos seguir dentro desta mesma linha. De inovação é colocar a CPTM dentro do padrão Metrô. E quando falo isso é melhorar também a qualidade das estações para que elas estejam muito mais próximas do padrão Metrô. Eu visitei quase todas as estações e muitas além de desconfortáveis têm dificuldade na acessibilidade das pessoas e apresentam riscos. Nós vamos modernizar as estações, todas elas gradualmente serão colocadas sob concessão privada. Em cada estação da CPTM teremos também uma creche para 150 crianças, área para comércio varejista e na parte superior habitação popular. Tudo isso construído em forma de PPP, exatamente como o governo do estado e a Prefeitura estão fazendo na área da Nova Luz. Com habitação popular, cuja obra, construção e a operação dos edifícios será feito com capital privado.

BDSP – Com relação à segurança pública, que teve um peso muito importante nesta eleição, tanto no âmbito nacional quanto estadual. O PSDB já há muito tempo no governo do estado, com números apresentados baixos se comparados a outros estados, com relação a criminalidade, mas a gente sabe que o sentimento do paulista não é este. A população com medo. De que forma prática a gente pode resolver isso? Porque não adianta apresentar número baixo comparado a outros estados. Nós somos exigentes aqui em São Paulo.

Doria – E temos que ser. Aliás, você e a população estão certos. Embora os índices sejam os melhores do país, não basta ter índices bons. É preciso ter sensação boa também, isso não acontece. Nós temos que melhorar a qualidade da segurança. Vamos fortalecer a Polícia Militar, a Polícia Civil, gradualmente melhorar a condição salarial dos policiais. Integrar duas polícias, civil e militar. Integrar também as guardas municipais. É uma força-tarefa importante que vive isoladamente nos municípios. Hoje nós temos 5 Baeps, os Batalhões Especiais da Polícia Militar em São Paulo. Um na capital, quatro no interior. Teremos 22, gradualmente vamos implantar esses batalhões. Cada um com 300 policiais militares preparados, treinados, armados e colocados em condições de proteção e combate. Vão atuar 24 horas por dia nas ruas. Também as Bases Comunitárias. Temos hoje 400 bases, teremos 1200 ao longo dos próximos anos. É uma ampliação considerável. E vamos obviamente aumentar o efetivo da Polícia Militar abrindo novos concursos. Temos um contingenciamento de 13 mil policias militares e um contingenciamento de 8 mil policiais civis. Também vamos prestigiar a polícia civil contratando e recolocando nas delegacias os delegados, os assistentes, os escrivães. Colocar mais 40 delegacias da mulher que possam operar 24 horas por dia. E usar a inteligência eletrônica para defender e proteger a população antes que o crime aconteça. E no restante é Polícia Militar nas ruas garantindo segurança, que é obrigação do Estado oferecer à população.

BDSP – Com relação ao trabalho. A gente fala em 13 milhões de desempregados no país e essa grande massa está em São Paulo. De que forma o estado consegue contribuir sem depender tanto do governo federal, sem depender tanto de uma economia nacional andando?

Doria – O ideal é que a economia nacional ande e ande bem. Esse é nosso maior desejo. Eu espero que o Paulo Guedes, futuro ministro da Fazenda, conduza positivamente a economia brasileira. E ao mesmo tempo o pacto federativo. Paulo Guedes ao falar comigo ao longo destas últimas semanas afirmou que fará o pacto federativo, ou seja, a destinação de recursos para as áreas de saúde, habitação, trabalho, e ao mesmo tempo infraestrutura caberá aos governadores estaduais. O que é correto: descentralizar para agilizar o procedimento e isso vai gerar novos empregos. No âmbito do estado é definir claramente novos investidores, captar novos investidores internacionais para o mundo do Agro. São Paulo tem liderança no Agro, quase 25% de toda produção agrícola do país é feita aqui. Há um enorme interesse de investidores chineses e árabes. No setor de indústria, revitalizar a indústria paulista que segue forte e bem capitalizada e bem capilarizada em torno de todo o estado com novos investidores também nacionais e internacionais. O setor de comércio, o setor de serviços e o turismo também. E por último, programas de desoneração fiscal. Não vamos criar nenhum novo imposto, nenhuma nova taxa. O Brasil já tem impostos demais e as pessoas e as empresas pagam impostos em excesso. Vamos desonerar gradualmente e responsavelmente setores que podem responder rapidamente pela geração de empregos, produtividade e competitividade nos seus respectivos mercados.

BDSP – Falando em impostos eu lembro das passagens de metrô e CPTM. Com aumento ou sem aumento em janeiro?

Doria – Passagem de metrô e passagem de trem não é imposto. Vamos avaliar isso oportunamente, mas ressalto que isso não é imposto. Vamos olhar isso oportunamente, mas sempre de forma muito responsável. São Paulo sempre teve o orçamento no azul. Essa foi uma conquista do PSDB e continuará a ter. Vamos ter políticas responsáveis na área fazendária.
BDSP – Qual é o compromisso com o telespectador do Bom Dia SP?
Doria – Faremos, como fizemos na Prefeitura de São Paulo. O trabalho do Bom Dia é útil, ele é uma referência para os gestores municipais e para os gestores estaduais. Porque é o povo falando, a população se manifestando. E é importante estar sintonizado com humildade, com discernimento e também com respostas rápidas à população. Não basta fazer, temos que fazer bem feito e rapidamente. Portanto estaremos sintonizados sim. Nosso modelo de gestão será uma gestão descentralizada e municipalista. Vamos delegar muito aos prefeitos e dar condições a eles para ser bons gestores. Tanto no plano de gestão quanto na destinação de recursos. Por isso, a descentralização será fundamental. Os 645 municípios de São Paulo terão a partir de janeiro um governador municipalista, colocando recursos para saúde, educação, transporte e segurança em mãos de quem precisa para fazer gestão rápida, gestão eficiente e sobretudo gestão transparente.

‘Não saio como traidor, saio como vencedor’

Em seguida, Doria deu entrevista ao programa Em Ponto, da GloboNews, onde falou sobre sua relação com o PSDB, onde chegou a ser chamado de ‘traidor’.
“Não saio como traidor, saio como vencedor. Venci as eleições para o governo de São Paulo, maior colégio eleitoral do país. O desempenho do PSDB no país foi ruim, mas aqui vencendo”, disse Doria.
“Ao contrário da velha política que se preocupa só em pensar em si, eu prefiro pensar na população. Vamos governar para quem precisa e ressintonizar o PSDB, que perdeu essa sintonia com o povo. O PSDB é um grande partido, formado por pessoas significativas. Precisamos sair desse patamar e ir para o chão, conversar com a população, saber quais são as suas demandas. É a segunda eleição que eu ganho em dois anos. Eu sintonizei com aquilo que a população quer saber. Espero que nacionalmente o PSDB respeite isso.”
Doria disse ainda que ficou de se encontrar com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) ainda esta semana.

Compartilhe  

últimas notícias