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Em SP, região que deu mais votos a Bolsonaro pede abertura econômica; zona eleitoral em que Haddad venceu quer segurança

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) venceu na cidade de São Paulo com 60,38% do eleitorado e teve sua maior votação na Zona Eleitoral de Indianópolis,

Em SP, região que deu mais votos a Bolsonaro pede abertura econômica; zona eleitoral em que Haddad venceu quer segurança
Em SP, região que deu mais votos a Bolsonaro pede abertura econômica; zona eleitoral em que Haddad venceu quer segurança

Redação Publicado em 30/10/2018, às 00h00 - Atualizado às 09h29


G1 conversou com moradores de Indianópolis e de Piraporinha, ambas na Zona Sul, para saber o que esperam do novo presidente. Eleitores de Haddad temem a ‘repressão policial’.

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) venceu na cidade de São Paulo com 60,38% do eleitorado e teve sua maior votação na Zona Eleitoral de Indianópolis, que engloba Moema e parte da Saúde, com 76,15% dos votos. Seu adversário derrotado, Fernando Haddad (PT), recebeu mais votos dos eleitores de Piraporinha, na periferia da Zona Sul da cidade, chegando a 57,37% dos votos.

Nesta segunda-feira (29), dia seguinte da definição do segundo turno, o G1 percorreu duas regiões para ouvir o que os moradores esperam do novo presidente – tendo votado nele ou não.

Em uma barraca de pastel em uma praça de Piraporinha, os dois jovens atendentes, Gabriel Augusto, de 23 anos, e Mateus Moura, de 20, estão preocupados com um possível aumento da repressão policial. “Tem muito esculacho nos enquadros”, disse Mateus, que é negro e acredita sofrer mais abordagens por isso.

“Já sofro repressão só por ter dread. Aqui todo mundo vê que eu sou trabalhador, mas quando eu tiro minha toquinha e meu avental, acham que eu sou vagabundo”, disse Gabriel.

Neste domingo, os dois votaram em Haddad. “Nenhum dos dois me representa mas votei pela democracia”, disse Gabriel. “Não queria que fosse o Haddad também, mas entre ele e o Bolsonaro… um cara que é a favor da tortura não dá para ser presidente”, analisou seu colega Mateus.

Como as zonas eleitorais de São Paulo votaram para presidente — Foto: Arte/G1

Como as zonas eleitorais de São Paulo votaram para presidente — Foto: Arte/G1

As amigas Maíres da Silva e Maria Santos, de 77 e 83 anos, disseram não esperar 'nada' do novo presidente. — Foto: Fábio Tito/G1

As amigas Maíres da Silva e Maria Santos, de 77 e 83 anos, disseram não esperar ‘nada’ do novo presidente. — Foto: Fábio Tito/G1

Gabriel disse que está “receoso” com o novo presidente. “O economista dele falou da Reforma da Previdência, quero ver quem vai ser atingido”. O jovem gostaria que Bolsonaro diminuísse os privilégios dos políticos. “Sei que é difícil acontecer, mas queria que ele mudasse essas regalias, como auxílio-moradia”.

Os dois jovens, além da repressão policial, destacam que o bairro tem problema com enchentes, quando chove, e poucas atividades culturais. Na Casa de Cultura do M’Boi Mirim, que fica atrás da barraca de pastel, não havia nenhuma atividade programada para esta segunda.

Na mesma praça, a diarista Célia Lima, de 56 anos, também contribuiu para a votação favorável de Haddad no bairro. “Porque o Bolsonaro tinha muita polêmica. Não me ligo muito em política, só tem decepção. ” Já sua maior preocupação é com o aumento do emprego, porque há oito meses ela busca uma vaga fixa. “Vamos ver se melhora o emprego”, disse, esperançosa.

O estudante Daivid Lucas disse que o principal problema de Piraporinha é a segurança pública — Foto: Fábio Tito/G1

O estudante Daivid Lucas disse que o principal problema de Piraporinha é a segurança pública — Foto: Fábio Tito/G1

O estudante do 3º ano do Ensino Médio, Daivid Lucas, de 17 anos, votou pela primeira vez neste domingo, e apertou o número 13. Com o presidente eleito, disse que “não está muito otimista” porque não vê “nenhuma boa proposta”. Para o bairro, disse que a principal demanda é a segurança, e destacou os assaltos na região.

Também preocupado com a segurança pública, o cabeleireiro Juliano da Silva, de 34 anos, que tem um pequeno salão no bairro, apostou em Bolsonaro. Ele conheceu o político recentemente, através da propaganda eleitoral na televisão. “O que mais me chamou atenção foi a questão da bandidagem, que ele não vai dar mole”. O cabeleireiro também disse ser contra as “saidinhas” de presos, proposta defendida pelo presidente eleito.

O cabeleireiro Juliano da Silva, de 34 anos, votou em Bolsonaro porque 'ele não vai dar mole' para os ladrões — Foto: Fábio Tito/G1

O cabeleireiro Juliano da Silva, de 34 anos, votou em Bolsonaro porque ‘ele não vai dar mole’ para os ladrões — Foto: Fábio Tito/G1

Piraporinha faz parte do distrito de Jardim São Luís. Um levantamento do Mapa da Desigualdade, da Rede Nossa São Paulo, mostra que o distrito é o terceiro com mais homicídios na capital paulista: 22,2 por 100 mil habitantes.

Já Moema, neste Mapa da Desigualdade, não registrou nenhum homicídio. O bairro da Saúde, em que parte está na Zona Eleitoral de Indianópolis, também tem o índice de homicídios bem inferior ao Jardim São Luís: 4,4 por 100 mil habitantes.

Moradora do bairro, a aposentada Edna Beirão, de 57 anos, disse que essa foi “principalmente uma eleição anti-PT”. Com a eleição de Bolsonaro, ela espera que tenha “menos corrupção, mas que não tenha ditadura”.

Edna Beirão espera que tenha 'menos corrupção, mas que não tenha ditadura' com o governo Bolsonaro. — Foto: Fábio Tito/G1

Edna Beirão espera que tenha ‘menos corrupção, mas que não tenha ditadura’ com o governo Bolsonaro. — Foto: Fábio Tito/G1

Edna também espera que o Brasil melhore no cenário internacional. “Espero melhorar a nossa imagem, não temos confiança internacional”. Ela também aguarda as reformas tributárias e da previdência, “que são necessárias”, afirmou. “Tenho muita esperança que agora dê certo”.

Apesar da esperança, a aposentada contou que neste domingo votou nulo, mesmo com a insistência do filho, “ele me mandava muitos artigos”, ela disse que não conseguiria votar no PT, “o partido que roubou o país por 13 anos”, disse Edna, mas também não quis apertar 17 e confirma para Bolsonaro.

Em um café na região, empresárias que trabalham com comércio exterior, Shirlei Machado, de 48 anos, e Denise Diuana, de 52, ajudaram a dar os 76% de votos para Bolsonaro.

As empresárias Denise Diuana e Shirlei Machado esperam que Bolsonaro atraia investimentos para o Brasil — Foto: Fábio Tito/G1

As empresárias Denise Diuana e Shirlei Machado esperam que Bolsonaro atraia investimentos para o Brasil — Foto: Fábio Tito/G1

“Vai ser nosso salvador. Acho que o que mais espero é que ele olhe para o mercado corporativo grande. Os grandes puxam os pequenos, e o que a gente mais viu nos últimos anos foram empresas fechando no país”, disse Shirlei. A empresária espera a abertura de novos mercados, o fortalecimento de indústrias, como a automobilística e a de tecnologia, e uma reforma trabalhista “séria”, para diminuir a carga tributária.

A amiga concorda. “Esse voto foi muito anti-PT. Só dele não seguir as práticas do PT, os outros países vão querer investir aqui”, afirma Denise.

Para elas, Bolsonaro recebeu muitos votos porque “verbaliza o que todo mundo pensa”. “Todo mundo é um pouco machista, homofóbico”, disse Shirlei. “Mas nem acho [dizer isso] bonito”, ressalva. A empresária também concorda com a visão do presidente eleito sobre a posição das mulheres na sociedade.

“A mulher só não se equaliza hoje se não quer, está na Constituição”, disse Shirlei. O artigo 7º da Constituição Federal proíbe a “diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil”. No entanto, pesquisas mostram que mulheres ganham menos que os homens em todos os cargos e áreas.

Já o casal Vera Lucia e Claudio Linkewistsch, de 63 e 68 anos, respectivamente, destoam do bairro, e votaram em Haddad neste domingo. A agente de viagens disse que já que não esperava muito do candidato, mas sim “uma equipe de governo que consiga fazer algo melhor, observando todas as classes sociais, sem discriminação”.

O casal Vera Lucia e Claudio Linkewistsch destoa do bairro, e votou em Haddad neste domingo — Foto: Fábio Tito/G1

O casal Vera Lucia e Claudio Linkewistsch destoa do bairro, e votou em Haddad neste domingo — Foto: Fábio Tito/G1

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