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David Junior reflete sobre questões de ‘O Tempo Não Para’: ‘A gente progrediu para regredir em vários fatores’

Na trama das sete, ele passou 132 anos em um sono profundo após ficar congelado em um iceberg. Mas, na vida real, David Junior - o intérprete de Menelau de O

David Junior reflete sobre questões de ‘O Tempo Não Para’: ‘A gente progrediu para regredir em vários fatores’
David Junior reflete sobre questões de ‘O Tempo Não Para’: ‘A gente progrediu para regredir em vários fatores’

Redação Publicado em 14/08/2018, às 00h00 - Atualizado às 15h10


O ator, que é Menelau na trama das 7, acredita que, apesar das mudanças do século 19 para o 21, muitas coisas continuam as mesmas na sociedade

Na trama das sete, ele passou 132 anos em um sono profundo após ficar congelado em um iceberg. Mas, na vida real, David Junior – o intérprete de Menelau de O Tempo Não Para – é um homem acordadíssimo e atento à sua missão como artista:

“Acredito muito na mensagem que a gente pode contar. Eu venho da Baixada Fluminense do Rio de Janeiro, Nova Iguaçu. A expectativa de vida do jovem na minha juventude era muito baixa. […] E a arte tira você desse lugar, ela te mostra que o mundo é muito maior, que você pode alcançar muito mais do que você imagina e falar de coisas muito mais pertinentes.”

E assim, falando de assuntos importantes, que ele cada vez mais vem se firmando na TV. Na sua quarta novela em quatro anos, Davi se sente um homem bem-aventurado.

“Eu me considero uma pessoa muito abençoada por ver, através dos meus amigos que trabalham no mesmo ramo que eu, a dificuldade que é se manter, se sustentar da arte. Não só isso: a dificuldade que é permanecer”, reflete.

Com o papel atual na novela de Mario Teixeira, David tem a chance de falar de um assunto que rege também a sua vida: a liberdade. Afinal, Menelau era um escravo em 1886 – quando houve o naufrágio do navio Albatroz –, e acorda do descongelamento como homem livre.

“É a história da águia e da galinha: uma água criada em um galinheiro, não sabe que pode voar. Ele sempre teve, desde pequeno, a liberdade cerceada e, quando ele a recebe, não sabe o que fazer com isso”, explica.

“Eu sou um ser muito livre: gosto de pedalar, gosto de correr, gosto de nadar. Eu gosto de viver […]. Acho que [viver como escravo] seria a morte para mim, eu não saberia como viver”.

E é aí que o ator acredita que o século 19 e o 21 se encontram:

“Eu comecei a me inspirar no negro do dia de hoje, que continua tendo a sua liberdade cerceada.”

“Os conflitos sociais, a ética e a moral do século 19 para o século 21, mudaram completamente, mas mudaram para continuar a mesma coisa também. Esse choque cultural é muito bacana e ao mesmo tempo muito pertinente. Essa questão do negro, por exemplo, de continuar no mesmo lugar: Eliseu, o personagem do Milton Gonçalves é maravilhoso. Ele faz um catador de papelão, puxador de carroça, e o Dom Sabino (Edson Celulari) se pergunta que sociedade é essa onde os negros puxam carroça. É louco pensar que a gente progrediu para regredir em vários fatores. Eu achei brilhante a ideia do Mario de falar sobre isso”, analisa.

Com a história que vai contar nos próximos meses a partir do despertar de Menelau, David deposita uma esperança nas novas gerações:

“Nos dias de hoje, o que a gente mais espera é que a juventude busque autonomia.”

E ele fala isso porque é uma dessas pessoas que coloca a mão na massa atrás do que sonha:

“Eu dou cabeçada direto! Mas eu fico nessa de buscar minha autonomia não só em profissão convencional, mas artisticamente também. O que eu mais quero é montar minha produtora, começar a gravar meus curtas, daqui a pouco meus longas e seguir a vida, produzir peça. Eu sempre penso nisso”.

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