A guerra permanente promovida pelo regime chavista aos meios de comunicação independentes fez a sua derradeira vítima: fundado há 75 anos, o “El Nacional”
Redação Publicado em 14/12/2018, às 00h00 - Atualizado às 14h26
A guerra permanente promovida pelo regime chavista aos meios de comunicação independentes fez a sua derradeira vítima: fundado há 75 anos, o “El Nacional” deixa de circular nesta sexta-feira, asfixiado pela perseguição do governo, que se arrastava há pelo menos 15 anos na forma de restrições à importação de papel, processos e pesadas multas judiciais, além de violência de militantes.
Embora trágico, o desaparecimento deste último sobrevivente de circulação nacional e de linha independente venezuelano não chega a surpreender. Entre 2005 e 2017, a chamada revolução bolivariana criada por Hugo Chávez e seguida por Nicolás Maduro impôs o fechamento de 99 emissoras de rádio e de TV e tirou de circulação pelo menos 33 jornais, segundo dados do Instituto de Imprensa e Sociedade Venezuelana (IPYS).
Como observou o diretor do “El Nacional”, Miguel Henrique Otero, ao jornal espanhol ABC, o assédio aos meios independentes completa o perfil de “uma ditadura pura e dura” na qual não há divisão de poderes nem liberdade de expressão.
“Conseguiram silenciar a rádio e a televisão e fizeram desaparecer os meios impressos independentes, transformando-os em plataformas web “, explicou Otero.
Com o fim de sua edição impressa, o “El Nacional” ainda resiste, mantendo sua operação digital como testemunha de arbitrariedades que ocorrem no país, entre elas, a repressão de opositores, a manipulação política de índices e o sumiço de alimentos e medicamentos.
Mas a censura oficial também é forte na internet, com frequentes bloqueios de sites e portais e penas de 20 anos de prisão aos acusados de promover o discurso de ódio por meio destas plataformas. É o que prevê uma lei aprovada no ano passado pela Assembleia Nacional Constituinte, que tem como objetivo principal limitar a diversidade de conteúdo dos meios de comunicação tradicionais e digitais.
Jornalistas e trabalhadores de mídia fazem protesto pelas 32 rádios e duas TVs fechadas pelo governo venezuelano há um ano, em Caracas — Foto: Miguel Gutierrez / AFP
O governo utiliza como táticas de cerceamento da liberdade de expressão o bloqueio de sinais internacionais, a compra de meios de comunicação, e multas pesadas aos que se mostram críticos das políticas chavistas.
No ano passado, o CNN em espanhol teve seu sinal cortado pelo governo, dias depois de apresentar uma reportagem sobre a emissão fraudulenta de passaportes e vistos. Atualmente, só é possível assistir à programação da emissora pela internet, mediante um sinal gratuito habilitado pelo canal.
O caso mais emblemático foi a extinção da RCTV, há dez anos. Chávez decidiu não renovar a concessão da emissora mais antiga e de maior audiência no país, apesar da forte pressão de organismos internacionais.
Desde então, venezuelanos habituaram-se a constatar a mudança de linha editorial dos meios de comunicação como consequência da autocensura ou da venda para outros grupos. Foi o que aconteceu com a emissora Globovisión, em 2013, e com o centenário jornal “El Universal, no ano seguinte.
“Somos inviáveis politicamente porque estamos num país totalmente polarizado e do lado contrário de um governo todo poderoso que quer o nosso fracasso”, justificou na época, em carta pública, o fundador da Globovisión, Guillermo Zuloaga.
O fim da circulação impressa do “El Nacional” coincide, esta semana, com a escolha do trabalho de jornalistas perseguidos, presos ou mortos como personalidade de 2018, pela “Time”. A revista americana faz justiça ao classificá-los de guardiões da verdade. E na Venezuela, como resumiu Luz Mely Reyes, fundadora do site independente Effecto Cocuyo, o jornalismo livre é uma espécie em extinção.
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