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Falta oxigênio em SP pela primeira vez para tratar pacientes com Covid-19

São Paulo — Pela primeira vez desde o início da pandemia, a prefeitura de São Paulo registrou falta de oxigênio em uma unidade de Saúde. Dez pacientes que

Falta oxigênio em SP pela primeira vez para tratar pacientes com Covid-19
Falta oxigênio em SP pela primeira vez para tratar pacientes com Covid-19

Redação Publicado em 20/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h40


Desabastecimento fez com que dez pessoas fossem transferidas de UPA; secretário pediu empréstimo de cilindros à Fiesp; empresa nega falta de insumo

São Paulo — Pela primeira vez desde o início da pandemia, a prefeitura de São Paulo registrou falta de oxigênio em uma unidade de Saúde. Dez pacientes que recebiam atendimento na UPA Ermelino Matarazzo, na Zona Leste da capital paulista, tiveram que ser transferidos na noite de sexta-feira. Segundo o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, o problema ocorreu devido à falta de fornecimento pela empresa White Martins, principal produtora do insumo no país. A empresa nega que tenha havido problema no abastecimento de oxigênio.

As UPAs prestam o primeiro atendimento a pacientes com sintomas de Covid-19. Como a alta ocupação nos leitos de UTIs dos hospitais, muitas UPAs têm servido para internar pacientes que precisam de intubação, como ocorreu na unidade da Zona Leste. Em nota, a White Martins informou que tem alertado sobre “os riscos envolvidos na transformação de unidades de pronto atendimento em unidades de internação para pacientes com Covid-19 sem um planejamento adequado”.

De acordo com a empresa, em geral, unidades de saúde como as UPAs não possuem redes internas de distribuição de oxigênio com a dimensão adequada para expansão do consumo, o que agrava “a condição de fornecimento de gás para suportar ventiladores, inaladores e outras práticas terapêuticas”. Ainda segundo a empresa, “essas condições interferem na pressão necessária para alimentar os ventiladores utilizados em pacientes críticos, o que leva à percepção equivocada de que há falta de gás”.

Só na UPA de Ermelino Matarazzo, o consumo de oxigênio subiu 16 vezes, segundo a White Martins, passando de 89 metros cúbicos por dia, em dezembro de 2020, para 1.453 metros cúbicos por dia no dia 18 de março.

Segundo Aparecido, o consumo de oxigênio na rede municipal de saúde como um todo triplicou de janeiro para março. O salto foi de 55 mil metros cúbicos diários para 178 mil. Para tentar resolver isso, o município pediu ajuda para a  Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e estuda baixar um decreto para regular a distribuição de oxigênio em São Paulo:

— Seria uma medida emergencial para que seja priorizado o abastecimento de oxigênios nos hospitais públicos, já que a empresa cometeu uma falha importante e o município não pode correr esse risco — disse o secretário.

Com a demanda de oxigênio pressionada pela nova onda da pandemia, Aparecido pediu 250 cilindros emprestados para a Fiesp.

— A indústria siderúrgica, a mecânica e a estamparia contam com muitos cilindros de oxigênio. A intenção é ter uma reserva para não correr o risco de faltar. Daqui a dois meses, quando a situação melhorar, devolveremos os cilindros. Em condições normais, a gente abastecia as UPAS de oxigênio uma vez por semana. Agora, precisamos abastecer três vezes ao dia por causa do aumento do número de pacientes que chegam com Covid-19 — explicou Aparecido.

Em nota enviada ao GLOBO, a White Martins afirmou que notificou a UPA de Ermelino Matarazzo para informar previamente “qualquer incremento de consumo” de oxigênio, visando “avaliar e adequar seus equipamentos instalados (tanque e cilindros) e malha logística”. “Até o momento, a White Martins não recebeu nenhum retorno desta unidade sobre a previsão de demanda ou necessidades de acréscimo no consumo de oxigênio mesmo diante do cenário acima narrado”, informou a empresa.

“A White Martins informa que não faltou oxigênio para a UPA Ermelino Matarazzo, mesmo com o consumo do produto na unidade tendo aumentado de forma exponencial (16 vezes)”, diz a nota. “O sistema de abastecimento de oxigênio na unidade funcionou para que o produto continuasse sendo fornecido ininterruptamente, conforme as normas vigentes no país (NBR-12188 da ABNT e RDC 50 da Anvisa). No dia 19 de março de 2021, a UPA consumiu todo o produto do tanque de oxigênio (suprimento primário) e o sistema iniciou automaticamente o uso da central reserva de cilindros (suprimento secundário). Esta central reserva (dotada de duas baterias independentes de cilindros) entrou em operação como estabelece a referida norma. Durante o uso do suprimento secundário, o suprimento primário (tanque) foi abastecido, não ocorrendo falta de produto.”

O secretário contou ainda neste sábado que o Hospital Municipal Doutor Ignácio de Proença Gouveia, também conhecido como Hospital João 23, na Mooca, na Zona Leste, chegou a ficar com uma reserva de apenas uma hora de oxigênio até a empresa fazer o abastecimento.

Levantamento de Frente Nacional de Prefeitos (FNP) realizado entre na última quinta e sexta-feira indica que o oxigênio para pacientes de Covid está prestes a acabar em pelo menos 76 municípios de 15 estados.

Por O Globo

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