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Tive um tremendo bate-boca com o ChatGPT

ChatGPT - Imagem: Divulgação
ChatGPT - Imagem: Divulgação
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 26/03/2023, às 11h39


O ChatGPT é um fenômeno que está mexendo com a cabeça de muita gente. Eu mesmo já publiquei diversos textos sobre esse tema. Em todos eles mostrando os benefícios que o recurso pode trazer na vida das pessoas. É impressionante como temos a impressãode que não é uma Inteligência Artificial, mas sim uma pessoa de verdade que conversa conosco do outro lado. Você levanta um tema qualquer e ele, em poucos segundos, passa todas as informações. Em seguida você solicita ajustes e ele atende prontamente. Por exemplo, refaça o texto com linguagem mais leve, ou mais corporativa, ou mais acadêmica, ou mais bem-humorada. E ele vai refazendo até que fique satisfeito.

Tenho feito vários testes. E me surpreendo sempre. Há pouco tempo, por exemplo, levantei uma boa discussão com o programa a respeito da “Escola de Frankfurt”. Assim que recebi as informações, comentei que a tendência dele estava muito progressista. Em segundos, ele já estava incluindo uma visão mais conservadora. Até Edmund Burke, que não tinha nada ver diretamente com a história, entrou na conversa. E assim com os mais diferentes temas. É uma boa oportunidade de discutir sem que ninguém se magoe.

Desta vez, entretanto, o diálogofoi mais acirrado. Perguntei inicialmente quais foram os feitos do governo Bolsonaro. Recebi uma boa relação das ações positivas do seu governo. No final, todavia, fez ressalvas de que havia muitas controvérsias sobre a atuação dele, e que vários jornalistas e especialistas faziam críticas à sua gestão.

Pouco depois, perguntei sobre os feitos do governo Lula. Da mesma forma, recebi um bom volume de dados com os acertos do petista. Só que no final não fez nenhuma ressalva.

Antes de reclamar, esclareci: “Não quero que fale bem ou mal de Lula ou de Bolsonaro. Desejo apenas informações consistentes para que eu possa fazer comparações”. Em seguida, questionei o motivo de ele ter agido de maneira tão parcial. A resposta foi pronta. Passou a falar dos problemas de corrupção vividos na época do Mensalão e do Petrolão. Finalizou dizendo que não era uma pessoa, mas sim uma Inteligência Artificial, e que, por isso, não defendia posições ideológicas.

Insisti contestando. Disse que ele só falou dos possíveis malfeitos de Lula depois de eu ter provocado, e que no caso de Bolsonaro ele havia tomado a inciativa espontaneamente. Mais uma vez argumentou que todos os governos têm acertos e erros, e que esses pontos devem ser levados em consideração. “Ok, então, porque não apontou as informações negativas de Lula na primeira vez?”. Insisti de novo.

Aí, me surpreendi. Pediu desculpas caso a resposta não tenha sido satisfatória na primeira vez, mas que o objetivo é de informar da maneira mais correta possível. Agradeci e encerrei. Ele se colocou à disposição caso eu tivesse mais alguma dúvida.

Conclusão. O ChatGPT é bom, mas foi elaborado por pessoas que talvez tenham um viés ideológico que prevalece nas respostas. Por isso, é sempre conveniente questionar. Até mais de uma vez.

Outro ponto que também deve ser observado. As datas, nomes e locais que o programa informa, nem sempre são corretos. Há erros até grosseiros. Por exemplo, como tenho a primeira edição da obra “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, de Dale Carnegie, publicada no Brasil em 1939, para testar perguntei a data. Ele me disse que havia sido em 1948. Eu refutei dizendo que a informação que tinha era outra. Pediu desculpas e deu a data correta. Até sobre os livros que publiquei. Na relação que me informou vieram obras das quais eu nunca ouvira falar. Bastou reclamar para que corrigisse.

Portanto, vale a pena usar o ChatGPT. É um recurso fantástico! Impressiona a cada experiência. É preciso, todavia, ter certa cautela com algumas informações, já que há muitas incorreções e distorções. Imagino que agora, com os 10 bilhões de dólares que a Microsoft irá investir no aperfeiçoamento do chatbot, o nível de acerto passará a ser bem melhor. Em todo caso, vou ficar de olho nesse viés ideológico. Até aqui tem me parecido tendencioso.

Se você ainda não experimentou, prepare-se para se surpreender. Entre no openai.com e faça sua inscrição. Pergunte o que desejar e peça para ele fazer o texto que imaginar. Se estiver chegando agora nesse mundo, não vai acreditar no resultado. 

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