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Qual será o resultado das manifestações?

Manifestação. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Manifestação. - Imagem: Reprodução | Redes Sociais
Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 06/11/2022, às 08h22


A presença das pessoas nas ruas não foi liderada por um grupo específico, mas surgiu sim de forma orgânica, com objetivos difusos, sem pautas determinadas. O ponto comum entre os manifestantes é o descontentamento com o resultado das eleições e a apreensão com o que poderá ocorrer no país.

Foi surpreendente ver tanta gente se reunindo, até debaixo de chuva. Ninguém esperava que esses fatos pudessem ocorrer de maneira tão expressiva.

É preciso, no entanto, separar as manifestações. Aquelas que foram condenadas por Bolsonaro, com caminhões impedindo o direito de ir e vir dos brasileiros, devem ser mesmo rechaçadas. São ações que prejudicam o país. Em poucos dias, por exemplo, já teríamos problema com o desabastecimento de produtos essenciais.

Outras, distintas, são feitas com a participação pacífica das pessoas nas praças públicas, como tem ocorrido em boa parte do país. Na verdade, esse é o verdadeiro sentido da democracia, a possibilidade de o povo manifestar, de forma ordeira, seu apoio, ou, como nesse caso, seu descontentamento.

Os movimentos populares não podem ser desconsiderados, ou até ridicularizados, como têm sido tratados por alguns. Na linha histórica, muitos deles nasceram sem grandes pretensões, tomaram vulto e foram responsáveis por grandes transformações políticas e até troca de governos. Ou seja, não sabem muito bem como começam e, muito menos ainda, como terminam.

Eu me lembro de que boa parte dos jornalistas e comentaristas políticos torceram o nariz às manifestações de 2013. Houve até um caso emblemático. Sem refletir muito a respeito do que se passava, o comentarista da Rede globo, Arnaldo Jabor, em sua participação no Jornal Nacional, classificou os protestos que ocorriam naquela oportunidade, contra a majoração nas tarifas de ônibus, de “ignorância política”. E, se não bastasse, apimentou a crítica afirmando que os manifestantes eram todos arruaceiros, filhos da classe média, sem causa, que não precisavam chorar R$ 0,20.

Suas palavras foram metralhadas nas redes sociais. Em pouco tempo, milhões de mensagens surgiram em protesto ao que ele havia falado. A revolta foi tão intensa que de 5ª feira, dia 13, para 2ª feira, dia 17, apenas dois dias úteis após o desastrado pronunciamento, precisou fazer um mea culpa. No seu programa na rádio CBN, fez uma retratação. Disse que os protestos foram “elevados à uma condição de força política original”. Ainda que a maioria não tenha entendido o significado exato dessas palavras, percebeu que se tratava de um pedido de desculpa.

E deu no que deu. O movimento ganhou corpo e saiu de controle. Como consequência, sem que uma única vidraça fosse quebrada, algum tempo depois, Dilma Rousseff, uma governante inábil, era impichada. Os petistas alegaram o tempo todo que havia sido um golpe, com a cumplicidade do então vice-presidente Michel Temer que desejava deixar a Granja do Torto e se transferir para o Palácio da Alvorada. Resmungaram, espernearam, mas não teve jeito, Dilma foi apeada do cargo.

Por isso, menosprezar movimentos como esses que estamos acompanhando é não ter um bom retrovisor para estudar os acontecimentos de um passado tão próximo. Erram aqueles que desdenham os ensinamentos que a história nos legou.

Ninguém é obrigado a concordar com as manifestações. Essa discordância também faz parte do legítimo processo democrático. Equivocam-se, porém, aqueles que, de forma irrefletida, julgam os manifestantes como sendo vagabundos e arruaceiros.

Não sabemos qual será o desfecho dessas reivindicações. Como vimos, quase sempre não aquilatamos como terminam. Pode dar em nada, mas também pode dar em tudo. O mais importante desses acontecimentos é ter consciência de que há uma força de mobilização popular que precisa ser levada em conta e respeitada.

Independentemente do que venha a ocorrer, ainda que nenhum outro tento seja alcançado, pelo menos o novo presidente já sabe que precisará governar para todos os brasileiros. E que essa promessa de conciliação não deverá ficar apenas na retórica. A ver. Siga pelo Instagram: @polito

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