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Perdemos nas quartas de final. Mais uma vez. Oh, tristeza

Imagem: Reprodução | Vitor Jubini - Rede Gazeta
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Reinaldo Polito

por Reinaldo Polito

Publicado em 11/12/2022, às 08h16


Gostamos de zombar de algumas seleções, mas desta vez a brincadeira deve ser feita sobre nós mesmos: jogamos como nunca. Perdemos como sempre.

Esta é a sexta vez em que fomos desclassificados em uma Copa do Mundo nas quartas de final. Sim, pelo menos em saídas nessa fase da competição somos hexa. Nada a comemorar. Perdemos para a Hungria em 1954. Em 1986 para a França. Em 2006, de novo, para França. Em 2010 para a Holanda. Em 2018 para a Bélgica. Em 2022 para a Croácia.

Algumas derrotas foram doídas. Em 1986, por exemplo, além de perdermos pênalti no tempo regular de jogo, desperdiçamos as penalidades também depois do encerramento da partida, durante as cobranças finais. E sabe quem errou? Zico e Sócrates, dois dos melhores jogadores da história do futebol brasileiro.

Algumas curiosidades chegam a impressionar. Nas últimas três desclassificações, fomos derrotados com gols contra. Em 2010 diante da Holanda, perdemos por 2 X 1, com tento de Felipe Melo, de cabeça. Em 2018, enfrentando a Bélgica, perdemos pelo mesmo resultado, ficando a proeza por conta de Fernandinho, de ombro. E agora, na disputa com a Croácia, foi Marquinhos a atuar contra o próprio patrimônio, desta vez com o pé.

Assim como na maioria das vezes, ninguém imaginava que o Brasil fosse despachado do campeonato mundial tão cedo. Tite conseguiu montar um dos melhores elencos já vistos. Corrigiu um problema que sempre nos acompanhou. Ou tínhamos excelente ataque, e a defesa deixava a desejar. Ou, ao contrário, a defesa era boa, mas na frente não éramos tão operantes. Este time apresentava um equilíbrio admirável. Jogadores bons no ataque e na defesa. Sem contar que a participação de todos era solidária, quando éramos atacados, os dianteiros voltavam para ajudar na marcação. Da mesma forma, quando atacávamos, os zagueiros também iam para a frente colaborar.

Durante as últimas semanas, assisti a muitos programas esportivos internacionais. Os comentaristas estavam encantados com a nossa seleção. Quase todos diziam que éramos favoritos a faturar a taça. Comentavam que não tínhamos apenas um time de craques, mas sim que possuíamos reservas da mesma qualidade. O esquema tático continuava funcionando com a mesma competência quando o técnico fazia as substituições.

Embora o jogo com a Croácia tenha sido difícil, o goleiro deles teve de realizar muitas defesas delicadas. Sem exagero, poderíamos ter marcado pelo menos dois ou três gols. Vencíamos na prorrogação, com um golaço de Neymar, até que fomos surpreendidos com um gol inimaginável. Quase no momento de encerrar a segunda etapa da prorrogação, sofremos o empate. A única bola que chutaram em gol, entrou. Fomos para as penalidades e perdemos duas cobranças.

Depois do impacto da derrota, começou a fase de caça às bruxas. Alguns jogadores foram criticados, especialmente os defensores, que se atiraram ao ataque faltando poucos minutos para o encerramento. Na linguagem futebolística, essa era a hora de furar a bola e acabar com a disputa. As pedras mais violentas, entretanto, são atiradas no técnico Tite. Os argumentos para censurá-lo aparecem das origens mais variadas. Alguns disseram que ele fez as substituições no momento errado. Não precisava ter mudado a poucos minutos do final. Era só deixar como estava. Outros não se conformaram com o fato de Neymar, nosso melhor cobrador, não ter batido nenhuma penalidade. A explicação é que o melhor fica sempre para o final. Só que na quarta cobrança ainda havia esperança de marcar e torcer para o Alisson defender. Não agiu assim, e perdemos.

Durante um bom tempo vamos xingar, criticar e descarregar nossas frustrações. Mais à frente chegará o novo técnico. Terá a aceitação de alguns, mas não será unanimidade. Surgirão as primeiras convocações. Tirando um ou outro com idade mais avançada, os demais, quase todos muito jovens, continuarão. Em quatro anos irão surgir mais craques para compor o esquadrão. Meninos que hoje estão com 16 ou 17 anos e irão desabrochar em pouco tempo.

Venceremos as eliminatórias, como sempre. Faremos jogos amistosos, provavelmente fora do circuito europeu, como sempre. Ficaremos entusiasmados com os resultados, como sempre. E, mais uma vez, iremos para a Copa do Mundo de 2026 esperançosos, com a certeza de que desta vez o Hexa virá.

Se não vier, aguardaremos mais alguns anos para que as esperanças sejam novamente renovadas, até que os deuses do futebol nos façam justiça e possamos jogar melhor, como temos jogado, e vencer, como não temos vencido.

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